Novos documentos mostram que empresas da indústria militar dos EUA e do Reino Unido criaram um plano abrangente para a censura global em 2018.
Um informador entregou aos jornalistas independentes Michael Shellenberber, Alex Gutentag e Matt Taibbi um novo e explosivo conjunto de documentos, que rivaliza ou excede em escala e importância os Twitter Files. Os documentos descrevem as actividades de um grupo “anti-desinformação” chamado Cyber Threat Intelligence League (CTIL), que iniciou oficialmente um projecto voluntário de cientistas de dados e veteranos da defesa e dos serviços secretos, mas cujas tácticas parecem ter sido absorvidas por vários projectos oficiais, incluindo os do Departamento de Segurança Interna (DHS).
CTIL Files #1: US And UK Military Contractors Created Sweeping Plan For Global Censorship In 2018, New Documents Show
Whistleblower makes trove of new documents available to Public and Racket, showing the birth of the Censorship Industrial Complex in reaction to Brexit and Trump… pic.twitter.com/upfhL2ES05
— Michael Shellenberger (@shellenberger) November 28, 2023
Os documentos da Liga CTI oferecem o elo que faltava para responder a questões-chave não abordadas nos Twitter Files. Combinados, constroem uma imagem abrangente da génese do sector “anti-desinformação”, ou aquilo a que Michael Shellemberger chamou o ‘Complexo Industrial de Censura’.
Os documentos do denunciante descrevem todo o projecto, desde a génese dos modernos programas de censura digital até ao papel das forças armadas e dos serviços secretos, às parcerias com organizações da sociedade civil e meios de comunicação social e à utilização de contas fantoches e outras técnicas ofensivas.
Os documentos provam que, embora este género de actividades sejam “tipicamente” realizadas pela “CIA, a NSA e o Departamento de Defesa” em países estrangeiros, os esforços de censura “contra os americanos” foram feitos com recurso a parceiros privados porque o governo não tem “autoridade legal” para o exercício destas práticas.
O denunciante alega que uma líder da CTI League, uma “antiga” analista dos serviços secretos britânicos, estava “na sala” da Casa Branca de Obama, nos primeiros dias de 2017 (Trump só tomou posse a 20 de Janeiro desse ano), quando recebeu instruções para criar um projecto de contra-desinformação que impedisse uma “repetição de 2016”.
Ao longo do último ano, investigadores do Congresso e outros documentaram a ascensão do Complexo Industrial da Censura, uma rede de mais de 100 agências governamentais e organizações não-governamentais que trabalham em conjunto para incitar a censura por parte das plataformas tecnológicas e difundir propaganda sobre indivíduos e tópicos, bem como combater narrativas inconvenientes aos poderes instituídos.
A Agência de Cibersegurança e Segurança da Informação (CISA), do Departamento de Segurança Interna dos EUA, tem sido o centro de gravidade de grande parte da censura, com a Fundação Nacional da Ciência a financiar o desenvolvimento de ferramentas de censura e desinformação e outras agências governamentais federais a desempenharem um papel de apoio.
E-mails de ONGs e parceiros da imprensa da CISA mostram que a agência criou a Parceria de Integridade Eleitoral (EIP) em 2020, que envolveu o Observatório da Internet de Stanford (SIO) e outros contratados do governo dos EUA. A EIP e o seu sucessor, o Virality Project (VP), incitaram o Twitter, o Facebook e outras plataformas a censurar as publicações nas redes sociais, tanto de cidadãos comuns como de funcionários eleitos.
Apesar das provas esmagadoras de censura patrocinada pelo governo, ainda não tinha sido determinada a origem desse programa. Agora temos evidências materiais que levantam o véu sobre esse motor original.
Em 2018, uma funcionária da SIO e antiga funcionária da CIA, Renee DiResta, gerou manchetes nacionais antes e depois de testemunhar perante o Senado dos EUA sobre a suposta interferência do governo russo nas eleições de 2016, que depois se mostrou constituir uma fraude fabricada pela campanha de Hillary Clinton em 2016. Ela é uma das personagens envolvidas neste projecto orwelliano.
