John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança da Casa Branca

 

Declarações feitas pelo porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, nos noticiários de domingo passado foram aproveitadas pelo Kremlin como uma demonstração clara de que os EUA “confessaram crimes de guerra”.

Numa entrevista à ABC, Kirby defendeu a entrega de bombas de fragmentação à Ucrânia, que são proibidas por mais de 120 países por serem “indiscriminadas” e, portanto, mais propensas a resultar em mortes de civis. A certa altura, Kirby disse à ABC que

“todos podemos concordar que mais civis foram e continuarão a ser mortos pelas forças russas… do que provavelmente serão feridos pelo uso dessas munições de fragmentação”.

A lógica do governo americano tem sido a de que as munições de fragmentação conduzem as forças armadas da Ucrânia para uma maior probabilidade de cometerem crimes de guerra – mas que o facto é legitimado moralmente porque a Rússia também os comete.

Por seu lado, o Kremlin destaca a admissão de Kirby de que alguns civis “provavelmente serão feridos” por bombas de fragmentação fornecidas pelos EUA. O embaixador da Rússia em Washington, Anatoly Antonov, “tomou nota” da confissão de Kirby:

“Tomamos nota das declarações do Director de Comunicações Estratégicas do NSC, John Kirby, sobre o fornecimento de munições de fragmentação para a Ucrânia. O oficial confessou de facto que os Estados Unidos estão a cometer crimes de guerra no conflito ucraniano. Ele afirmou abertamente que os civis seriam vítimas de  armas de fragmentação. De acordo com a visão pervertida do representante da Casa Branca, isso causa menos danos do que as acções da Rússia”.

 

 

Vários dos principais aliados ocidentais opuseram-se entretanto à decisão de Washington, como a Alemanha, o Reino Unido, o Canadá, a Áustria e a Espanha, expressando sua desaprovação. Mas Kirby e o governo americano enfatizaram que se trata de “manter a Ucrânia na luta”.

Kirby, na entrevista à ABC, admitiu que a contra-ofensiva da Ucrânia está a progredir mais devagar do que o esperado e que a taxa de fogo de artilharia é maior do que o Ocidente pode acompanhar. Kirby também admitiu o maior risco de crianças e civis serem feridos por munições não detonadas, efeito colateral típico do uso de munições de fragmentação.

“Estamos muito atentos às preocupações sobre vítimas civis e artefactos não detonados que podem ferir civis ou crianças, é claro que estamos atentos a isso.”

Kirby tentou justificar as acções do seu governo dizendo que os EUA se juntariam à Ucrânia nos esforços de desminagem “quando as condições de guerra permitirem”. Essencialmente, minimizou as críticas de que mais civis, ucranianos em particular, poderiam ser severamente mutilados ou mortos por estas munições.

 

 

Na semana passada, no mesmo dia em que foi amplamente divulgado que o governo dos EUA iria puxar o gatilho das bombas de fragmentação, a Human Rights Watch (HRW) divulgou um relatório contundente, em que afirmava:

“As forças ucranianas usaram munições de fragmentação que causaram mortes e ferimentos graves em civis. As forças russas usaram extensivamente essas munições, causando muitas mortes de civis e ferimentos graves. As munições de fragmentação usadas pela Rússia e pela Ucrânia fazem vítimas civis agora e deixarão pequenas bombas para trás que continuarão a fazê-lo por muitos anos. Ambos os lados devem parar imediatamente de usar estas munições e os EUA não devem transferi-las para a Ucrânia.”

 

 

Outros grupos independentes e activistas alertaram que a decisão marca uma escalada que vai trazer acrescidos perigos para os civis agora e no futuro. Os cépticos da política da NATO acusaram a Casa Branca e os aliados ocidentais de tentar enfraquecer a Rússia “lutando até o último ucraniano” enquanto sabotavam as negociações de paz. As palavras de Kirby reforçam essa tese.