A indústria de propaganda dos media corporativos está em modo de cuidados intensivos. O corte de custos devido à queda nas audiências e à correspondente diminuição das receitas publicitárias, tem conduzido a despedimentos e “reestruturações”, que estão a acontecer por todo o lado, e não só nos EUA (em Portugal a morte tem sido lenta, mas incontornável). Ainda assim, por uma questão de economia, este texto fecha o enquadramento no que se está a passar na América.

No início desta semana, o LA Times demitiu 120 funcionários, cerca de 20% de sua redacção.

 

 

Enquanto isso, o BuzzFeed e a Vice Media – dois antigos queridinhos dos media digitais, estão a desviar activos. O BuzzFeed, que perdeu mais de 97% de seu valor desde que se ofereceu ao capital anónimo, em 2021, pretende vender os seus sites de comida, Tasty e WeFeast. E o Fortress Investment Group, que assumiu o controle da Vice que a empresa estava em processo de falência no ano passado, pretende vender o seu site de estilo de vida feminino Refinery29.

A Fortress está em negociações para vender a Refinery29 após uma tentativa fracassada de encontrar um comprador para a Vice na sua totalidade, que inclui a marca de notícias homónima, o estúdio de produção e a agência criativa, entre outros activos. A Fortress está também em discussões com possíveis licitantes para a Refinery29, que sofreu uma redução nas receitas para 20 milhões de dólares no ano passado.

A Vice comprou a Refinery29 por 400 milhões em 2019, enquanto a Tasty foi uma tentativa do BuzzFeed de gerar fluxos de receita além da publicidade, com vendas directas de utensílios de cozinha.

(Pausa para nos escangalharmos a rir).

Estes títulos juntam-se ao Jezebel (“Sex. Celebrity. Politics. With Teeth”), que foi fechado em Novembro pela G/O Media, e ao Business Insider, que agora está a despedir 8% de seu pessoal.

A insuportável revista Time também demitiu 30 pessoas da sua redacção, na semana semana.

 

 

Em 2023, houve mais de 30.000 propagandistas despedidos pelas empresas de comunicação social. Este é o maior número de cortes no emprego desde 2020, quando a propósito da Covid-19 foram para o olho da rua outros tantos 30.000 apparatchiks.

O número é seis vezes superior às perdas de emprego em 2022, quando muitas das grandes empresas de comunicação social, incluindo a Warner Bros. Discovery e a Disney, entre outras, desencadearam uma série de despedimentos que afectaram milhares de trabalhadores.

 

 

Taylor Lorenz: agente da Gestapo e bebé chorão

 

Taylor Lorenz chora, para nos fazer felizes.

Opinando sobre o triste estado do “jornalismo”, a grande campeã de Jeff Bezos e célebre activista neoliberal do Washington Post, Taylor Lorenz, disse esta semana que “toda a indústria do jornalismo está basicamente em queda livre” e que os problemas do LA Times se seguem a “meses e meses de demissões na indústria dos media.” E prossegue num tom fúnebre que nos enche o peito de alegria:

“E não são apenas sites de media digital. Os órgãos noticiosos locais foram destruídos, a indústria jornalística está em crise, a rádio está essencialmente morta – com exceção da NPR, que foi destruída. Enquanto isso, centenas de trabalhadores da Conde Nast, a empresa-mãe de praticamente todas as grandes revistas, da GQ à Vogue e do New Yorker à Vanity Fair estão em greve.”

Quando aquilo que produzes não interessa  a ninguém, a melhor maneira de não seres despedido é fazeres greve. Faz sentido.

 

 

Apesar das suas alegações de que é uma repórter genuína que subiu a pulso dos media independentes para os corredores do jornalismo estabelecido, Taylor Lorenz representa a essência do propagandista que infecta as salas de redacção da imprensa actual. Conhecida pela sua defesa cega e e muitas vezes ridícula da administração Biden, bem como pelos seus constantes ataques aos meios de comunicação alternativos e a contas conservadoras das redes sociais, Lorenz ganhou fama, ou caiu na infâmia, após um trabalho de investigação “jornalística”, também conhecido como labor pidesco, sobre a fundadora do Libs of TikTok, Chaya Raichik, no que muitos argumentaram ser uma tentativa de convidar à violência e intimidar uma pessoa que criticava os activistas woke apenas por postar no X (na altura Twitter) aquilo que os tresloucados colocavam no Tik Tok. A história inicial publicada por Lorenz continha um link para o endereço de trabalho de Raichik e outros detalhes sobre a sua vida privada (Lorenz foi obrigada, numa versão posterior da história, a retirar alguns desses links).