Mas o que aconteceu entre 2018 e a primavera de 2020? O ano de 2019 tem sido um buraco negro na investigação do Complexo Industrial da Censura até à data. Quando Michael Shellenberger, testemunhou perante a Câmara dos Representantes dos EUA sobre o Complexo Industrial de Censura, em Março de 2023, um ano inteiro não constava da sua cronologia.
Uma data de início para o Complexo Industrial da Censura
Agora, um grande espólio de novos documentos, incluindo relatórios de estratégia, vídeos de formaçãoo, apresentações e mensagens internas, revelam que, em 2019, militares dos EUA e do Reino Unido e empreiteiros de inteligência liderados por uma ex-investigadora de defesa do Reino Unido, Sara-Jayne “SJ” Terp, desenvolveram a estrutura de censura abrangente. Esses empreiteiros co-lideraram a CTIL, que fez parceria com a CISA, na primavera de 2020.
Na verdade, a construção do Complexo Industrial da Censura começou ainda mais cedo – em 2018.
Mensagens internas do CTIL mostram Terp, os seus colegas e funcionários do DHS e do Facebook trabalhando juntos no processo de censura.
A estrutura do CTIL e o modelo público-privado são as sementes do que os EUA e o Reino Unido colocariam em prática em 2020 e 2021, incluindo o disfarce da censura dentro das instituições de segurança cibernética e agendas de “contra-desinformação”; com foco em interromper narrativas desfavoráveis e não apenas factos errados; e pressionar as redes sociais a retirar informações ou a tomar outras medidas para evitar que o conteúdo dissidente se tornasse viral.
Na primavera de 2020, o CTIL começou a rastrear e denunciar conteúdos desfavoráveis nas redes sociais, como narrativas anti-confinamento. Parte desses esforços foram dedicados à criação de um canal para denunciar conteúdos. A organização também pesquisou indivíduos que publicaram hashtags anti-confinamento e manteve uma folha de cálculo com detalhes das biografias de cidadãos dissidentes no Twitter. O grupo também discutiu pressionar empresas de domínios Web para que fechassem certos sites.
A abordagem da CTIL à “desinformação” ia muito para além da censura e transformou-se rapidamente numa verdadeira operação de espionagem. Os documentos mostram que o grupo se envolveu em operações ofensivas para influenciar a opinião pública, discutindo formas de promover “contra-mensagens”, cooptar hashtags, diluir mensagens desfavoráveis, criar contas fantoches e infiltrar-se em grupos privados só para convidados.
Numa lista sugerida de perguntas para o inquérito de recrutamento, a CTIL propôs que se perguntasse aos membros ou potenciais membros: “Já trabalhou com operações de influência (por exemplo, desinformação, discurso de ódio, outros danos digitais, etc.) anteriormente?” O inquérito perguntava então se estas operações de influência incluíam “medidas activas” e “psyops” (operações de condicionamento psicológico).
Estes documentos chegaram a Michael Shellenberger através de um denunciante altamente credível. Foi possível validar de forma independente a sua legitimidade através de uma extensa verificação cruzada de informações com fontes publicamente disponíveis. O denunciante afirmou ter sido recrutado para participar na CTIL através de reuniões mensais sobre cibersegurança organizadas pelo DHS.
Quando solicitados a comentar os factos reportados pelo informador, o FBI, a CISA, Sara-Jayne Terp e outros líderes da CTIL recusaram-se a prestar quaisquer declarações.
Mas uma pessoa envolvida, Bonnie Smalley, respondeu no LinkedIn, dizendo:
“Tudo o que posso comentar é que me juntei à liga CTI, que não está afiliada a nenhuma organização governamental, porque queria combater o absurdo de injectar água sanitária durante a Covid….. Posso garantir que não tivemos nada a ver com o governo.”
