Estás tão perto do fim
– não do teu fim, que é irrelevante, mas da aritmética de Dante –
que quase podes saborear a glória
de seres letra no último parágrafo da História.
Estás tão perto do fim,
que consegues adivinhar o cheiro que exala o átomo de hidrogénio inteiro
,
quando no exacto momento do armagedão
se desfaz em carvão.
Estás tão perto do fim,
que pressentes já as baratas e os jacarés, perpétuas cordilheiras e marés
que vão ondular por um novo destino,
livres do teu labor luciferino.
Estás tão perto do fim,
que até o Apocalipse de João passa por noticiário de televisão.
Escreveram os antigos sobre a ira de Deus, vão conhecê-la os modernos:
Sodoma e Gomorra por toda a parte dos infernos.
Relacionados
Haikus da baía praia
A arte do haiku: Um dia perfeito, uma conversa com Neptuno, uma omelete civilizada e uma vila simpática, nativos à parte.
Haikus que se escrevem sozinhos
A arte do haiku: A traineira incomoda o scoth do comandante, a motorizada berra sobre o silêncio e a soma dos anos produz o reumático (mas não te queixes porque Deus compensa-te com versos que se escrevem sozinhos).
Trova dos Deuses Astronautas
Vêm lá dos confins do espaço, em busca dos desertos americanos. Enlatados em discos d'aço, vão chegando os marcianos.
As mulheres
Sobre as mulheres que carregam o sol e que da serra trazem o pão ao colo do tempo. Um poema de Alburneo.
Aceita o Ar
Aceita a vida, o destino, a morte. Aceita o ar. Um poema de Alburneo.
O Homem Alpendre
A pedra misturou-se por instantes infinitesimais com as laranjas suas primas para matarem no Aleph que sobrou a saudade impossível. Um poema de Alburneo.