Não adormeço de noite,
nem acordo para o dia.
Não sei a quantas ando,
não sei porquê ou quando:
avaria.

A vida escangalha-se,
é de caos que morro.
Que cesse o ruído tonto
para que grite de pronto:
socorro.

Rebentou finalmente
a máquina da abundância.
O café sai sem espuma
e Deus chama uma:
ambulância.

O automóvel da razão
tem cancro na bateria.
Falham mudanças e travões,
gripam os pistões:
avaria.

Desfalecem as rotações
do mundo mecânico.
Digital, analógico e divino,
o universo entra em desatino:
pânico.

O frigorífico enregela,
o ferro de engomar desfalece.
O amplificador calou-se,
o velho cadeado soltou-se:
SOS.

A cidade toda colapsa,
em curto circuíto e agonia.
Crasha o gerador central,
o carburador queima mal:
avaria.

Afundam-se os continentes
e não há quem acuda.
A civilização vai a cair
e não há ninguém para pedir:
ajuda.

A fé é um transistor inútil
e o chip da esperança berrou.
A estação de reciclagem
já não retempera a coragem:
acabou.