No entanto, os documentos sugerem que funcionários públicos eram membros empenhados da CTIL. Um indivíduo que trabalhava para o DHS, Justin Frappier, era extremamente activo no CTIL, participando em reuniões regulares e liderando acções de formação.
Segundo o informador, o objectivo final da CTIL, era
“tornar-se parte do governo federal. Nas nossas reuniões semanais, eles deixaram claro que estavam a levantar essas organizações dentro do governo federal e que, se criássemos a primeira iteracção, garantíamos empregos.”
O plano de Terp, que ela partilhou em apresentações para grupos de segurança da informação e cibersegurança em 2019, era criar “comunidades Misinfosec” que incluiriam o governo.
Tanto os registos públicos quanto os documentos do denunciante sugerem que ela conseguiu isso. Em Abril de 2020, Chris Krebs, então Director da CISA, anunciou no Twitter e em vários artigos, que a agência estava a fazer uma parceria com a CTIL. “É realmente uma troca de informações”, disse Krebs.
Os documentos também mostram que Terp e os seus colegas, através de um grupo chamado MisinfoSec Working Group, que incluía DiResta, criaram uma estratégia de censura, influência e anti-desinformação chamada Adversarial Misinformation and Influence Tactics and Techniques (AMITT). A AMITT foi elaborada adaptando uma estrutura de cibersegurança desenvolvida pelo MITRE, um importante fornecedor de serviços de defesa e de informações que tem um orçamento anual de 1 a 2 biliões de dólares de financiamento governamental.
Mais tarde, Terp utilizou o AMITT para desenvolver a estrutura DISARM, que a Organização Mundial de Saúde utilizou para “combater as campanhas anti-vacinação em toda a Europa”.
Uma componente essencial do trabalho de Terp através da CTIL, da MisinfoSec e da AMITT foi a inserção do conceito de “segurança cognitiva” nos domínios da cibersegurança e da segurança da informação.
A soma total dos documentos dá uma imagem clara de um esforço altamente coordenado e sofisticado por parte dos governos dos EUA e do Reino Unido para criar um programa de censura interna e desenvolver operações semelhantes às que utilizaram em países estrangeiros. A certa altura, Terp referiu abertamente o seu trabalho em questões de redes sociais relacionadas com a primavera Árabe. Noutra ocasião, segundo o informador, Terp expressou a sua surpresa por estar a utilizar tais tácticas, desenvolvidas para cidadãos estrangeiros, contra cidadãos americanos.
De acordo com o denunciante, cerca de 12 a 20 pessoas activas envolvidas na CTIL trabalhavam no FBI ou na CISA.
“Durante algum tempo, eles tinham os selos das suas agências – FBI, CISA, o que quer que fosse – ao lado do seu nome no serviço de mensagens Slack. Terp tinha um crachá da CISA.”
As ambições dos pioneiros do Complexo Industrial da Censura em 2020 iam muito além de simplesmente pedir ao Twitter que colocasse uma etiqueta de aviso nos Tweets ou que colocasse indivíduos em listas negras. O quadro da AMITT apela ao descrédito dos indivíduos como um pré-requisito necessário para exigir a censura contra eles e à formação de influenciadores para a difusão de mensagens; solicitando ainda que se levasse os bancos a suspender serviços financeiros aos indivíduos que organizassem comícios ou eventos.
A cronologia do trabalho da CISA sugere fortemente que a parceria público-privada de operações de censura pode ter tido origem numa estrutura originalmente criada por empreiteiros militares. Além disso, as técnicas e os materiais delineados pela CTIL assemelham-se muito aos materiais criados mais tarde pela equipa de Combate à Inteligência Estrangeira da CISA.
“Voluntários” e “antigos” agentes do Governo.
