Os bancos centrais passaram décadas a inundar a economia global com emissão tresloucada de moeda. Disseram-nos que esta política era necessária para estimular o crescimento económico e o emprego, mas como tantas das justificações que políticos e burocratas oferecem para as suas acções, trata-se de uma mentira descarada. Uma rápida expansão da oferta monetária é sempre economicamente destrutiva; empobrece as classes mais baixas da sociedade, exacerba as desigualdades, permite um crescimento perigoso do poder estatal e conduz as economias ao colapso. A verdadeira razão pela qual os governos e os bancos centrais favorecem políticas de inflação monetária é porque constituem um meio eficaz de transferir riqueza dos cidadãos para o Estado e para as elites.
“A inflação monetária gera não só pobreza e caos, mas também tirania governamental. Poucas políticas são mais calculadas para destruir a base existente de uma sociedade livre do que a emissão debochada da sua moeda. E poucas ferramentas, se alguma, são mais importantes para o defensor da liberdade do que um sistema monetário sólido”.
Hans F. Sennholz . Inflation, or Gold Standard
O dinheiro é um meio de troca; pode ser usado como medida de riqueza, mas as moedas em papel e os dígitos adicionados às contas bancárias não são uma forma de riqueza. A riqueza real consiste antes nos bens e serviços produzidos numa economia que podem ser utilizados para melhorar as nossas vidas. Um banco central pode duplicar a oferta de dinheiro de um dia para o outro, mas esta acção não torna uma economia mais rica. Permanecerá ainda a mesma quantidade de alimentos, casas, carros, aviões, aço, madeira, petróleo, ouro e todas as outras coisas que constituem a verdadeira prosperidade de uma economia moderna.
“A riqueza produzida num sistema económico e o valor monetário total dessa riqueza são fenómenos separados e distintos. Um pode aumentar sem o outro”.
George Reisman . Capitalism: A Treatise on Economics
Embora um aumento na oferta de dinheiro por um banco central não seja gerador de riqueza, é uma redistribuição de riqueza. Quando o dinheiro é criado, não entra na economia de forma uniforme, recebendo cada membro de uma sociedade um número igual de novos dólares, libras, pesos, euros ou ienes. O dinheiro recém-criado entra na economia através de canais específicos sob a forma de empréstimos, resgates, ou compras de activos pelo banco central. O beneficiário do novo dinheiro pode ser um governo, uma empresa, ou um certo indivíduo, mas quem quer que seja, experimenta um ganho não conquistado. Com o dinheiro recém-criado podem comprar mais bens ou serviços, ou fazer investimentos a um nível superior ao que seria possível de outra forma.
“Nunca devemos esquecer que a inflação representa sempre um ganho para quem estiver em posição de introduzir o dinheiro recém-criado no sistema económico através dos seus gastos – e uma perda correspondente para os indivíduos que constituem o resto do sistema económico”.
George Reisman . Capitalism: A Treatise on Economics
Quando o restrito grupo de destinatários de dinheiro novo o gastam, ou o investem, um dos resultados é um relativo empobrecimento do resto da sociedade, pois à medida que o novo dinheiro circula através da economia exerce uma pressão ascendente sobre os preços, já que mais dólares competem por uma oferta inalterada de bens e serviços. Os preços mais altos que resultam de uma expansão da oferta de dinheiro diminuem o poder de compra de todos os que não foram incluídos no primeiro grupo. Os destinatários do novo dinheiro transferem bens, serviços e activos para si próprios que poderiam ter sido adquiridos por outra pessoa se não fosse pelas acções do banco central, ou como Murray Rothbard explica no seu livro What Has Government Done to Our Money?
“A emissão inflaccionada de moeda não confere qualquer benefício social geral; em vez disso, redistribui a riqueza em favor dos mais ricos – à custa dos mais pobres. E a inflação é, de facto, uma corrida – para ver quem pode obter o novo dinheiro mais cedo. Os que chegam atrasados e que sofrem o prejuízo são os assalariados e outros agentes de rendimento fixo.”
Murray Rothbard . What Has Government Done to Our Money?
