Ao discursar num encontro de oração anual, na semana passada, no Capitólio dos EUA, o Presidente Trump instou:

“Temos de trazer a religião de volta. Desde os primeiros dias da nossa república, a fé em Deus tem sido a principal fonte de força que bate no coração da nossa nação. Temos de a trazer de volta com muito mais força. É um dos maiores problemas que temos tido ao longo do último período de tempo.”

 

 

Durante o discurso, Trump também se referiu à fé renovada que experimentou, desde que foi alvo da tentativa de assassinato em Butler, no ano passado.

“Mudou algo em mim. Sinto-me ainda mais forte. Eu acreditava em Deus, mas sinto-me muito mais forte em relação a isso.”

 

 

Donald Trump já tinha dito por várias vezes que acredita que Deus o salvou da bala que por pouco não o matou.

Durante o discurso, o presidente opinou ainda:

“Eu realmente acredito que não se pode ser feliz sem religião, sem essa crença, eu realmente acredito nisso. Não vejo como é que se pode ser feliz.”

E acrescentou:

“O próprio Thomas Jefferson assistiu uma vez aos serviços dominicais realizados na antiga Câmara no mesmo terreno onde estou hoje, por isso não poderia haver nada mais bonito do que nos reunirmos neste lugar majestoso para reafirmar que a América é e será sempre uma nação sob Deus. A fé tem sido muito forte entre as pessoas presentes nesta sala. A poucos passos daqui, no Hall of Columns, há uma estátua de John Winthrop, que proclamou que a América seria uma cidade sobre uma colina, uma luz para todas as nações. Com os olhos de todas as pessoas postos em nós, hoje, quase 400 anos depois desse famoso sermão, vemos que, com a ajuda do Senhor, a cidade está mais alta e brilha mais do que nunca, ou pelo menos brilhará em breve.”

O discurso completo pode ser encontrado aqui.

 

Teologia MAGA: Deus é americano e vota Donald Trump.

O Contra saúda sem reticências o apelo do Presidente americano a um regresso a valores religiosos, mas as suas declarações são excessivamente espúrias para passarem sem um merecido contraponto.

Em primeiro lugar, o inquilino da Casa Branca parece acreditar que pode reintroduzir o fervor religioso na sociedade norte-americana por ordem executiva ou veemência retórica. Este simples facto desnuda a sua abordagem simplista ao complexo assunto.

Depois, e de forma ainda mais chocante, Trump fala de religião e não de cristianismo. Foram os valores cristãos que de facto se constituíram com fundacionais e “fonte de força que bate no coração” da nação americana. Mas o sionismo inflitrado na administração que dirige obriga-o ao ecumenismo. Trump está a vender ao seu eleitorado uma ideia de Deus que nada tem a ver com a fé cristã e – nesse sentido – está a fragilizá-la, em vez de fortalecê-la, como parece ser o seu objectivo.

O conceito de que os Estados Unidos mantêm uma relação íntima, de certa forma messiânica, com o Criador não é nova. Tem sido utilizada insistentemente pelos líderes políticos americanos ao logo da história da federação. Mas enquanto a América dos séculos XVIII, XIX e da primeira metade do século XX podia ainda ser sujeita a essa transcendente pretensão, o bordel contemporâneo a que Donald Trump tem a infelicidade de presidir está tão longe de ser a “cidade sobre a colina, uma luz para todas as nações”, como Sodoma e Gomorra estavam distantes de cumprir as expectativas do Deus bíblico.

Por último, não deixa de ser curioso que o próprio Presidente confesse que a sua recém encontrada fé se deva ao ‘milagre’ de ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato. Não só a América é uma nação amada e privilegiada por Deus, mas também ele por Deus foi salvo, o que não é dizer pouco (será que foi também Deus que o inspirou a desencadear a operação warp speed, cujo subproduto experimental matou milhões de pessoas em todo o mundo?).

Dá ainda que pensar o facto de Trump confessar que precisou de apanhar este susto para voltar a ser um homem devoto. Se todos os crentes necessitassem do mesmo nível de motivação, viveríamos por certo num mundo de ateus.

Donald Trump tem muitas qualidades, como líder político. Mas devia deixar a religião para quem saiba do que está a falar. Para quem tenha Cristo no coração, sem precisar para isso de ser americano, ou vítima de tentativas assassinato.