Bem-vindos à mais nova novela trágico-cômica do Congresso Americano! No capítulo de hoje, intitulado “Como Torrar Dinheiro Sem Realmente Tentar”, nossos queridos congressistas desdobraram-se em esforços para garantir que o último prego no caixão do bom senso fosse martelado com festa e bandeirinhas.
Na notável data de 20 de abril de 2024, essas figuras ilustres aprovaram uma pechincha de apenas US$ 100 bilhões, carinhosamente apelidada de “Suplementar de Segurança Nacional”. Numa exibição espetacular de altruísmo, decidiram financiar não uma, não duas, mas duas guerras e meia, entupir de dinheiro a Ucrânia, enquanto lá, a guerra com a Rússia segue mais invencível que super-herói de quadrinhos. Pelo visto, jogar dinheiro em um buraco sem fundo virou esporte olímpico e nós estamos competindo para ganhar o ouro.
Não contentes em apenas financiar guerras alheias, nossos bravos líderes decidiram que era hora de dar aquele tchauzinho básico à privacidade, passando tal responsabilidade para as mãos sempre seguras da CIA e da NSA. Como se não fosse suficiente, deram ao presidente o superpoder de desligar partes da internet que não forem do seu agrado. Porque, afinal, quem precisa de liberdade de expressão quando se pode ter um estado de vigilância super eficiente?
Ah, e para aqueles que apreciam um bom espetáculo, não faltou teatralidade. Após a votação, nossos congressistas decidiram agitar bandeiras ucranianas. Pensei que estivesse assistindo ao festival Eurovisão, mas era só mais um dia no escritório em Washington.
Mas calma, tem mais! No mesmo dia emocionante, o Senado, não querendo ficar atrás, aprovou o aumento da vigilância sob a Seção 702 da Lei FISA. Já que estamos no caminho do “Big Brother”, por que não correr?
Para adicionar aquela pitada de ironia, o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, teria se gabado de como é fácil fazer com que o presidente da Câmara, Johnson, dê tudo o que os democratas querem. Generosidade com dinheiro alheio é realmente uma arte.
Enfim, aos que se perguntam sobre as vantagens dessas manobras, temos um consolo: a maioria dos republicanos da Câmara votou contra mais dinheiro para a Ucrânia. Não é maravilhoso? Pode ainda haver esperança, um fiozinho que seja, de sensatez.
Então, caros cidadãos, enquanto assistimos nossos líderes brincarem de Monopoly com nosso futuro, vamos nos lembrar: eles estão lá porque os colocamos lá. É um show excepcional, digno de muitas pipocas. Continuem assistindo, participem, e quem sabe o próximo capítulo possa ser um pouco menos sarcástico e um bocado mais esperançoso.
MARCOS PAULO CANDELORO
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Marcos Paulo Candeloro é graduado em História (USP – Brasil), pós-graduado em Ciências Políticas (Columbia University – EUA) e especialista em Gestão Pública Inovativa (UFSCAR – Brasil). Aluno do professor Olavo de Carvalho desde 2011. É professor, jornalista e analista político. Escreve em português do Brasil.
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