Este texto o constitui a segunda parte de um ensaio dedicado à decadência epistemológica da Física. Recomendamos a leitura prévia da sua primeira parte.
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O universo tem exactamente 14 biliões de anos. Mais 4 biliões, menos 4 biliões.
Não há limite para a ignorância humana, e muito principalmente para a ignorância do género científico e, semana sim, semana sim surgem notícias catastróficas para a Física. Para além de não sabermos nada sobre a origem, a natureza e a geografia de uma esmagadora quantidade de matéria cósmica, parece agora que também desconhecemos a sua idade.
Nos últimos 50 anos os cosmólogos têm chegado a conclusões divergentes sobre a idade do Universo. Em função do método usado (decaimento para o vermelho, radiação cósmica de fundo ou galáxias locais) a conta foi oscilando entre os 13 e os 14 biliões de anos. Mas ainda assim, as divergências podiam, com uma certa dose de optimismo, estar dentro da margem de erro provável para estas contas de aniversário, dada a ambiciosa e complexa tarefa.
Muito recentemente, porém, Eleonora Di Valentino, Alessandro Melchiorri e Joseph Silk publicaram um artigo na Nature Astronomy que caiu como uma bomba de hidrogénio na comunidade atarantada dos astrofísicos. Se considerarmos, como novos dados evidenciam, que o Universo é fechado (tem uma forma e um perímetro), e se alterarmos a equação que mensura a sua idade de acordo com esse princípio axiomático, o universo terá afinal 18 biliões de anos. Por outro lado, as recentes observações do James Webb Telescope apontam para uma idade do cosmos que ultrapassa os 20 biliões de anos. São muitos biliões a mais para que o Modelo Standard da Física continue a valer como se nada fosse.
Ainda por cima, os autores do paper explosivo publicado pela Nature anunciam que, a acreditar na matemática, a quantidade de matéria negra terá também que ser superior ao que supomos, mais na ordem dos 50% do que dos 25%. Quer isto dizer que, se calhar, aquela parte de 7% da matéria que achávamos que conhecíamos, deve ser ainda mais ínfima do que ingenuamente acreditávamos.
Assim sendo, somamos a uma ignorância grande, uma outra em excesso. A simpática e articulada astrofísica Rebecca Smethurst dá uma ideia da hecatombe epistemológica aqui:
O modelo standard da fé cega.
Se o leitor perguntar a um físico de partículas qual a maior conquista da ciência nos últimos 50 anos, as probabilidades apontam para que ele lhe diga que é o Modelo Standard, espécie de tabela periódica dos elementos quânticos constituintes da matéria.
Acontece que o Modelo Standard é um verdadeiro queijo suíço. Está cheio de buracos porque lhe faltam partículas para que as contas batam certas, mas essas partículas não aparecem nem por nada e por muito que o HLC acelere protões, bosões, fotões e gluões e os faça colidir uns contra os outros.
Acresce que uma das partículas essenciais que escapam à tabela é o gravitão. Sem ele, o Modelo Standard não consegue sequer integrar as forças gravíticas que parecem evidentes na mecânica cósmica. O Modelo é de tal forma assertivo que ignora Newton.
A teoria também não consegue explicar porque raio é que o Universo existe (matéria e anti-matéria deviam ter-se anulado mutuamente no momento da criação e parece evidente que isso não aconteceu); porque diabo é que o universo se está a expandir a um ritmo exponencial, já que esse movimento se deve à energia negra (que o Modelo não contempla e que deve corresponder “só” a 68% da energia total no cosmos); e porque é que as galáxias giram como giram, facto atribuído à matéria negra, cujas partículas elementares são desconhecidas e que por isso também não constam da equação.
Para além disso, simetrias, massas, spins, densidades e pesos também estão, muito provavelmente, errados. Os neutrinos não deviam ter massa, mas têm, os equilíbrios simétricos são meras abstrações matemáticas sem correspondência real, e, como relata este artigo da Quanta, o peso do Bosão W não corresponde minimamente às previsões da teoria. E só por causa disso, um quarto do Modelo pode ser enviado para o caixote do lixo do conhecimento científico.
