Em 2021, um sistema altamente classificado dentro do National Reconnaissance Office (NRO) detectou o que descreveu como um pequeno (<10m) objecto em forma de “tic tac” (analogia com rebuçado de mentol de formato tubular) que “não correspondia à assinatura visual de detecções típicas de aeronaves”. O sistema que observou este objecto chama-se “Sentient”, e este programa do NRO, cujos pormenores permanecem altamente secretos, parece algo tirado de um filme de ficção científica, e não uma ferramenta actualmente em pleno funcionamento na comunidade de inteligência americana.

Descrevendo o sistema, a jornalista Sarah Scoles escreveu num artigo de 2019 publicado no The Verge:

“O Sentient é uma ferramenta de análise multidimensional, capaz de devorar dados de todos os tipos e sistematizá-los de forma a dar sentido ao passado e ao presente, antecipar o futuro e apontar satélites de vigilância para o que determina que serão as partes mais interessantes desse futuro”.

A sério? Sim, a sério:

 

 

Os detalhes sobre o sistema, a sua mecânica interna e os seus verdadeiros objectivos, permanecem misteriosos. Mas pelo menos uma das capacidades do Sentient foi revelada pela desclassificação e divulgação em 2022 de vários documentos confidencias sob a Lei de Liberdade de Informação (FOIA): a detecção de OVNIs.

Um documento que foi trazido à atenção do The Black Vault na semana passada pelo pesquisador Kyle Warfel, que o recebeu por meio de seu próprio pedido FOIA registado em Maio de 2022, revela que existem na verdade vários registos já divulgados pelo NRO sobre este avistamento de OVNIS em 2022, mas que não foram noticiados pelos media.

A deteção do OVNI ocorreu a 6 de maio de 2021, e vários registos divulgados pelo NRO podem ser reunidos para formar tirar conclusões. David Grusch, o informador que foi em Julho testemunhar ao Congresso que os EUA têm em seu poder veículos e tecidos biológicos de origem não humana era nesta altura o chefe interino de operações do NRO, a agência de inteligência do Departamento de Defesa que mais onerosa se mostra ao erário público americano, captando mais financiamento que a CIA e a NSA.

 

 

O relatório do NRO informa que o OVNI

“Assemelha-se vagamernte a detecções semelhantes de objectos aéreos não identificados registados por aeronaves e navios de superfície da Marinha dos EUA.”

O local onde este objecto foi detectado permanece desconhecido, mas uma apresentação PowerPoint redigida e divulgada pelo NRO liga avistamentos anteriores da Marinha dos EUA e descreve, numa clara referência aos “Encontros Nimitz”, que este objecto apresentava

“semelhança aproximada com a forma ‘tic-tac’ relatada em 2004”.

 

Imagem divulgada pelo Pentágono que mostra um “tic tac” captado em 2004 por caças do USS Nimitz.

 

A apresentação também indicava que os dados sobre o OVNI não decorriam de anomalias técnicas do equipamento.

“Para reforçar a improbabilidade de uma anomalia nos sensores, um segundo OVNI foi detectado por pelo menos um outro sensor. O objecto foi também visível numa segunda imagem sobre a água, captada na mesma área, cerca de 15 segundos mais tarde”.

Se for verdade, isto significa que vários sensores captaram o mesmo objecto na mesma área, e poderiam ser usados em conjunto para análise posterior. No entanto, é mais que provável que tudo isto permanecerá altamente secreto, dada a quantidade de texto oculto nos registos divulgados. Pelo menos 24 páginas do documento foram censuradas na íntegra com a divulgação das duas apresentações em PowerPoint pelo NRO.

 

 

Um outro lote de registos divulgado incluía uma série de mensagens de correio electrónico entre o que é provavelmente a Força de Intervenção UAP (sigla para a versão em inglês de Fenómenos Anómalos Não Identificados), o NRO e o que parece ser potencialmente uma empresa fornecedora do governo. No entanto, com grandes porções do texto obliteradas, é impossível deduzir exactamente quem é quem.

O que se pode deduzir é o facto de que o programa Sentient é de facto usado para detetcar OVNIs, incorporando até uma aplicação para essa tarefa, que no momento da divulgação dos documentos apenas precisava de “ser ligada”.

 

 

O sistema Sentient também detectou a presença de outra “nave” a cerca de 25 quilómetros de distância do ‘tic tac’, embora a identidade dessa nave permaneça desconhecida, uma vez que também foi apagada na apresentação PowerPoint. No mesmo diapositivo, é feita uma referência a actividades de comando e controlo do ‘tic-tac’ por parte dessa outra nave. No entanto, por causa de passagens de texto censuradas, é difícil determinar exatamente qual é a ligação entre as duas naves. É possível que o objecto fizesse parte de uma operação de vigilância, de um exercício de treino ou de uma série de outras possibilidades decorrentes de actividade humana ou não humana, mas tudo isto não passa de pura especulação.

Como o Contracultura já documentou, os “Encontros Nimitz” ocorreram em Novembro de 2004, a cerca de 150 quilómetros da costa da Califórnia, perto de San Diego, onde o Nimitz Carrier Strike Group realizava exercícios rotineiros de defesa aérea. Dezenas de pilotos, técnicos de radar e controladores de tráfego aéreo testemunhariam um dos encontros imediatos com objectos voadores não identificados mais bem documentados de que há registo, incluindo comunicações entre pilotos e controladores de tráfego, cadastros de radar e imagens captadas pelas câmaras dos caças. Estes encontros, parcialmente confirmados pela Marinha americana 13 anos mais tarde, foram detectados e gravados pelo comando do Nimitz e relatam a presença no espaço aéreo californiano de objectos cujo comportamento dinâmico é difícil de explicar, à luz da ciência e da tecnologia contemporâneas.