O ContraCultura não é grande adepto da velha dicotomia esquerda/direita, até porque a direita hoje está muito mais preocupada com causas da esquerda clássica do que a esquerda contemporânea, que se movimenta de mãos dadas com o capitalismo corporativo e a agenda das elites e esqueceu completamente as classes de colarinho azul. Mas recuperamos por uma vez essa dicotomia para ilustrar a dualidade de critérios que é hoje uma constante no Ocidente, com especial incidência nos EUA.

Na quinta-feira passada, uma multidão de activistas anti-Segunda Emenda invadiu o congresso estadual do Tennessee, exigindo restrições ao direito dos americanos a possuir armas. As imagens vídeo mostram a turba a empurrar as forças de segurança, forçando a invasão da assembleia e gritando palavras de ordem nas orelhas do legisladores do estado com um megafone.

 

 

Pelos padrões que a esquerda utilizou para qualificar o motim de 6 de Janeiro, esta invasão do congresso de Tennessee seria uma insurreição e uma perigosa ameaça à democracia. Não surpreendentemente porém, os democratas e os meios de comunicação social corporativos classificaram o ataque como “pacífico” e os insurrectos como “manifestantes”. Entretanto, o Departamento de Justiça, que durante mais de dois anos tem perseguido aqueles que se manifestaram no Capitólio a 6 de Janeiro de 2021, nada disse até agora sobre estes acontecimentos..

Irão os insurrectos ser atirados para a prisão durante dois anos e ser-lhes-á negado o devido processo? Irá o FBI começar a rotular os liberais mainstream como terroristas, como o antigo director adjunto do FBI, Andrew McCabe, fez aos conservadores após 6 de Janeiro? Haverá um julgamento fantoche no Congresso para difamar estes manifestantes enquanto são escondidas do público e dos advogados dos arguidos as imagens de vigilância que os ilibam? Será o 30 de Março de 2023 um dos dias mais negros da história americana – comparável a Pearl Harbor, ao 11 de Setembro, e à Guerra Civil? É claro que não. Como sempre, is insurrectos de esquerda são manifestantes enquanto os manifestantes de direita são insurrectos.

As reacções extremamente díspares dos Democratas, da imprensa corporativa e do Departamento de Justiça às “insurreições” do Capitólio de Washington e do Congresso do Tennessee são emblemáticas da dualidade de critérios que impera hoje no sistema político, mediático e judicial da federação. Em 2020, o movimento Black Lives Matter incendiou as cidades americanas. Os danos materiais e as vidas perdidas foram muito maiores durante o Verão de 2020 do que em 6 de Janeiro de 21 (nem se compara). No entanto, os amotinados do BLM foram glorificados e os seus líderes enriquecidos. Até a vice-presidente Kamala Harris contribui financeiramente para o movimento de destruição e caos que assolou a América.

Mais recentemente, Chester Gallagher foi preso e a sua casa foi invadida pelo FBI depois de orquestrar uma manifestação pacífica pró-vida perto de uma clínica de aborto. Gallagher e sete outros activistas pró-vida enfrentam actualmente acusações federais, cortesia do Departamento de Estado do Regime Biden. No entanto, muitos vândalos e terroristas pró-aborto, que passaram meses a desfigurar e a bombardear dezenas de centros de apoio à gravidez e de igrejas pró-vida após a anulação de Roe v. Wade, foram libertados sem problemas de maior ou nem sequer chegaram a ser incomodados pelas autoridades.

Os Serviços de Gravidez CompassCare, um centro pró-vida em Buffalo, Nova Iorque, forneceram à polícia local e ao FBI imagens de vigilância do ataque com bombas incendiárias ao seu edifício. Depois de a CompassCare ter percebido que o FBI e a polícia local não iriam fazer quaisquer detenções, pediu os seus registos vídeo de volta. As autoridades policiais recusaram, alegando que a devolução das imagens aos seus legítimos proprietários poderia desencadear “violência de extrema-direita”. O grupo terrorista pró-aborto Jane’s Revenge assumiu abertamente a responsabilidade pela bomba incendiária, mas até hoje não foram efectuadas quaiquer detenções relacionadas com esse ataque.

Ainda esta semana, o ex-Presidente Donald Trump foi indiciado com base em mais de 30 acusações, que dão direito a um máximo de 136 anos de prisão (!), pelo promotor público de Nova Iorque, Alvin Bragg. E enquanto os esquerdistas papagueiam o argumento espúrio de que “ninguém está acima da lei”, o mesmo procurador recusa-se perseguir o crime urbano no seu distrito, que está a atingir níveis insustentáveis.

Enquanto isso, os gravíssimos e mais que flagrantes indícios de comportamento criminal da família Biden continuam por averiguar. Enquanto isso, o assassino de crianças da escola cristã de Nashville, por ser transsexual, é tratado pela imprensa como uma vítima e por activistas como um herói e o Departamento de Justiça nem sequer rotulou o acto de terror como um crime de ódio, como certamente faria se o intérprete fosse branco, heterossexual e conservador. Enquanto isso, Douglas Mackey, um apoiante de Trump, está prestes a ser condenado a 10 anos de prisão por ter postado um meme numa rede social. E um meme cuja semântica Mackey alterou apenas ligeiramente depois de ter sido utilizado milhares de vezes pela esquerda, sem que ninguém tenha sido penalizado por isso.

A impune insurreição do Congresso do Tennessee, os factos que acrescentámos, e muitos outros que o princípio de economia que o Contra gosta de aplicar aos seus conteúdos obriga a subtrair, confirmam, mais uma vez, que já não há equidade no sistema judicial dos EUA. O estado de direito é um valor perdido na federação inventada por juristas lendários como Jonh Adams e Thomas Jefferson. E é por isso que um número crescente de conservadores e cristãos americanos já não se sentem livres, seguros ou protegidos pela lei no seu próprio país.

Têm muitas e boas razão para isso.