Como o Contracultura já reportou aqui e aqui, a situação energética na Europa oscila entre o caricato e o dramático.

Graças à crise no sector decorrente das catastróficas políticas Net Zero, às sanções russas, às insuficientes reservas de gás e ao desinvestimento em energia nuclear, as famílias britânicas vão pagar em 2022, em média, 3.500 libras por ano (4.100 euros por ano, 350 euros por mês) em contas de electricidade e gás. Prevê-se que em 2023 vão pagar 6,500 libras por ano (7700 euros por ano, 640 euros por mês), sendo que este cálculo não inclui os custos relacionados com a mobilidade (gasolina, gasóleo, preço dos transportes).

Acresce que a rede energética inglesa pode muito bem entrar em colapso no próximo inverno, porque mesmo a preços astronómicos, não existe capacidade instalada para fazer frente às necessidades da população e da actividade económica. Metade das famílias britânicas vão decair para um nível de “pobreza energética” nessa altura.

Há umas semanas atrás, o Deutsche Bank previu que um número crescente de lares alemães iria utilizar lenha para aquecimento, dada a catastrófica subida dos preços do gás e da electricidade na Europa, uma previsão que já está a revelar o seu acerto: as pesquisas em alemão no Google relacionadas com a procura de madeira para lareiras (“brennholz”) explodiram nos últimos tempos:

 

Pesquisas originadas no termo “brennholz” (lenha) no Google. O índice 100 representa o pico de popularidade para qualquer pesquisa neste motor de busca.

 

Mas enquanto os alemães continuam a “procurar” combustíveis no reino virtual, para inúmeros polacos a procura é bem real.

De acordo com a Reuters, e apesar da Polónia estar ainda sob temperaturas estivais, centenas de carros e camiões já fazem fila na mina de carvão Lubelski Wegiel Bogdanka, aguardando dias e noites para se abastecerem de combustível para aquecimento, antes que chegue o Inverno, em filas que lembram os tempos do regime comunista. Neste caso, os amanhãs que cantam passaram a amanhãs que gelam.

Um reformado de Swidnik, a cerca de 30 km da mina no leste da Polónia, que se dirigiu Bogdanka na esperança de comprar várias toneladas de carvão para si e para a sua família, testemunha que:

“Hoje foram instalados sanitários, mas não há água corrente. Isto está para além da imaginação, as pessoas estão a dormir nos seus carros. Lembro-me dos tempos do comunismo, mas não me passou pela cabeça que pudéssemos regressar a algo ainda pior”.

 

4 milhões de famílias polacas dependem do carvão para aquecimento e enfrentam agora escassez e subida de preços, depois de a Polónia e a União Europeia terem imposto um embargo ao carvão russo na sequência da invasão da Ucrânia por Moscovo, em Fevereiro. Estas famílias estão provavelmente em melhor situação do que as que dependem do gás natural, cujo preço está a aumentar 10 a 20% todos os dias, mas isso serve de fraca consolação quando os cidadãos são obrigados a permanecer vários dias nos seus carros para comprar combustível, mesmo que a preços mais reduzidos.

A Polónia produz anualmente mais de 50 milhões de toneladas de carvão nas suas próprias minas, mas o carvão importado, grande parte do qual provinha da Rússia, é um produto de consumo doméstico devido aos preços competitivos e ao facto de ser vendido em blocos mais adequados para uso nos lares. A crescente procura forçou Bogdanka e outras minas controladas pelo Estado a racionar as vendas. Os limites estão em vigor para evitar açambarcamento e exploração no mercado negro.

Como todas as minas de carvão polacas, Bogdanka vende normalmente a maior parte do carvão que produz às centrais eléctricas. No ano passado, vendeu menos de 1% da sua produção a clientes individuais, não possuindo assim condições logísticas para a venda retalhista de combustível.

Lukasz Horbacz, chefe da Câmara de Comércio de Carvão Polaca, disse em declarações à Reuters que o declínio das importações russas começou logo em Janeiro deste ano, quando Moscovo começou a utilizar os carris ferroviários para o transporte militar, mas que

“A principal razão para a escassez é o embargo que entrou em vigor. Virou o mercado do avesso”

Um porta-voz dos Weglokoks, um comerciante de carvão estatal encarregado pelo governo de impulsionar as importações de outros países, recusou-se a comentar, enquanto o ministério do clima não mostrou disponibilidade para declarações à imprensa. Funcionários do governo disseram repetidamente que a Polónia teria combustível suficiente para satisfazer a procura.

Nos últimos anos, a Polónia, que usa carvão para produzir cerca de 80% da sua electricidade, tem sido o país mais criticado e pressionado pela UE, dadas as suas políticas netzero. Mas a produção de carvão tem vindo a diminuir constantemente à medida que o custo da exploração mineira a níveis mais profundos aumenta. O consumo de carvão tem-se mantido estável, provocando um aumento gradual das importações. Em 2021, a Polónia importou 12 milhões de toneladas de carvão, das quais 8 milhões de toneladas vieram da Rússia e foram utilizadas por residências e pequenas centrais de aquecimento.

Em Julho deste ano, a Polónia ordenou a duas empresas controladas pelo Estado que importassem vários milhões de toneladas do combustível de outras fontes, incluindo a Indonésia, a Colômbia e países africanos, e introduziu subsídios para os proprietários de casas que enfrentam uma duplicação ou triplicação dos preços do carvão em relação ao Inverno passado. Mas calcula-se que até 60% daqueles que utilizam carvão para aquecimento podem ser afectados pela pobreza energética.

Entretanto, em França, Emmanuel Macron promete, numa atitude inédita para um político, um futuro miserável aos franceses:

 


Defensor de métodos draconianos de controle da opinião e discípulo convicto do World Economic Forum, a liberdade de que fala o presidente francês deve ser a liberdade que ele tem em empobrecer os cidadãos da república que dirige. Porque se quisermos ser coerentes, não poder ser outra.

Para reforçar as piores expectativas económicas e socais que recaem sobre o futuro imediato dos europeus, em Itália os cidadãos já estão a provar as delícias do Great Reset:

 

 

A Europa enfiou-se numa espiral de declínio económico que é auto-infligida. Mas os seus dirigentes políticos, primeiros responsáveis pelo desastre, parecem satisfeitos com o rumo tomado. Veremos este Inverno se os seus eleitores têm a mesma opinião.