A Bloomberg, o Washington Post e outros publicaram histórias sobre o assunto na Primavera de 2020, alegando que a Liga CTI era simplesmente um grupo de peritos voluntários em cibersegurança. Os seus fundadores eram: um “antigo” funcionário dos serviços secretos israelitas, Ohad Zaidenberg; um “gestor de segurança” da Microsoft, Nate Warfield; e Marc Rogers, o chefe de operações de segurança da DEF CON, uma convenção de hackers. Os artigos afirmavam que estes profissionais altamente qualificados do cibercrime tinham decidido ajudar hospitais privados, com resultados anuais de biliões de dólares, no seu tempo livre e sem remuneração, por motivos estritamente altruístas.
No espaço de apenas um mês, de meados de Março a meados de abril, a CTIL, supostamente totalmente voluntária, tinha crescido para “1.400 membros controlados em 76 países, abrangendo 45 sectores diferentes”, tinha “ajudado a derrubar legalmente 2.833 activos cibercriminosos na Internet, incluindo 17 concebidos para se fazerem passar por organizações governamentais, as Nações Unidas e a Organização Mundial de Saúde” e tinha “identificado mais de 2.000 vulnerabilidades em instituições de saúde em mais de 80 países”.
Em todas as oportunidades que tinham, os colaboradores sublinharam que eram apenas voluntários motivados pelo altruísmo. “Eu sabia que tinha de fazer algo para ajudar”, disse Zaidenberg. “Há uma apetência muito forte para fazer o bem na comunidade”, disse Rogers durante um webinar do Aspen Institute.
E, no entanto, um objectivo claro dos líderes da CTIL era criar apoio à censura entre as instituições de segurança nacional e cibersegurança. Para isso, procuraram promover a ideia de “segurança cognitiva” como justificação para o envolvimento do governo em actividades de censura. Terp disse num podcast em 2019:
“Segurança cognitiva é o que queremos ter. Queremos proteger essa camada cognitiva. Basicamente, trata-se de poluição. A desinformação é uma forma de poluição na Internet.”
Terp e Pablo Breuer, outro líder da CTIL, como também Zaidenberg, tinham formação militar e eram ex-contratados da indústria militar. Ambos trabalharam para o SOFWERX, “um projecto de colaboração entre o Comando das Forças Especiais dos EUA e o Instituto Doolittle”. Este último transfere tecnologia da Força Aérea, através do Air Force Resource Lab, para o sector privado.
De acordo com a biografia de Terp no site de uma empresa de consultoria que criou com Breuer, ela “ensinou ciência de dados na Universidade de Columbia, foi CTO da equipa de Big Data da ONU, concebeu algoritmos de aprendizagem automática e sistemas de veículos não tripulados no Ministério da Defesa do Reino Unido.”
Breuer é um antigo comandante da Marinha dos EUA. De acordo com a sua biografia, foi “director militar do Grupo Donovan do Comando de Operações Especiais dos EUA e conselheiro militar sénior e responsável pela inovação da SOFWERX, da Agência de Segurança Nacional e do Comando Cibernético dos EUA, além de ser o Director do C4 no Comando Central das Forças Navais dos EUA”. Breuer esteve na Marinha durante a criação do CTIL , segundo a sua página do LinkedIn.
Em Junho de 2018, Terp participou num exercício militar de dez dias organizado pelo Comando de Operações Especiais dos EUA, onde diz ter conhecido Breuer e discutido as modernas campanhas de desinformação nas redes sociais. A Wired resumiu as conclusões que tiraram do encontro: “A desinformação, perceberam, podia ser tratada da mesma forma: como um problema de cibersegurança”. E assim criaram o CogSec, com David Perlman e outro colega, Thaddeus Grugq, na liderança. Em 2019, Terp co-presidiu ao Grupo de Trabalho Misinfosec dentro do CogSec.
Breuer admitiu num podcast que seu objectivo era trazer tácticas militares para as plataformas de media social nos Estados Unidos.
“Sou o director militar do Grupo Donovan e um dos dois responsáveis pela inovação da Sofwerx, que é uma organização sem fins lucrativos não classificada, financiada pelo Comando de Operações Especiais dos EUA.”