Como grande parte desta redistribuição de riqueza favorece o governo, esta política dos bancos centrais pode ser considerada como uma forma de tributação encoberta. Ao contrário do imposto sobre o rendimento, ou do imposto sobre a propriedade, em que o contribuinte está ciente de que o seu dinheiro está a ser confiscado, o imposto da inflação monetária é discreto. Criar dinheiro novo para financiar as despesas governamentais permite aos políticos e burocratas desviar riqueza e recursos para quem quer que escolham, mas à medida que o dinheiro se espalha pela economia exerce uma pressão ascendente sobre os preços e diminui o poder de compra de todos aqueles que não são beneficiários directos destas despesas governamentais. Como qualquer forma de tributação, portanto, a inflação monetária é uma transferência de riqueza dos cidadãos para o Estado, ou como Rothbard explica:
“A essência da inflação é o processo pelo qual um tributo oculto é imposto a grande parte da sociedade em benefício do governo.”
Murray Rothbard . O Mistério da Banca
A utilização da inflação monetária para financiar as despesas permite aos governos expandir os seus poderes muito para além dos limites que lhes seriam impostos se dependessem apenas de formas mais tradicionais de tributação. A maioria dos cidadãos não concordariam em pagar os elevados impostos necessários para financiar os governos modernos e só o fazem porque uma grande parte do imposto é encoberta e mascarada através da diminuição do poder de compra. Se os governos fossem honestos e tributassem directamente os cidadãos, a maioria das pessoas perceberia que estava a ser enganada e rapidamente deixaria de apoiar os políticos responsáveis pelo seu empobrecimento.
Algumas pessoas podem argumentar que é até benéfica a capacidade dos governos para financiarem os seus gastos através da criação de dinheiro, já que em tempos de crise os governos reclamam uma necessidade acrescida de recursos e a impressão de dinheiro para financiar estas necessidades permite-lhes agir sem terem de tomar a acção impopular de aumentar os impostos. Mas Robert Murphy contrapõe:
“A ideia de que a emissão de moeda é necessária para lidar com as crises económicas só significa realmente que os cidadãos dos países envolvidos não teriam tolerado enormes aumentos de impostos explícitos. Em vez disso, para financiar tais despesas sem precedentes, os seus governos tiveram de recorrer ao tributo oculto da inflação, onde a transferência do poder de compra dos seus povos é camuflada pelo aumento dos preços que podem ser imputados a especuladores, sindicatos, empresas gananciosas e outros vilões”.
Robert Murphy . Understanding Money Mechanics
A natureza insidiosa da inflação monetária não termina aqui, ela também conduz à desigualdade. Para além dos políticos e burocratas, os muito ricos são os maiores beneficiários da criação de dinheiro. Para compreender o fenómeno temos de reconhecer que um dos principais mecanismos pelos quais os bancos centrais expandem a oferta de dinheiro é através da supressão artificial das taxas de juro. As baixas taxas de juro levam as pessoas a pedir emprestado dinheiro recém-criado através do sistema bancário, e quem são as pessoas mais capazes de pedir emprestado este crédito barato? Os que pertencem às classes altas, uma vez que possuem activos e colaterais necessários para garantir grandes empréstimos. Com acesso a este crédito barato, os ricos podem gastá-lo na compra de imóveis, acções, obras de arte, automóveis clássicos ou de luxo, metais preciosos ou outras formas de riqueza. A elevada procura destes activos faz subir os preços e aumenta o património líquido das classes mais altas.
“Os maiores beneficiários das políticas da Reserva Federal americana no século XXI foram as elites financeiras, que conseguiram aumentar as suas fortunas com uma alavancagem barata, numa altura em que os valores dos activos eram impulsionados por dinheiro fácil. Os primeiros 1% dos agregados familiares com rendimentos mais expostos à economia de mercado estão a ultrapassar dramaticamente os restantes 99% que estão expostos à economia real”.
