A notícia da semana passada de que a administração Biden permitiu que a Ucrânia lance mísseis fornecidos pelos EUA contra a Rússia deveria ter sido difícil de superar, em irresponsabilidade e vontade de destruição, na medida em que essa decisão poderia desencadear um conflito directo com uma potência nuclear.

Mas mesmo depois de adoptar uma política demente como esta, um líder político minimamente consciente das suas acções reconheceria a necessidade de parar a intensificação das hostilidades e mudar o foco para o seu próprio país. Mas não Joe Biden. Ele está a tentar ir mais longe ainda, até ao limite das possibilidades, num literal jogo de roleta russa, que nos está a levar a cada dia que passa para mais perto do maior horror entre todos os horrores: uma guerra nuclear.

De facto e de acordo com o The New York Times, a Casa Branca está a considerar agora a possibilidade de entregar armas nucleares à Ucrânia. O pasquim nova-iorquino revelou:

“Vários funcionários chegaram a sugerir que Biden poderia devolver à Ucrânia as armas nucleares que lhe foram retiradas após a queda da União Soviética. Isso seria um dissuasor instantâneo e enorme. Mas tal passo seria complicado e teria sérias implicações”.

“Sérias”? O termo não qualifica adequadamente  as “implicações” dessa decisão. Elas seriam potencialmente terríveis. Catastróficas. Cataclísmicas. Apocalípticas. Ao nível da extinção. E, acima de tudo, totalmente desnecessárias.

É difícil imaginar algo que justifique o uso de uma arma nuclear. A utilização de duas por Harry Truman durante a Segunda Guerra Mundial continua a ser polémica ainda hoje. E apesar da gritaria permanente em Washington, é absolutamente inquestionável que a integridade territorial da fronteira oriental da Ucrânia não deveria ser digna sequer de uma breve conversa sobre o uso de armas nucleares americanas.

E quanto ao factor de disuassão, ninguém que tenha estado atento ao posicionamento do Kremlin, à personalidade de Putin e à determinação de Moscovo poderá pensar que entregar a Zelensky armas nucleares iria ter qualquer efeito na ofensiva russa, a não ser o de intensificar o conflito e, necessariamente, retirar-lhe os últimos vestígios regionais, para lhe atribuir um carácter global.

Mas é aqui, nesta situação explosiva, que nos encontramos. O presidente americano de 81 anos parece não se incomodar com a razão, a contenção ou o desejo claro dos seus eleitores de acabar com as guerras no estrangeiro. E a imprensa corporativa, claro, apoia-o nessa senda ensandecida.

Curiosamente, a revelação do NYT não foi objecto de destaque ou sequer de uma manchete. Estava enterrada no fundo de um artigo intitulado

“A promessa de Trump de acabar com a guerra pode deixar a Ucrânia com poucas opções.”

Espantoso, não é?

Nesta altura do campeonato, é claríssimo que os poderes instituídos no Ocidente anseiam por uma guerra apocalíptica. Só não vê quem não quer.