Breuer continuou a descrever a forma como pensavam estar a contornar a Primeira Emenda, explicando a natureza do seu trabalho com Terp:
“Era uma forma de reunir parceiros não tradicionais numa sala, incluindo talvez alguém de uma das empresas de redes sociais, talvez alguns operadores de forças especiais e algumas pessoas do Departamento de Segurança Interna, para falar num ambiente aberto e de uma forma não classificada, para que possamos colaborar melhor, mais livremente e começar realmente a mudar a forma como abordamos algumas destas questões”.
O relatório Misinfosec defendeu a censura governamental abrangente e a contra-desinformação. Durante os primeiros seis meses de 2019, segundo os autores, foram analisados “incidentes”, desenvolvido um sistema de relatórios e partilhada a sua visão de censura com “vários estados, tratados e ONGs”.
Em todos os incidentes mencionados, as “vítimas” de desinformação estavam na esquerda política e incluíam Barack Obama, John Podesta, Hillary Clinton e Emmanuel Macron. O relatório foi aberto sobre o facto de que a sua motivação residia nos dois terramotos políticos de 2016: O Brexit e a eleição de Trump.
“Um estudo dos antecedentes destes eventos levou-nos a perceber que há algo de estranho no nosso panorama informativo. Os habituais idiotas úteis e quintos-colunistas – agora aumentados por bots automatizados, ciborgues e trolls humanos – estão ocupados a manipular a opinião pública, a alimentar a indignação, a semear a dúvida e a destruir a confiança nas nossas instituições. E agora são os nossos cérebros que estão a ser pirateados”.
O relatório Misinfosec centrou-se na informação que “muda as crenças” através de “narrativas” e recomendou uma forma de combater a desinformação atacando ligações específicas numa cadeia de influência do “incidente” de desinformação antes de se tornar uma narrativa completa.
O relatório lamenta que os governos e os meios de comunicação social já não detenham o controlo total da informação.
“Durante muito tempo, a capacidade de atingir audiências em massa pertenceu ao Estado-nação (por exemplo, nos EUA, através do licenciamento de concessões de emissão à ABC, CBS e NBC). Agora, no entanto, o controlo dos instrumentos de informação tem sido permitido a grandes empresas de tecnologia que têm sido alegremente complacentes e cúmplices em facilitar o acesso ao público aos operadores de informação por uma fracção do que lhes teria custado por outros meios.”
Os autores defendem o envolvimento da polícia, das forças armadas e dos serviços secretos na censura, e sugerem mesmo o envolvimento da Interpol.
O relatório propôs um plano para a AMITT e para a colaboração em segurança, inteligência e aplicação da lei e defendeu a sua implementação imediata.
“Não precisamos, nem podemos dar-nos ao luxo de esperar 27 anos para que a estrutura AMITT (Desinformação Adversarial e Táticas e Técnicas de Influência) entre em uso.”
Os autores apelaram à colocação de esforços de censura dentro da “segurança cibernética”, mesmo reconhecendo que a “segurança da desinformação” é um campo totalmente diferente da segurança cibernética., argumentando que o terceiro pilar do “ambiente de informação”, depois da segurança física e cibernética, deveria ser “A Dimensão Cognitiva”.
O relatório sinalizou a necessidade de “vacinar preventivamente uma população vulnerável contra mensagens”. O relatório também apontou para a oportunidade de utilizar os Centros de Partilha e Análise de Informação (ISACs) financiados pelo DHS como sede para orquestrar a censura público-privada, e argumentou que estes ISACs deveriam ser usados para promover a confiança no governo.
É aqui que vemos a ideia do EIP e do VP:
“Embora as redes sociais não sejam identificadas como um sector crítico e, portanto, não se qualifiquem para os ISAC, estes centros deveriam alimentar indicações e avisos sobre desinformação.”
A visão de Terp sobre “desinformação” era abertamente política. No podcast de 2019, observou:
“A maior parte da desinformação é realmente verdadeira, mas colocada no contexto errado. Não estão a tentar fazer com que as pessoas acreditem em mentiras na maior parte do tempo. Na maioria das vezes, estão a tentar mudar conjuntos de crenças. E na verdade, mais profundamente do que isso, estão a tentar mudar narrativas internas, o conjunto de histórias que são a base da cultura”.
