E se fosses tu a caça, caçador?
Se, vigilantes na noite calada,
te aguardassem armados os bichos,
se te esperasse o terror?

E se a tua casa fosse a coutada,
de animais muito bem organizados
para fazer das tuas tripas
a sua lauta caldeirada?

E se fosses tu a caça, caçador?
Se raposas, javalis, faisões e perdizes
festejassem, por demais felizes,
o momento do teu estertor?

E se cada romper da alvorada
trouxesse mil alegres codornizes
que treinassem no teu cu absorto
a sua pontaria afinada?

E se fosses tu a caça, caçador?
Se ursos atirassem a direito e a torto
mais pelo gosto do horror,
que pelo sabor da petiscada?

E se a tua morte fosse um desporto,
sairias ainda assim para a caçada?