O Homem alpendre
ficou por minutos sozinho
em frente à laranjeira onde havia
duas ou três laranjas em sobressalto.
Soltou do bolso
a pedra redonda da praia.
Elevou-a no ar frio,
exterior ao muito íntimo mundo da algibeira,
e soltou-a, com um pequeno impulso,
ao nível dos olhos.
A pedra, redonda e muito mineral
dentro do sossego de pedra,
misturou-se por instantes infinitesimais
com as laranjas suas primas
e o Homem alpendre quase jurou
que as ouviu falarem-se.
Matarem no Aleph que sobrou
a saudade impossível.
De quem se não via há muito.
Alburneo
___________
Mais poemas de Alburneo no ContraCultura.
Relacionados
11 Nov 25
Haikus de um lugar no inferno
A arte do haiku: no fim da tempestade permaneces cristão, mesmo quando sabes que vais ser condenado na mesma. Salva-te, por enquanto, o gato que salvaste.
30 Out 25
Haikus da Praia de S. João
A arte do haiku: rumas em direcção à morte com expectativas de odisseia, mas a vinte minutos de Lisboa, com o Tejo pelas costas e o Atlântico pela frente, já não estás assim tão a leste do paraíso.
18 Out 25
A Criança Mágica
Contam-se as estrelas devagarinho. O número a que se chegar quando só faltarem as estrelas que há por contar é a idade da Criança Mágica. Uma fábula de Alburneo.
8 Out 25
Haikus do fundo da noite
A arte do haiku: a Marinha faz uma espécie de turismo, o grilo faz cócegas ao silêncio e a lua faz concorrência ao sol. Ao terceiro scotch, a baía ganha virtude.
1 Out 25
África a Contas.
Mais pesado que o jugo colonial antigo, reina o capital, global e sublime inimigo; guardai planos, magia fria, e deixai África criar seu novo dia! Um poema de António Justo.
5 Set 25
Cemitério da Ajuda
Aprender hei-de jamais como sobreviver aos funerais. O que é que se diz, o que é que se faz? Que me diga um infeliz que roupa é que se traz!






