Depois de atravessares todas as portas
e de perceberes que, afinal,
por todas elas entraste
quando julgavas ter saído,
que te foste encerrando
quando te imaginavas mais livre.
Depois de atravessares todas as portas
e de perceberes que por todas elas saíste
quando julgavas ter entrado,
que te foste libertando
quando te supunhas mais cativo.
Depois de atravessares todas as portas
e de perceberes que todas elas
foram por ti inventadas,
que nunca entraste nem saíste
por porta alguma.
Que não há portas por onde entrar ou sair.
Que nunca foste livre.
Que nunca foste escravo.
Depois de atravessares todas as portas
e de olhares nos olhos
a solidão do limite,
onde vais agora?
O que há de ti?
Alburneo
___________
Mais poemas de Alburneo no ContraCultura.
Relacionados
21 Mar 25
Árvores Dendrites
A Árvore dendrite tolera os pássaros como as crianças toleram os cães. Um poema de Alburneo.
11 Mar 25
Haikus da baía praia
A arte do haiku: Um dia perfeito, uma conversa com Neptuno, uma omelete civilizada e uma vila simpática, nativos à parte.
19 Fev 25
Haikus que se escrevem sozinhos
A arte do haiku: A traineira incomoda o scoth do comandante, a motorizada berra sobre o silêncio e a soma dos anos produz o reumático (mas não te queixes porque Deus compensa-te com versos que se escrevem sozinhos).
11 Fev 25
Trova dos Deuses Astronautas
Vêm lá dos confins do espaço, em busca dos desertos americanos. Enlatados em discos d'aço, vão chegando os marcianos.
7 Fev 25
As mulheres
Sobre as mulheres que carregam o sol e que da serra trazem o pão ao colo do tempo. Um poema de Alburneo.