É difícil encontrar na história contemporânea um político que tenha traído tão radicalmente o seu mandato eleitoral como Giorgia Meloni, mesmo considerando Boris Johnson, o que não é dizer pouco dada a trajectória do crápula inglês.

A primeira-ministra italiana tem de facto sido notada como um parceiro fundamental para as elites da União Europeia (UE), abdicando totalmente da filosofia populista-nacionalista-cristã que a catapultou para o poder. Meloni está até a trabalhar activamente para moderar os instintos conservadores de outros líderes europeus. Se é verdade que fez campanha como uma nacionalista anti-UE, tem governado como uma globalista dos sete costados.

Quando o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, prometeu bloquear uma nova ronda de financiamento da UE para a Ucrânia no final do mês passado, Meloni interveio e conseguiu que o líder húngaro recuasse. Os dois encontraram-se para beber um copo pouco antes da cimeira da União Europeia, onde se acreditava que Orbán iria tentar vetar o fundo da UE para a Ucrânia. O húngaro disse a Meloni que achava que os outros líderes europeus o tinham escolhido como alvo preferencial das suas críticas por causa da sua adesão ao populismo político e ao nacionalismo húngaro. Meloni mostrou-se compreensiva para com Orbán, dizendo-lhe que já tinha sido vítima de um ostracismo semelhante.

Meloni, no entanto, encorajou Orbán a trabalhar dentro da UE – insistindo que a direita política europeia poderia atingir os seus objectivos dentro do grupo e não fora dele. Esta estratégia conduziu a décadas de desilusão para o Reino Unido, que votou a favor da saída da União Europeia depois de não ter conseguido nenhuma reforma durante mais de 20 anos. Ainda assim, Orbán, que também acaba por desiludir, deixou cair a sua oposição ao plano de financiamento da Ucrânia no início da cimeira, a 1 de Fevereiro.

E isto depois de ter sido aviltado e chantageado por Bruxelas, que ameaçou levar a Hungria à destituição financeira, se votasse contra o apoio ao regime Zelensky.

A elite política europeia vê cada vez mais Meloni como alguém que pode ajudar a difundir e a evitar potenciais conflitos políticos com os partidos populistas, em crescendo no velho continente. Logo que acedeu ao poder, a vira casacas começou a trair o mandato pelo qual foi eleita, e é agora uma activa aliada dos poderes instituídos no que diz respeito às políticas fronteiriças, às políticas ambientais, à guerra na Ucrânia, ao conflito do Médio Oriente e assim por diante.

Durante o ano e meio de duração do seu governo, a Itália bateu o recorde de entradas de imigrantes ilegais no país.

Vergonhoso.