A plataforma de reeleição de Donald Trump não era complicada. Os seus pilares estavam enraizados no senso comum básico. E são na verdade universais, pelo que servem para educar qualquer aspirante ao poder político.
Eis algumas máximas que podemos retirar da reeleição do magnata de Queens:
– Proteger a fronteira. Um país não pode ser soberano sem a sua integridade territorial e a sua identidade cultural.
– Acabar com as guerras. A morte e a violência são horríveis remédios, que os contribuintes não gostam de financiar desnecessariamente.
– Tratar as pessoas com base no mérito, não na cor da pele ou noutras características inatas. Não foi esse o objectivo do movimento dos direitos civis que triunfou na última metade do século XX?
– Procurar sempre uma liderança funcional. Um líder deve ser capaz de discursar articuladamente e reflectir com ponderação sobre os assuntos do Estado, e projectar nas relações hierárquicas a autoridade que lhe foi confiada nas urnas.
– Ter sempre como prioridade a representação dos eleitores que confiaram os seus interesses ao cuidado de quem é eleito.
– Permanecer acordado depois das nove horas da noite.
Não é preciso ter um diploma de ciências políticas para compreender estas ideias, e ninguém deve ficar surpreendido com o facto de o candidato que apoiou cada uma delas residir agora no número 1600 da Pennsylvania Avenue, enquanto o partido da oposição ocupa a minoria nos três ramos do governo norte-americano. O povo americano quer bom senso. Foi por isso que fizeram regressar Trump à Casa Branca. Não precisam de um intelectual sofisticado ou de um académico distinto para os representar. Querem apenas alguém que pelo menos tente ver o mundo da perspectiva de uma pessoa comum e que use esse ponto de vista para tomar decisões práticas, que favoreçam as suas aspirações e o futuro dos seus filhos.
A insistência de Kamala Harris em afirmar que “não há nada que lhe venha à cabeça” que ela teria feito de forma diferente de Joe Biden provou que a candidata não conseguia superar essa fasquia. Donald Trump prometeu fazê-lo (e está a fazê-lo), e o efeito de arrastamento já está a espalhar-se por Washington.
Um dos primeiros actos do Senado na era Trump foi a aprovação da Lei Laken Riley, que obrigará o Departamento de Segurança Interna a deter os imigrantes sem documentos acusados de roubo e outros crimes. A não ser que se seja legitimamente a favor da ilegalidade, não há nenhuma boa razão para se opor a este tipo de projecto-lei. É uma questão de senso comum.
A supressão de programas governamentais woke de apoio à infância é outro exemplo. Quando era criança, provavelmente aprendeu que toda a gente, independentemente da cor da pele, deve ser tratada de forma igual. E tal axioma é apenas justo. Então porque é que a administração anterior passou quatro anos a promover a mensagem oposta? As iniciativas DEI de Biden eram racistas no sentido mais verdadeiro: julgavam as pessoas com base na cor da pele e não no conteúdo do seu carácter. O Reverendo Doutor Martin Luther King Jr. teria ficado desiludido. Com Trump de volta ao cargo, essa agenda é uma coisa do passado. Bom senso.
As acções executivas do presidente no primeiro dia também sinalizaram a mudança da Casa Branca na direcção de líderes que realmente usam os seus cérebros. É claro que os imigrantes ilegais não devem ser autorizados a permanecer nos Estados Unidos durante anos antes das suas audiências em tribunal, às quais podem ou não comparecer. É cristalino que uma democracia não sobrevive à detenção de cidadãos pelas suas convicções políticas, pelo que convém libertá-los e deixar de perseguir pessoas por expressarem a sua opinião. É óbvio que os funcionários dos serviços secretos que abusaram do seu poder para espalhar mentiras sobre a Rússia devem perder as suas habilitações de segurança. E sim, é permitido dizê-lo: não existem 26 géneros.
Nenhuma destas ideias é radical. Mas foi tudo o que foi preciso para empurrar o homem mais mediaticamente difamado e judicialmente perseguido na história da América de volta à presidência.
Talvez seja boa ideia aprender qualquer coisa com ele.
AFONSO BELISÁRIO
Oficial fuzileiro (RD) . Polemista . Português de Sagres
As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.
Relacionados
27 Jan 25
Não foi o Partido Republicano que ganhou as eleições de Novembro de 2024.
Se querem permanecer no poder daqui a 4 anos, os republicanos têm que perceber que foi numa ideia de ruptura que os americanos votaram. Trump será o primeiro interessado nesse entendimento. E personagens sinistros com Lindsey Graham devem desistir da inflamada retórica de guerra.
23 Jan 25
A inconveniente democracia do voto universal. Um ensaio filosófico.
A democracia fundamentada no voto universal é frequentemente exaltada como o modelo mais justo e equitativo de organização política. No entanto, uma análise mais profunda revela fragilidades intrínsecas. Um ensaio de Walter Biancardine.
21 Jan 25
Trump voltou.
Por auspiciosa coincidência, Donald Trump tomou posse como 47º Presidente dos EUA no dia em que os americanos celebram o legado de Martin Luther King. Podemos inquirir se terá sucesso na sua difícil empreitada, mas o optimismo é justificado. Uma crónica de Walter Biancardine.
20 Jan 25
Donald J. Trump: Um messias no inferno.
Sobre claras e encobertas ameaças securitárias, Donald J. Trump toma posse hoje como 47º Presidente dos Estados Unidos da América. É visto por muitos como um 'salvador da pátria'. Mas mesmo que essa redenção seja possível, será desejável?
19 Jan 25
Agora o mundo sabe: o Brasil está sob ditadura.
Agora as nações do globo terrestre sabem que o maior país do continente sul americano é refém de ditadores. Mas o regime não é tão sólido assim, sendo vulnerável até a um vídeo de 4 minutos, publicado por um jovem deputado. Uma crónica de Walter Biancardine.
17 Jan 25
Biden ataca bilionários da tecnologia depois de ter sido financiado por eles e com eles censurado os americanos.
No seu discurso de despedida à nação, Joe Biden avisou os americanos sobre a ameaça "oligárquica” dos bilionários do sector tecnológico. Se o alerta não viesse de quem vem, um homem que chegou ao poder por causa dessa oligarquia, até devia ser levado a sério.