Não foi o Partido Republicano de Lindsey Graham que os americanos conduziram ao poder em Novembro do ano passado

 

 

Os republicanos não devem tomar a vitória eleitoral de Novembro de 2024 como garantida. Nem sequer como um produto do seu labor interno ou das políticas que defendem.

O presidente do RNC, Michael Whatley, deu uma entrevista alguns dias antes da tomada de posse do Presidente eleito, avaliando sabiamente que o trabalho mais importante do seu partido é agora o de garantir que “os eleitores de Trump se tornem eleitores republicanos”.

Esta é uma distinção importante. Os republicanos não podem assumir que as massas de votantes que inesperadamente inundaram o seu partido em 2024 estão lá para ficar. Há um vasto sector do eleitorado (da esquerda para a direita: liberais moderados, libertários e populistas dissidentes) que nunca se alinharam com o Partido Republicano, e entre libertários e liberais há muita gente que pode estar disposta a mudar de lado se a equipa que anteriormente apoiava não cumprir as suas promessas eleitorais. Podem sair tão rapidamente como entraram.

Embora Donald Trump seja a força mais dominante da política ocidental, que congrega, sim, eleitores que o apoiarão aconteça o que acontecer, a sua vitória não foi realmente sobre ele e muito menos pode ser atribuída a um partido ideológica e eticamente dividido, que conta ainda com muitos animais do pântano, especialmente nas suas cúpulas. O que foi validado a 5 de Novembro foi uma ideia de bom senso, de liberdade, de paz e de cancelamento das velhas formas de fazer política. Trump foi o candidato da mudança. Da ruptura com o sistema falido de Washington.

Os eleitores votaram claramente contra um governo federal que existe para servir poucos em vez de muitos. Contra as fronteiras abertas, contra os acordos comerciais injustos, contra as guerras intermináveis e as regressivas agendas da esquerda e o mais elementar senso comum. É por isso que um número recorde de negros, hispânicos, asiáticos e eleitores de praticamente todos os grupos demográficos imagináveis apoiaram Trump. Muitos deles usaram o voto para exigir reformas mais do que manifestar um amor assolapado pelo candidato republicano.

Esses eleitores não vão deixar de se sentir assim só porque Trump está agora no poder. Muitos deles apoiaram inicialmente Barack Obama, mas abandonaram o barco depois de sofrerem incontáveis desilusões. A mesma coisa pode acontecer agora. Permanecerão leais ao Presidente se ele cumprir com as suas expectativas e defender os seus interesses, mas não estão vinculados ao Partido Republicano.

É fácil esquecer, mas Trump ficou aquém de muitas das suas maiores promessas durante o seu primeiro mandato. Claro que somou vitórias. Mas não concluiu o muro, não drenou o pântano, nem eliminou o desperdício governamental. Se desta vez for diferente, os republicanos podem esperar manter a Casa Branca muito para além de 2028. Caso contrário, terão que se preparar psicologicamente para mais um ciclo de derrotas eleitorais.

É bom que o novo inquilino da Casa Branca, em nome do seu legado e da sua sucessão, esteja atento às expectativas do seu eleitorado e evite embarcar em desventuras como a que recentemente anunciou, relativa à parceria com personagens tenebrosas como Sam altman, em projectos que são grotescos para a sua base de apoio como o de aliar a inteligência artificial à tecnologia mRNA para criar aterrradores projectos de vacinação global.

É bom que o Partido Republicano comece a domesticar certos congressistas da velha guarda, como o inenarrável Lindsey Graham ou o sinistro Dan Crenshaw, que não se cansam de trair o mandato eleitoral de Novembro com apelos à guerra, onde for que ela seja possível.

 

Paulo Hasse Paixão
Publisher . ContraCultura