E se fosses tu a caça, caçador?
Se, vigilantes na noite calada,
te aguardassem armados os bichos,
se te esperasse o terror?
E se a tua casa fosse a coutada,
de animais muito bem organizados
para fazer das tuas tripas
a sua lauta caldeirada?
E se fosses tu a caça, caçador?
Se raposas, javalis, faisões e perdizes
festejassem, por demais felizes,
o momento do teu estertor?
E se cada romper da alvorada
trouxesse mil alegres codornizes
que treinassem no teu cu absorto
a sua pontaria afinada?
E se fosses tu a caça, caçador?
Se ursos atirassem a direito e a torto
mais pelo gosto do horror,
que pelo sabor da petiscada?
E se a tua morte fosse um desporto,
sairias ainda assim para a caçada?
Relacionados
15 Out 24
Do alto da falésia.
A Arte do Haiku: O cálculo do melro, o stress da gaivota, e a paz que perdem os ateus; no alto da falésia ficas mais perto de Deus.
9 Out 24
Entre a baía e a enseada.
A Arte do Haiku: A gramática da baía, a violência da enseada, a prosa de Darwin, a lírica de Deus e a virtude do whisky, que não se altera em função do azimute.
4 Out 24
De marés e marinheiros.
A Arte do Haiku: O poeta precisa de vinho, o contratorpedeiro precisa de gelo, a traineira precisa da doca, a Mãe Natureza precisa de espectadores e os versos escrevem-se sozinhos, no alto da falésia.
20 Set 24
De corvetas e traineiras
A Arte do Haiku: As gaivotas fazem continência, as moscas sofrem de claustrofobia, as traineiras lutam com a maré, as corvetas combatem o tédio, Bach luta contra o silêncio e o haxixe tem uma coisa boa.
18 Set 24
Arde Meu País, Arde
Reduzem-se os céus a cinzas pelo calor de uma noite de Verão; incendeia-se de desgosto Portugal em Agosto, fogueira em procissão.
13 Set 24
As Cócegas de Deus.
A Arte do Haiku: Deus está com cócegas, o semáforo fica indeciso, a buganvília ressuscita e o tempo passa devagar, no alto da falésia.