Mais de 100 policias belgas invadiram instalações implicadas num escândalo de lobby no Parlamento Europeu, na manhã de quinta-feira, com promotores federais no final do dia a nomearem a empresa no centro da investigação como a gigante chinesa Huawei Technologies.
O Ministério Público Federal belga afirmou que vários indivíduos foram detidos para interrogatório sobre um caso de “corrupção activa” no Parlamento, bem como por “falsificação e utilização de documentos falsos”. Na declaração lemos:
“A corrupção terá sido praticada regularmente e de forma muito discreta desde 2021 até aos dias de hoje, sob o disfarce de lobbying comercial e assumindo várias formas, como a remuneração por assumir cargos políticos ou presentes excessivos, como despesas de alimentação e viagens ou convites regulares para jogos de futebol.”
À medida que a rusga se desenvolveu, os escritórios utilizados por dois assistentes parlamentares foram selados e a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, foi notificada.
O Ministério Público afirmou que as acções de lobbying da Huawei estavam a “promover interesses comerciais puramente privados no contexto de decisões políticas”.
A empresa foi objecto de uma investigação conjunta da publicação digital Follow the Money, de Bruxelas, do diário belga Le Soir e do semanário holandês Knack, que referiram que “as rusgas de madrugada faziam parte de uma investigação policial secreta que teve início há cerca de dois anos, após uma denúncia dos serviços secretos belgas”.
A Follow the Money disse que o escritório da Huawei na UE, bem como as casas dos seus lobistas, estavam entre os locais invadidos. A Huawei não respondeu a vários pedidos de comentário.
Os meios de comunicação social referiram que “cerca de 15 [antigos] eurodeputados estão no radar” dos investigadores e que podem ter sido oferecidas aos membros do Parlamento Europeu “viagens luxuosas à China e até dinheiro para garantir o seu apoio à empresa, enquanto esta enfrentava resistências na Europa”.
A Procuradoria-Geral belga afirmou que está também a decorrer uma investigação sobre alegado branqueamento de capitais. A este propósito o Ministério Público afirmou:
“As vantagens financeiras ligadas à alegada corrupção podem ter sido misturadas com fluxos financeiros ligados ao pagamento de despesas de conferências e pagas a vários intermediários, com o objectivo de ocultar a sua natureza ilícita ou permitir que os autores escapem às consequências das suas acções”.
A Huawei tem estado sob pressão na Europa há muitos anos, com a Comissão Europeia a instar os 27 Estados-Membros da UE a retirar a empresa das redes de telecomunicações devido a preocupações de segurança.
Nem todos os Estados cumpriram o pedido. Durante a sua audição de confirmação no final do ano passado, a Comissária para a tecnologia da União Europeia, Henna Virkkunen, disse que não estava satisfeita com o progresso. “Os Estados-Membros não levaram este problema suficientemente a sério”, afirmou.
Um porta-voz da comissão disse que “não tinha comentários” sobre o caso, mas encorajou os países a excluir a Huawei das redes 5G da Europa, acrescentando:
“Estamos a pedir aos Estados-Membros que tomem medidas rápidas. Esta é uma recomendação, mas vamos continuar a colaborar com os nossos Estados-Membros.”
Os legisladores apelaram ao Parlamento para que tome medidas. Bart Groothuis, um eurodeputado centrista e antigo director da agência de cibersegurança do governo holandês, comentou a ocorrência nestes termos:
“Espero uma resposta clara e enérgica do Presidente do Parlamento Europeu. A credibilidade da nossa instituição está em jogo, por isso, não há ‘se’ ou ‘mas’, devem ser tomadas medidas claras e enérgicas.”
Referindo-se a um escândalo de corrupção de 2022 em que funcionários do parlamento, lobistas e as suas famílias foram alegadamente subornados pelos governos do Catar, Marrocos e Mauritânia, o eurodeputado concluiu:
“Demonstrar que aprendemos com o Qatargate, demonstrar que as novas medidas em vigor são eficazes.”
O Catar e Marrocos foram acrescentados à lista de países que têm acesso restringido ao Parlamento. A China e o Irão também foram incluídos nessa lista. Mas na semana passada o Parlamento Europeu retirou todas as restrições a esses quatro países, deixando apenas a Bielorrússia e a Rússia de fora.
A decisão foi vista como mais um sinal de melhoria dos laços da União Europeia com a China, em grande parte devido ao colapso dos laços da Europa com os EUA. Mas a rusga de quinta-feira e o escândalo que se está a formar podem minar esses esforços.
O chefe da delegação do Parlamento Europeu para as relações com a China, Engin Eroglu, escreveu nas redes sociais:
“Conhecemos demasiado bem as operações de influência de Pequim. Mesmo no actual clima geopolítico, a China não é um parceiro, mas sim um rival sistémico e, cada vez mais, uma ameaça à segurança. #HuaweiGate”,
Resta saber que eurodeputados estão envolvidos neste esquema de corrupção e que justiça lhes será feita.
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