Edward Chancellor . O Preço do Tempo
Para além de permitir que políticos, burocratas e elites possam sugar a riqueza do resto das populações, há uma outra razão pela qual a inflação monetária é economicamente destrutiva. As baixas taxas de juro que impulsionam esta política funcionam como falsos sinais que aliciam os indivíduos a consumir em excesso e as empresas a sobre-expandir-se a um grau não justificado. O dinheiro fácil, como argumenta o economista Henry Hazlitt, é um factor de destruição económica:
“O dinheiro barato cria distorções económicas, encoraja o aumento do endividamento, tende a potenciar empreendimentos altamente especulativos e insustentáveis, excepto nas condições artificiais, de taxas de juro baixas, que lhes deram origem. Do lado da oferta, a redução artificial das taxas de juro desencoraja a parcimónia, a poupança e o investimento. Reduz a acumulação de capital”.
Henry Hazlitt . Economia Numa Única Lição
Uma analogia muito utilizada é comparar a inundação de dinheiro de uma economia, com um vício em drogas. Quando um toxicodependente usa uma droga, está em euforia, mas quando a droga lhe é retirada, o seu corpo e a sua mente colapsam. Para uma economia em expansão, a droga é o dinheiro abundante, alimentado pelas baixas taxas de juro. Mas quando as taxas de juro sobem, e o dinheiro deixa de fluir através das artérias da economia, segue-se o colapso. Esta analogia pode ser levada mais longe: para um toxicodependente é necessário uma desintoxicação que o devolva a um estado de sobriedade, assim como o crash económico é necessário para conduzir uma economia à sanidade. O crash desintoxica a economia, eliminando os maus investimentos do sistema e transfere capital para longe de usos ineficientes e de esforços empresariais insustentáveis, ou como Rothbard explica:
“A fase de depressão é na realidade a fase de recuperação. A maioria das pessoas ficaria feliz em manter o período de boom, onde os ganhos inflacionários são visíveis e as perdas são escondidas e obscuras. As fases de que as pessoas se queixam são a crise e a depressão. Mas estes últimos períodos, devemos ser claros, não causam os problemas. Os problemas ocorrem durante o boom, quando os investimentos são errados e as distorções de mercado uma constante; a fase de crise-depressão é um ciclo de cura.”
Murray Rothbard . Homem, Economia e Estado com Poder e Mercado
Há décadas que os bancos centrais inundam o sistema económico com dinheiro fácil. Esta tem sido uma bênção para o crescimento dos Estados, tem enriquecido as classes altas e tem criado bolhas no preço de activos como acções e bens imobiliários. Mas no processo, empobreceu toda a gente da classe média para baixo, e estamos agora perante a ameaça de uma explosão acelerada dos preços ao consumidor. Os bancos centrais estão a tentar dominar estes aumentos, subindo as taxas de juro e apertando as condições de crédito. Mas com as dívidas brutais dos sistemas financeiros, a nível individual, empresarial e governamental, um aumento das taxas de juro ameaça fazer colapsar o castelo de cartas sobre o qual está construída grande parte da economia global. A remoção da droga do dinheiro fácil está a levar-nos ao colapso. Será que os bancos centrais continuarão a lutar contra o aumento dos preços ao consumidor com taxas de juro mais elevadas e permitirão o um crash curativo? Ou irão seguir o padrão das últimas décadas e, ao primeiro sinal de um colapso grave dos preços das acções ou dos imóveis, reduzir novamente as taxas de juro? Se escolherem este último curso, estarão a brincar com o fogo, pois, como explica Ludwig von Mises:
“Se a opinião pública estiver convencida de que o aumento da quantidade de dinheiro continuará sem fim, e que consequentemente os preços de todos os bens e serviços não deixarão de subir, todos se tornam ansiosos por comprar o máximo possível e restringir a sua posse de dinheiro a um mínimo. Todos estarão ansiosos por trocar o seu dinheiro por bens reais, não importa se necessários ou não, não importa quanto dinheiro têm de pagar por eles. Em muito pouco tempo aquilo que era usado como dinheiro já não será assim usado. Ninguém aceitará trocar seja o que for por dinheiro.”
Ludwig von Mises . A Acção Humana
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