O Departamento de Polícia de Nova Iorque (NYPD) mobilizou 700 polícias anti-motim e montou barricadas de aço em torno do Tribunal Penal de Manhattan em antecipação da eventual desordem civil, caso o Ministério Público de Manhattan ordene a prisão do ex-Presidente Donald Trump, na sequência de uma acusação de grande júri por alegadamente ter pago a uma antiga estrela porno pelo seu silêncio durante a campanha presidencial de 2016.

 


 

Segundo o Trending Politics, mais de uma dúzia de altos funcionários do Departamento de Polícia e dois dos principais auxiliares de segurança pública do presidente da câmara reuniram para discutir condições de segurança, disponibilidade de efectivos e planos de contingência no caso de se verificarem protestos, embora qualquer análise realista tenha que concluir que essa hipótese é remota. Em todo o distrito de Nova Iorque devem viver não mais que uns 100 eleitores de Trump e todos os seus apoiantes sabem que se fossem para a rua nesta zona do planeta acabariam mastigados pela polícia e encarcerados rapidamente.

Como o Contra já referiu, em circunstâncias normais a decisão de indiciar Trump seria ponderada extra-judicialmente, porque o homem é o provável candidato republicano às próximas eleições presidenciais, porque as acusações têm valor judicial praticamente nulo e são impossíveis de provar (Trump pode facilmente alegar que pagou o silêncio da actriz para salvar o seu casamento, por exemplo) e porque casos como estes ocorreram para lá de mil vezes, impunemente, na história eleitoral e corporativa dos EUA.

Entretanto, representantes republicanos do Congresso exigem que o procurador de Manhattan Alvin Bragg explique a fuga de informação e a decisão de processar Trump. Numa carta endereçada a Bragg por Jim Jordan (Presidente do Comité Judiciário), James Comer (Presidente do Comité de Supervisão) e Bryan Steil (Presidente da Administração da Câmara) lemos:

“O Senhor está prestes a envolver-se num abuso sem precedentes da autoridade do Ministério Público: a acusação de um antigo Presidente dos Estados Unidos e actual candidato declarado para esse cargo. Esta acusação surge após o seu gabinete ter passado anos à procura de uma base – qualquer base – sobre a qual assentar uma acusação, acabando por se basear numa nova teoria jurídica não testada em qualquer parte do país e que as autoridades federais se recusaram a seguir”.

A carta prossegue criticando a “teoria jurídica não testada” subjacente à acusação de Bragg, e argumenta, com legitimidade, que o antigo advogado de Trump Michael Cohen, a testemunha principal de Bragg e um mentiroso condenado, tem um “grave problema de credibilidade”.

A carta exige todos os documentos e comunicações relacionados com a decisão.

 


 
O líder da maioria republicana da Casa dos Representantes Kevin McCarthy também já se pronunciou sobre o tema escaldante:

“Este é o tipo de iniciativa divisiva e errada que a América odeia. Alvin Bragg alivia as penas dos criminosos em Nova Iorque enquanto processa os seus opositores políticos. É interessante que ele tenha passado todo o seu tempo como procurador público a despenalizar crimes e a recusar a indiciação de criminosos enquanto se entrega à perseguição política. Penso que tanto os Republicanos como os Democratas detestam este tipo prática”.

Tucker Carlson também já mostrou preocupação em relação a esta forma sectária de fazer justiça e pergunta: o que é que acontece a um país cujo sistema judicial passa a braço armado de um partido político? A resposta, que não será civilizada, fica guardada para um futuro infernal e próximo, nos Estados Unidos da América.

 

 

Por outro lado, a imprensa mainstream não podia estar mais feliz. O New York Times relata o eventual encarceramento de Trump com indisfarçável júbilo e requintes sádicos:

“Se for indiciado por um grande júri de Manhattan nos próximos dias pelo seu papel num pagamento em dinheiro a uma estrela pornográfica, o ex-presidente dos Estados Unidos da América ficará com as suas impressões digitais cadastradas. Será fotografado. Poderá até ser algemado. Ser-lhe-á dito que tem o direito de permanecer em silêncio e o direito a um advogado. Estes são algumas das rotinas para as detenções criminais em Nova Iorque. Mas a prisão sem precedentes de um ex-comandante-chefe – aquele cujos devotos apoiantes encenaram um ataque violento ao Capitólio – será tudo menos rotineiro”.

Carregando na tecla da fabricação de factos, o NYT traçou também um paralelo entre os preparativos de segurança da cidade de Nova Iorque para a potencial acusação de Trump e os motins do Capitólio a 6 de Janeiro de 2021.

“Num post no seu site Truth Social Trump exortou os seus apoiantes a protestarem, evocando memórias do 6 de Janeiro de 2020 e consequente assalto ao Capitólio”.

É preciso sublinhar que Donal Trump nunca incentivou ninguém a invadir o Capitólio e que essa invasão foi tudo menos violenta, conforme foi demonstrado pela recente divulgação das imagens de circuito interno do Capitólio.

O director de um outro pasquim, o Bellingcat, usou tecnologias de inteligência artificial para ilustrar a eventual prisão de Trump.  Eliot Higgins, o fundador deste veículo de propaganda que se afirma “não partidário” e que promete combater a “desinformação”, está a usar o algoritmo da Midjourney para realizar as suas fantasias sobre a captura do ex-Presidente.

 


 

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