A degradação da qualidade do discurso nas sociedades ocidentais é sintomática do estado de declínio civilizacional e um dos primeiros factores que promovem essa degradação é o uso sistemático do insulto, da difamação, da acusação vil e espúria, sem fundamentos para além da retórica de plástico que é muito popular nas redacções e nos gabinetes dos poderes instituídos: racista, antissemita, xenófobo, sexista, misógino, homofóbico, transfóbico, negacionista, chalupa, extremista, nazi. Qualquer pessoa que diga seja o que for fora da narrativa que é debitada com intensidade feroz pelos media corportativos e seus senhores omnipotentes é vilipendiado com os adjectivos perfjorativos da moda que mais se adequem ao assunto que motivou a dissidência.

Uma datleta profissional que não ache justo ser obrigada a competir contra homens biológicos é transfóbica. Pais que não querem que os seus filhos sejam atormentados por espectáculos pornográficos apresentados por travestis na hora do conto são homofóbicos. Alguém que não concorde com a forma como a União Europeia ou a Nato está a conduzir a questão ucraniana é fascista. Aqueles que não se vacinaram são negacionistas. Outros que não querem ver cerceada a sua liberdade de movimentos e que argumentam contra as cidades de 15 minutos são extremistas e há multidões de terroristas todos os dias nas ruas de Paris, porque é um acto terrorista questionar qualquer decisão de Macron. Nos tempos que correm, alguém que protesta é alguém que odeia. Alguém que diverge é alguém odioso. Alguém que não pactua é um alvo a abater. O simples acto da dissidência é merecedor do todo o insulto.

E o canivete suíço do insulto é a “extrema-direita”. Qualquer opinião divergente é de extrema direita. O amor pelo país é de extrema-direita, ser bom a matemática, ou pontual, é de extrema-direita. Duvidar das virtudes da “diversidade” é de extrema-direita. Acreditar no Deus cristão é de extrema-direita. Até Neil Oliver, que nunca pensou ser de extrema-direita na vida, é agora, para a imprensa britânica e não só, uma versão escocesa de Mussolini, e a propósito de um monólogo em que defendia os valores constitucionais ingleses, foi prontamente acusado pelo The Guardian, de antissemitismo, num salto semântico que só possível nos ginásios dantescos em que se transformaram as redacções contemporâneas.

 

 

A distribuição em doses industriais de insultos por toda a gente que recuse as máximas da propaganda oficial serve como forma de alienar as pessoas e distrai-las sobre os crimes que estão de facto a ocorrer e sobre os verdadeiros criminosos que operam impunemente nas sociedades ocidentais e sobre as suas vítimas reais. Um exemplo gritante desta situação é a dos abusos sexuais perpetrados por grupos de homens islâmicos, que ocorreram em massa no Reino Unido sem que ninguém interviesse. Como os criminosos eram muçulmanos e as raparigas violadas eram brancas nativas, a imprensa e a polícia e os aparelhos políticos e judiciais não tocaram no assunto, para não parecerem… racistas.

O armamento verbal foi cuidadosamente municiado para eliminar o debate. E tudo foi intencionalmente orquestrado pelos governos e pelos activistas e pelos jornalistas de forma a manter o controlo sobre a narrativa. Ainda assim, a fealdade generalista do discurso acaba por anular o seu sentido. Se somos todos nazis ninguém é nazi, se somos todos homofóbicos ninguém é homofóbico e assim sucessivamente.

O problema é que a linguagem é uma pedra fundamental da civilização. Sem a sua correcta utilização, a existência humana perde coerência social e referência com a realidade objectiva. É urgente recuperar essa ligação que as palavras mantêm com a realidade e resgatar aos poderes instituídos o monopólio da verdade. Porque podemos sempre ignorar um insulto. Mas não podemos continuar a viver num estado de esquizofrenia linguística.