O paralelismo é inevitável: com a mesma cara de pau e insolente imunidade contra o ridículo que Keir Starmer e Giorgia Meloni se encontraram em Roma esta semana com o alegado fim de combater os fluxos de imigração ilegal nos seus países, os líderes do G20 estiveram na semana passada reunidos no Brasil para combater a ‘desinformação’ e promover a censura.
Hora errada, lugar errado, grupo errado: Há aqui camadas sobre camadas de ironia.
Numa altura em que a democracia brasileira cai sob o jugo totalitário de Alexandre de Moraes e da sua companhia circense de tiranetes, que num exercício grotesco de autoritarismo censório acabaram por interditar a única plataforma global onde o livre discurso é mais ou menos consagrado, talvez fosse de bom gosto evitar o país, já que o tema desta sinistra reunião é a ‘desinformação’ e para esta gente só há uma maneira de combater esse alegado flagelo: através da obliteração da liberdade de expressão e da criminalização do discurso.
Mas qual quê.
E ninguém nos G20 escondeu de que lado está na batalha entre um governo dado à censura online e em claro desespero para controlar as narrativas políticas e mediáticas, versus uma grande plataforma social que rompeu com os seus pares como um executor obediente das volições repressivas de regimes de inspiração totalitária.
Numa declaração emitida no final do evento, fala-se da necessidade de as plataformas online se colocarem “em linha com as políticas relevantes e os quadros legais aplicáveis” (doublespeak para a conformidade às narrativas oficiais e a obliteração da dissidência), da responsabilização dessas plataformas por alegados crimes que sejam cometidos através delas (doublespeak para “o Durov já foi, é a vez de Musk”), da necessária regulamentação das tecnologias de inteligência artificial (doublespeak para “nem pensem em usar IA como instrumento de combate político”) e da ameaça às democracias que consiste na ‘desinformação’ (doublespeak que traduz a ambição monopolista sobre a mentira).
Será preciso dizer que facínoras dos direitos constitucionais ou consuetudinários mais elementares dos povos, como Keir Starmer, Justin Trudeau ou Artur de Moraes, executam mandatos que são completamente desviados dos “quadros legais aplicáveis” nos seus próprios países?
E sendo certo que os estados membros do G20, em conluio com as suas máquinas de propaganda da imprensa corporativa, são os grandes responsáveis pela era da pós-verdade em que vivemos, é de facto espantoso que esta gente tenha a desvergonha de subscrever uma declaração assim infame, num país assim amordaçado.
O G20 afirmar-se como inimigo da desinformação é o equivalente metafórico de um cartel de traficantes de cocaína querer passar por organização filantrópica.
Não é por acaso que as autoridades brasileiras adoraram esta conferência de mafiosos: O secretário da presidência para a política digital do país, João Brant, sugeriu em declarações à imprensa que o momento foi nada mais nada menos que histórico, afirmando pomposamente:
“É a primeira vez na história do G20 que o grupo reconhece o problema da desinformação e exige transparência e responsabilidade das plataformas digitais”.
A apologia da censura, o elogio do autoritarismo de estado, a glorificação da tirania, a institucionalização do crime do pensamento: tudo à mostra, em Setembro de 2024, no município de Maceió, estado de Alagoas, Brasil.
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