O recém-eleito Papa Leão XIV é amplamente considerado como uma figura cautelosa – mas não tem sido tímido nos últimos anos em falar sobre questões polémicas, desde o ensino da ideologia de género nas escolas às alterações climáticas.
Conhecido como Cardeal Robert Francis Prevost antes da sua eleição, na quinta-feira, como líder da Igreja Católica Romana, as opiniões do nativo de Chicago, de 69 anos, sobre vários temas polémicos podem ser recolhidas a partir de publicações anteriores nas redes sociais, comentários públicos e entrevistas a meios de comunicação social.
O Contra faz um breve apanhado dessas declarações sobre alguns dos temas mais prementes que têm agitado a Igreja católica.
Alterações climáticas
Tal como o seu antecessor imediato, Francisco, Leão XIV acredita firmemente que os fiéis têm a responsabilidade de cuidar do planeta e parece que sobre este tema é um progressista impenitente.
O então presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina e prefeito do Dicastério para os Bispos defendeu, em Novembro do ano passado, que é tempo de passar “das palavras à acção” sobre a “crise ambiental”.
O “domínio sobre a natureza” não deve tornar-se ‘tirânico’, sublinhou Prevost, argumentando que a relação da humanidade com o ambiente deve ser uma “relação de reciprocidade”.
Prevost advertiu ainda contra os impactos ambientais “nocivos” do desenvolvimento tecnológico e destacou a instalação de painéis solares e a utilização de veículos eléctricos pelo Vaticano.
Ideologia de género e homossexualidade
Enquanto Francisco disse aos jornalistas: “Quem sou eu para julgar?” os homossexuais e afirmou que estes “devem ser integrados na sociedade”, Leão XIV poderá ser menos complacente.
Num discurso de 2012 aos bispos, Prevost acusou os meios de comunicação social e a cultura popular de encorajar “a simpatia por crenças e práticas que estão em desacordo com o Evangelho”.
Entre essas “crenças e práticas”, Prevost citou o “estilo de vida homossexual” e as “famílias alternativas compostas por parceiros do mesmo sexo e os seus filhos adoptados”.
Enquanto bispo de Chiclayo, no noroeste do Peru, Prevost opôs-se a uma iniciativa governamental para promover ensinamentos sobre ideologia de género nas escolas, afirmando na altura aos meios de comunicação locais:
“A promoção da ideologia de género é confusa, porque procura criar géneros que não existem.”
Aborto
Nas redes sociais, Prevost tem manifestado um forte apoio à posição anti-aborto da Igreja Católica. Em 2015, publicou uma fotografia da manifestação Marcha pela Vida em Chiclayo, exortando os seus seguidores:
“Vamos defender a vida humana em todos os momentos!”
Prevost também partilhou um artigo de 2017 da Catholic News Agency sobre o cardeal arcebispo de Nova Iorque, Timothy Dolan, que condenou o aborto numa missa antes da manifestação da Marcha pela Vida em Washington, DC.
Na sua homilia, Dolan exortou os católicos a “reivindicar a crença de que o útero da mãe é o santuário primordial, onde um bebé indefeso, inocente, frágil e minúsculo está seguro, nutrido e protegido”.
Pena de morte
Prevost expressou oposição à pena capital, reflectindo a posição da Igreja Católica e o compromisso de Francisco de ver a prática terminada em todo o mundo. A 5 de Março de 2015, publicou um post no X com a seguinte mensagem:.
“É tempo de acabar com a pena de morte”.
Eutanásia
Em 2016, Prevost partilhou um artigo da Catholic News Agency em que cidadãos da Bélgica, onde a eutanásia é legal, pediam aos canadianos que não apoiassem legislação que permitisse suicídios assistidos. No tweet que Prevost partilhou, lê-se:
“‘Não vão por aí’ – belgas pedem ao Canadá que não aprove a lei da eutanásia.”
No artigo, médicos, advogados e familiares belgas cujos entes queridos foram submetidos à eutanásia argumentam que o suicídio assistido ameaça os mais vulneráveis da sociedade e compromete a relação médico-paciente.
Posse de armas
Considerando que é natural dos EUA, a opinião de Prevost sobre o direito constitucional dos americanos à posse de armas é claramente progressista e será polémica entre a maior parte dos cristãos norte-americanos. Em Outubro de 2017, Prevost partilhou um apelo do senador Chris Murphy (D-Conn.) a um novo controlo das armas nos EUA, depois de um atirador ter assassinado 60 pessoas em Las Vegas. No tweet partilhado pelo novo Papa, Murphy afirmava contundentemente:
“Aos meus colegas: a vossa cobardia não pode ser encoberta por pensamentos e orações. Nada disto acaba se não fizermos algo para o impedir.”
Pedofilia na Igreja
Enquanto bispo e cardeal, Robert Francis Prevost não tem a reputação de ser intolerante e firme no combate aos abusos de menores que ocorreram sob a sua alçada hierárquica.
Missa inaugural: foco na missão evangélica
O Papa Leão XIV celebrou a sua Missa inaugural no Vaticano na sexta-feira, exortando a Igreja a actuar como um “farol” em regiões que sofrem de “falta de fé”.
Na sua homilia, o Papa Leão XIV salientou os desafios da Igreja, observando que muitos estão a afastar-se da fé e a orientar-se para “a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder ou o prazer”. Sublinhou a necessidade de um trabalho missionário em áreas onde a fé cristã é vista como “absurda”, dominada pelo poder e pela riqueza, observando:
“A falta de fé é muitas vezes tragicamente acompanhada pela perda de sentido da vida, pela negligência da misericórdia, por violações terríveis da dignidade humana, pela crise da família e por tantas outras feridas que afligem a nossa sociedade.”
A missa foi celebrada principalmente em latim, a língua tradicional da Igreja Católica Romana, enquanto a homilia foi expressa inicialmente em inglês e italiano.
Seja como for, quando um clérigo calça as sandálias do pescador, as suas opiniões anteriores podem valer pouco. E enquanto em muitas vertentes podemos expectar uma tendência progressista, há boas razões para crermos que é um tradicionalista no que respeita ao seu papel como Papa e à instituição que agora lidera, sendo legítimas as expectativas que o santo padre se remeta a um papel mais pastoral do que político.
A ver vamos.
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