No Outono, Terp e outros procuraram promover o seu relatório. O podcast que Terp fez com Breuer em 2019 foi um exemplo desse esforço. Juntos, descreveram o modelo “público-privado” de lavagem por censura que o DHS, o EIP e o VP viriam a adotar.
Breuer falou abertamente sobre o controlo informativo e narrativo que tinha em mente e que era comparável ao implementado pelo governo chinês (!), apenas tornado mais adequado à população americana.
“Se falarmos com o cidadão chinês médio, eles acreditam absolutamente que a Grande Firewall da China não existe para fins de censura. Eles acreditam que existe porque o Partido Comunista Chinês quer proteger os cidadãos e acreditam absolutamente que isso é uma coisa boa. Se o governo dos EUA tentasse vender essa narrativa, perderíamos completamente a cabeça e diríamos: ‘Não, não, isto é uma violação dos nossos direitos da Primeira Emenda.'”
Afirmações eloquentes sobre o que este gente pensa da constituição americana e da liberdade de expressão.
“Escola de Desinformação de Hogwarts”
O informador referiu a aparente auto-glorificação que reinava entre os líderes do programa:
“SJ chamou-nos de ‘escola de Hogwarts para desinformação e desinformação’. Eles eram os super-heróis da sua própria história. Ainda pode encontrar histórias em banda desenhada no site da CISA.”
O CTIL recrutou programadores para separar informações do Twitter, Facebook e YouTube. Os registos fornecidos pelo denunciante ilustram exactamente como o CTIL operou e rastreou “incidentes”, bem como o que considerou ser “desinformação”. Sobre a narrativa contra os confinamentos, os membros do CTIL escreveram:
“Temos o suficiente para pedir que os grupos e/ou contas sejam retirados ou, pelo menos, denunciados e verificados? Se não, podemos deixar todos os trolls à vontade?”
Até cartazes que apelavam a protestos anti-lockdown foram registados como artefactos de desinformação.
Sobre esses protestos, a equipa mostrou a sua mentalidade de Gestapo:
“Devíamos ter previsto que isso aconteceria. Podemos parar a propagação, temos evidências suficientes para impedir os disseminadores e há outras coisas que podemos fazer (existem contra-mensageiros que podemos enviar, etc.).”
O CTIL também trabalhou no desenvolvimento de contra-informação, encorajando as pessoas a usarem máscaras e discutiu a construção de uma rede de amplificação. “A repetição é a verdade”, disse um membro do CTIL num treinamento.
O CTIL trabalhou com outras figuras e grupos do Complexo Industrial da Censura. As notas da reunião indicam que a equipa do Graphika considerou adoptar o AMITT e que o CTIL queria consultar DiResta sobre como fazer com que as plataformas removessem conteúdo mais rapidamente.
Quando questionado se Terp ou outros líderes do CTIL discutiram a sua potencial violação da Primeira Emenda, o denunciante disse:
“Eles não o fizeram… O espírito era que se sairmos impunes, é legal, e não houve preocupações com a Primeira Emenda porque se tratava de uma ‘parceria público-privada – foi a palavra que usaram para disfarçar essas preocupações. ‘As pessoas privadas podem fazer coisas que os funcionários públicos não podem fazer, e os funcionários públicos podem fornecer liderança e coordenação.’”
Apesar da aparente confiança na legalidade das suas actividades, alguns membros do CTIL podem ter tomado medidas extremas para manter as suas identidades em segredo. O manual do grupo recomenda o uso de telefones descartáveis, a criação de identidades falsas e a geração de avatares ficcionais de IA usando o site “This Person Does Not Exist”.
Em Junho de 2020, segundo o denunciante, o grupo secreto tomou medidas para ocultar ainda mais as suas actividades.
