Os sinos chamam à missa
Mas a maré não sobe
Por causa disso
Se fossem ainda mais pobres
Os meus versos morriam
De fome
A luz dos planetas
Desenha órbitas na escuridão –
Vontade de foguetões
A cadeira de baloiço
Embala o fim de tarde –
ioiô
Todas as tardes têm um fim diferente –
A Mãe Natureza
Nunca se aborrece
A traineira arrasta-se com o peso
Do pregado que vou comer
Mais logo
O vinho transforma a paisagem –
Depois de três copos a baía
Fica mais bonita
A Marinha traz pressa de aportar –
Ficaram sem gelo
Para o scotch
Oiço uma motorizada a subir
A falésia – É maior o barulho
que a aventura
Quando Deus fez a baía,
Já sabia que o homem
Lá iria inventar um porto
Todos os barcos naufragam –
Os barcos felizes naufragam no mar
Os tristes, em terra
O gin tónico sabe-me melhor
Quando Deus manda
Cessar o vento
Um veleiro de velas arriadas
É uma contradição
A motor
A Marinha finge batalhas
Enquanto o traficante deixa a mercadoria
Na praia
Quando o sol da tarde
Atormenta a falésia, até as moscas
Fazem a sesta
Iates elegantes traçam
O indolente oceano –
A natureza gosta de máquinas
O homem existe
Para que a natureza tenha
Espectadores
A minha caligrafia é tão pobre
Que até à tinta
Deve dinheiro
Todos os castelos são altivos –
Até o contratorpedeiro parece
Humilde
O sossego da baía é perturbado
Pelos aviões, mais que
Pelas traineiras
A minha cadela é feliz na falésia –
Os cães gostam de liberdade
E de mato
A doca é um
Parque de estacionamento
Com paisagem
Sonhei um dia ser poeta, mas
A ingenuidade ficou
Sem tinta
Os insectos são atraídos pelas lâmpadas
Como os homens
Pelo mistério.
Lua cheia –
Há dias com menos
Luz
_____________
A Arte do Haiku: Introdução.
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