A desobediência civil contra a introdução de centros de asilo para imigrantes e refugiados na República da Irlanda continua a ganhar força. O subúrbio operário de Coolock, no norte de Dublin, foi palco de uma série de ataques incendiários devido à transformação de uma antiga fábrica de tintas num centro de asilo.

 

 

A polícia de choque foi também enviada para o reduto republicano de Dundalk, onde a comunidade se manifestou sob o lema “Dundalk diz não” contra os planos de conversão de um antigo orfanato em alojamento para 260 ucranianos deslocados.

Em ambos os casos, centenas de habitantes locais correram o risco de ser presos para manifestar a sua preocupação pelo facto do Estado irlandês estar a dar prioridade ao bem-estar dos imigrantes em detrimento do seu próprio bem-estar.

 

 

A hostilidade local à política oficial de “fronteiras abertas” dos políticos irlandeses no poder ilustra o fosso entre os dois lados – com o governo a acusar continuamente os habitantes locais de racismo e comportamento fora da lei por protestarem contra a crise na habitação ou a criminalidade dos imigrantes.

O protesto em Dundalk contou com oradores locais, incluindo o vereador Malachy Steenson, um político municipal nacionalista recentemente eleito. Este declarou que Dundalk, e o país em geral, estavam a viver “tempos revolucionários” – sugerindo que a agitação anti-imigração está a ter significativo impacto político em toda a República.

Dundalk é um território tradicionalmente dominado pelo Sinn Féin – o partido de oposição de esquerda da Irlanda – e de militância republicana, devido à sua proximidade com a Irlanda do Norte.

Em Dublin, as autoridades foram forçadas a tomar a decisão embaraçosa de abandonar efectivamente um potencial centro de asilo depois de pelo menos cinco ataques incendiários distintos. Segundo consta, os habitantes locais saíram repetidamente à rua para festejar sempre que se via fumo a sair das instalações em chamas. Os acampamentos de refugiados somalis também foram atacados no centro da cidade de Dublin.

Os protestos crescentes estão a forçar o Governo irlandês a mudar de táctica relativamente à sua política disfuncional de asilo, prometendo deixar de utilizar hotéis convertidos e alojamentos locais e passar a colocar os requerentes de protecção internacional em blocos de escritórios desactivados.

 

 

Porém, a instabilidade social que se vive no país não será aplacada com estes cosméticos ajustes nas políticas de alojamento de imigrantes, já que estas não escondem a desconexão entre governantes e governados sobre a questão da migração em massa.

O serviço de polícia An Garda Síochána – que alegou que os protestos contra os imigrantes eram uma táctica de diversão para a prossecução de ataques incendiários (sem explicar as causas alternativas desses ataques) – é acusado de não fornecer recursos adequados aos agentes da linha da frente. Um sargento reformado da Garda queixou-se na Rádio Nacional que os efectivos da força se sentiam como “cordeiros para o abate” devido à baixa moral e ao subfinanciamento.

A imprensa irlandesa alertou para a circunstância dos dados pessoais dos agentes da polícia estarem a ser divulgados online. Estas últimas humilhações seguem-se ao facto de o Governo de Dublin ter sido forçado a importar canhões de água de Belfast em resposta aos tumultos contra a imigração que abalaram Dublin em Novembro passado.

Enquanto prossegue a histeria contra a ascensão da chamada extrema-direita, os meios de comunicação irlandeses divulgaram a notícia de uma alegada conspiração para assassinar o antigo Primeiro-Ministro irlandês Leo Varadkar, envolvendo pelo menos um membro das forças de segurança do país. Por outro lado, foi detido um homem que publicou um vídeo nas redes sociais, que se tornou viral, em que ameaçava matar a líder da oposição do Sinn Féin, Mary Lou McDonald.

Como o Contra noticiou, o governo irlandês tem experimentado também oposição à sua política de alojamento de imigrantes em áreas rurais. Um dos mais recentes planos dessa estratégia consiste em transferir 280 requerentes de asilo para Dundrum, uma aldeia no condado de Tipperary com uma população de apenas 165 habitantes.

A mudança provocou a indignação da comunidade local, que se envolveu na polémica sobre o novo centro de refugiados. Se todos os imigrantes forem colocados como planeado, a população imigrante será 70% superior à população local.

Planos semelhantes deram origem a protestos e motins generalizados no subúrbio de Coolock, em Dublin, tendo os habitantes locais incendiado equipamentos de construção e lutado com a polícia.

Depois dos motins em Dublin, desencadeados em resposta ao esfaqueamento de várias crianças por um imigrante argelino, o governo decidiu aumentar a repressão sobre a liberdade de expressão, enquanto um vereador da autarquia da capital irlandesa, Azad Talukder (tão irlandês como o Taj Mahal) afirmou que os desordeiros de Dublin deviam ser “baleados na cabeça” ou espancados até à morte.