Um mês depois, em Julho de 2020, o director do SIO, Alex Stamos, enviou um e-mail a Kate Starbird, do Centro para um Público Informado da Universidade de Washington, escrevendo:
“Estamos a trabalhar em algumas ideias de monitorização eleitoral com a CISA e adoraria seu feedback informal antes de partirmos. Coisas que deveriam ter sido montadas há um ano estão a ser reunidas rapidamente esta semana.”
Naquele verão, a CISA também criou uma equipa de Combate à Influência Estrangeira, que reflectia os métodos CTIL/AMITT e incluía uma história em banda desenhada “verdadeiramente falsa”, que o informador disse ter sido lançada pela primeira vez dentro do CTIL.
A estrutura “DISARM”, inspirada pela AMITT, foi formalmente adoptada pela União Europeia e pelos Estados Unidos como parte de um
“padrão comum para a troca de informações estruturadas sobre ameaças, manipulação e interferência de informações estrangeiras”.
Até agora, os detalhes das actividades do CTIL receberam pouca atenção, embora o grupo tenha sido alvo de alguma publicidade em 2020. Em Setembro desse ano, a Wired publicou um artigo sobre a entidade que parece parte de uma campanha publicitária, com este espalhafatoso título: “Ciber-vingadores protegem os hospitais do software de sequestro de dados”. O artigo, tal como as histórias da Bloomberg e do Washington Post daquela Primavera, aceita inquestionavelmente que o CTIL era verdadeiramente uma rede “voluntária” de “antigos” funcionários dos serviços secretos de todo o mundo.
Mas, ao contrário das histórias da Bloomberg e do Washington Post, a Wired também descreve o trabalho “anti-desinformação” do CTIL. O repórter da Wired não aponta qualquer crítica às atividades do CTIL, mas sugere que alguns podem ver algo errado nelas.
“Pergunto-lhe [ao cofundador do CTIL, Marc Rogers] sobre a noção de ver a desinformação como uma ameaça cibernética. ‘Todos esses maus actores estão a tentar fazer a mesma coisa, diz Rogers.”
Por outras palavras, a ligação entre a prevenção de crimes cibernéticos e o “combate à desinformação” é basicamente a mesma porque ambos envolvem o combate ao que tanto o DHS como a Liga CTI chamam de “actores maliciosos”, o que é sinónimo de “bandidos”.
O artigo da Wired continua em tom apologético:
“Assim como Terp, Rogers adopta uma abordagem holística à segurança cibernética. Primeiro, há a segurança física, como roubar dados de um computador para uma unidade USB. Depois, há o que normalmente chamamos de segurança cibernética: proteger redes e dispositivos contra invasões indesejadas. E, finalmente, temos o que Rogers e Terp chamam de segurança cognitiva, que consiste essencialmente em hackear pessoas, usar informações privadas ou, mais frequentemente, desinformação.”
O CTIL parece ter gerado publicidade sobre si próprio na Primavera e no Outono de 2020 pela mesma razão que o EIP o fez: para afirmar mais tarde que o seu trabalho era aberto e que qualquer pessoa que sugerisse que era secreto estava a envolver-se numa teoria da conspiração.
O EIP afirmou em outubro de 2022:
“A Parceria para a Integridade Eleitoral sempre funcionou de forma aberta e transparente. Publicámos vários posts em blogs antes das eleições de 2020, organizamos seminários online diários imediatamente antes e depois das eleições e publicámos os nossos resultados num relatório final de 290 páginas e em vários periódicos académicos revistos por pares. Qualquer insinuação de que informações sobre as nossas operações ou descobertas eram secretas é refutada pelos dois anos de conteúdo público gratuito que criamos.”
Mas, como revelaram mensagens internas, muito do que o EIP fez foi secreto, bem como partidário, e implicou a prática da censura por parte das plataformas de redes sociais, contrariamente às suas reivindicações.
A EIP e a VP encerraram entretanto a sua actividade. Mas o CTIL aparentemente ainda está activo, com base nas páginas de seus membros no LinkedIn.
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