Ah, a selva amazônica das redes sociais brasileiras, um território tão perigoso que tanto o Supremo Tribunal Federal (STF) quanto o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se armaram até os dentes com ordens de bloqueio de contas e remoção de postagens. O número dessas ordens? Um mistério melhor guardado que a receita da caipirinha perfeita!
Mas graças à generosidade voyeurística dos nossos heróis da privacidade da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, finalmente conseguimos uma “espiadinha” através dessa cortina pesada. E sim, as revelações são tão suculentas quanto um churrasco no fim de semana.
O alvo dessas curiosidades legais é, ninguém menos que, Alexandre de Moraes, o verdadeiro Indiana Jones do Judiciário tropical, combatendo bravamente entre processos mais secretos que os arquivos da CIA. Documentos variam de 2021 até aquele fresquinho de 2024, que mal saiu do forno.
A ironia não poderia ser mais picante: tudo veio à luz graças ao X (antigo Twitter) de Elon Musk, cujos embates com o TSE e STF poderiam muito bem ser roteiro de novela das oito. E claro, com uma pitada de conspiração, sugere-se que não foi apenas um favor desinteressado dos políticos americanos em divulgar essa montanha de papéis.
A cereja do bolo é o uso desses documentos controversos para pintar um quadro apocalíptico da liberdade de expressão sob a possível nova era Biden. Drama digno de Oscar, não?
Olhemos então para essas ordens misteriosas que demandam o apagão de contas e postagens em tempo recorde, sob ameaças de multas que fariam qualquer um pensar duas vezes antes de publicar até mesmo uma receita de bolo. A demanda por sigilo? Um show à parte, garantindo que o público jamais conheça o número exato de vozes silenciadas por esse eficaz sistema judiciário-absurdo.
Mas espera, há mais! O Estado censório brasileiro não tira férias, nem mesmo fora do período eleitoral, graças à visão do TSE que a temporada de eleições é um evento contínuo – um reality show sem fim.
As acusações? Vamos de ameaças de golpe de Estado por postagens que provavelmente não fariam nem o mais fervoroso ativista deixar o conforto do sofá. E enquanto isso, o STF bate o martelo em decisões que variam do questionável ao risível, mostrando uma consistência tão sólida quanto um pudim em dia de calor.
Nesse festival de arbitrariedades, os admiráveis deputados americanos ganham o papel de desmascaradores, mostrando que por trás das cortinas do segredo, a justiça brasileira navega por águas tão turvas que nem mesmo o mais sábio dos juristas poderia discernir entre o que é uma ameaça real e o que é apenas lero-lero online.
E no fim das contas, estamos mesmo debatendo sobre liberdade de expressão, ou apenas assistindo a uma peça de teatro absurda, onde frases de efeito como “Liberdade de expressão não é liberdade de agressão!” tentam se passar por uma política consistente?
Parece que a cortina ainda esconde muito mais do que revela, e a ironia desse drama todo poderia muito bem ser a próxima grande exportação brasileira. Afivelem os cintos, a novela judiciária do Brasil promete ainda muitos capítulos.
MARCOS PAULO CANDELORO
__________
Marcos Paulo Candeloro é graduado em História (USP – Brasil), pós-graduado em Ciências Políticas (Columbia University – EUA) e especialista em Gestão Pública Inovativa (UFSCAR – Brasil). Aluno do professor Olavo de Carvalho desde 2011. É professor, jornalista e analista político. Escreve em português do Brasil.
As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.
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