A comissária da Gestapo de Washington também foi acusada de mentir descaradamente num artigo sobre a cobertura do julgamento de Johnny Depp v. Amber Heard, quando alegou que havia contactado alguns YouTubers para comentarem a “reportagem” antes de a publicar. O texto constituía um ataque soez a esses canais e todos os visados negaram a alegação  O Washington Post, meio envergonhado da sua própria vilania, foi forçado a editar discretamente o artigo.

A questão é que Lorenz deixou claro, através das suas ações, que vê os jornalistas cidadãos de forma negativa, se estes não fizerem parte da esquerda radical. Ela tentou sabotá-los usando métodos duvidosos, cumprindo, ironicamente, o tipo de comportamento dos jornalistas corporativos que levou directamente à morte da sua indústria. É precisamente esta falência da ética, esta forma tendenciosa de agir, que obrigou o público a procurar os meios de comunicação alternativos e a abandonar as plataformas mainstream.

 

Por muito odiados que sejam os “jornalistas”, nunca é suficiente.

Numa sondagem de 2022 da Pew Research, feita junto de “jornalistas” corporativos dos EUA de todas as idades, mais de 55% afirmaram não acreditar que todos os lados de uma determinada história mereçam cobertura igual. Entre os comissários mais jovens (com idades entre os 18 e os 29 anos), 63% afirmaram que não concordavam com uma cobertura imparcial. Lorenz reflecte exactamente esse sentimento ao revirar os olhos diante da noção de objectividade na redacção de notícias.

Como o Contra já documentou, as redacções mainstream decidiram de uma vez por todas assumir aquilo que já há muito tempo é evidente e estão a proclamar abertamente que a imprensa abandonou a “objectividade” porque, na opinião desta gente doente, tal critério é uma relíquia racista das “redacções brancas”.

A desnudada assumpção do axioma encontra referência numa série de entrevistas conduzidas pelo antigo editor executivo do Washington Post, Leonard Downie Jr., e pelo antigo presidente da CBS News, Andrew Heyward, das quais resultaram afirmações deste calibre deontológico:

“Os jornalistas devem incluir as suas próprias crenças, preconceitos e experiências para transmitir a verdade, já que a objectividade jornalística é irrealista ou indesejável.”

Downie Jr. argumentou que a objectividade distorce as notícias porque

“O padrão foi ditado ao longo de décadas por editores masculinos em redacções predominantemente brancas e reforçou a sua própria visão do mundo”.

Emilio Garcia-Ruiz, editor-chefe do San Francisco Chronicle, foi ainda mais explícito afirmando que

“A objectividade tem de ir à vida”.

Numa sondagem semelhante à da Pew Research, mais de 76% do público em geral afirmou querer uma cobertura objectiva dos factos pelos meios de comunicação social. A desconexão entre as fontes de notícias do establishment e o que o seu público deseja é imensa. Dado que a ideologia progressista está sobre-representada na maioria dos meios de comunicação social corporativos, o público simplesmente procurou o outro lado da história.

Lorenz argumenta que não gostaria de viver num mundo onde as pessoas recebessem notícias de TikToks de sessenta segundos (enquanto postava o seu apelo no TikTok, sem mostrar quaisquer sinais de consciencializar a ironia), mas ela sabe muito bem que não é o jornalismo TikTok que está a cortar as pernas de organizações como o Washington Post – É a crescente prevalência dos media alternativos que ela combateu durante grande parte da sua carreira.

E quando fala da morte da rádio, a comissária de Bezos finge que não está a falar apenas das estações dominadas pela esquerda radical do seu país e que vivemos hoje até um apogeu da Talk Radio, em formato podcast, de que Joe Rogan será o máximo exemplo.

 

 

Dito isto, em última análise, a imagem que Lorenz pinta é na verdade positiva (embora ela não perceba isso, claro). A implosão da comunicação social tradicional é uma expressão do mercado livre. O público ainda manda qualquer coisa e finalmente estas pessoas estão a sofrer as consequências das suas actividades desonestas, para não dizer outra coisa.

E para sermos claros: viver num mundo sem a imprensa corporativa é o que milhões de pessoas no Ocidente já fazem todos os dias. E ninguém teve tromboses epistemológicas por causa disso.

Os apparatckiks das salas de redacção não são especiais nem essenciais para a saúde social, política ou económica dos povos e das nações, graças a Deus. A imprensa corporativa não é “grande demais para falir” e o seu colapso deve ser aplaudido após décadas de desinformação e propaganda. Esta gente merece um funeral festivo e o mundo vive muito melhor na sua ausência.

E Tim Pool faz, muito adequadamente, o velório feliz.