Assim sendo, o Modelo Standard da Física das Partículas é tão útil e pertinente como um avião sem asas.
Como exercício de fé, a ciência funciona muito mal.
Um Princípio conveniente. É uma pena que esteja errado.
Da longa série de equívocos que constituem a cosmologia estabelecida no mainstream académico, um que é fundamental e sem o qual todo o aparelho teórico se desfaz em bocadinhos assaz irrelevantes, é o Princípio Cosmológico (não confundir com Constante Cosmológica, que é algo completamente diferente), segundo o qual a matéria se distribui de forma relativamente uniforme pelo tecido do espaço-tempo.
Acontece apenas que tal Princípio não concorda em nada com as evidências observáveis e mensuráveis. Muito antes pelo contrário. E essa infeliz divergência entre a teoria e a realidade, traz consigo implicações sísmicas. Por exemplo: se a densidade da matéria oscila significativamente em função das localidades cósmicas, então não precisamos, conceptual e matematicamente, da matéria negra para nada.
Com a sua habitual, germânica e desempoeirada retórica, Sabine Hossenfelder desenvolve o tema e desconstrói o mito, provando mais uma vez que as ciências exactas dos dias que correm têm mais de metafísica do que de física.
É incrível como os cosmólogos contemporâneos sobrevivem a tantas sessões de pancadaria.
Dados os buracos gigantescos abertos sobre o tecido da física teórica, é de espantar que as academias ainda sejam povoadas por tantos falsos profetas, sendo certo que o aspecto financeiro das suas carreiras não é de todo despiciendo para a sua insistente, mas desorientada, perseguição dos mistérios do universo.
Com o colapso do tão amado Modelo Standard da Física de Partículas, cai a ideia que a Mecânica Quântica tem trabalhado e trabalha sobre um fidedigno quadro de representação da realidade, com algum entendimento dos elementos fundamentais que constituem a matéria; e a difusa crença de que os físicos dominam as leis básicas da natureza, tem que ser rejeitada. É começar do zero, e fazer cara alegre.
Se deseja permanecer crédulo sobre as alegadas glórias da Física contemporânea, caro leitor, não lhe recomendo este artigo da Quanta.
E quem é que paga as carreiras milionárias e os hiper-onerosos aceleradores de partículas com que estas crianças grandes se entretêm quotidianamente? O contribuinte, claro. Que para além de suportar os custos, também tem que “acreditar” na Ciência.
Mas se no plano quântico as coisas não correm lá muito bem, na física dos corpos celestes o panorama é outrossim deprimente. Para além do que já foi escrito neste e no anterior artigo sobre o mesmo tema, as notícias que invalidam o modelo cosmológico são constantes. Por exemplo, afinal parece que o universo não está a crescer exponencialmente, como era convicção generalizada. Se calhar nem está a crescer de todo. Se calhar estamos a mensurar mal o fenómeno. Se calhar a Energia Negra não precisa de existir, sequer. Se calhar a Constante Cosmológica tem que ser revista.
Do paper publicado recentemente por Jacques Colin, Roya Mohayaee, Mohamed Rameez e Subir Sarkar na Astronomy & Astrophysics:
“The cosmic acceleration deduced from supernovae may be an artefact of our being non-Copernican observers, rather than evidence for a dominant component of dark energy in the Universe.”
Sabine explica os detalhes do estudo e as implicações brutais das suas conclusões.
Mas há mais pancadaria: em Março desta ano, Certos de que iam observar as primeiras estrelas da história do universo, os astrónomos da Antena de EDGES, na Austrália, detectaram coisa nenhuma. Tudo o que observaram foi um cosmos frio e vazio que vai contra tudo o que a astrofísica teórica afirma como verdadeiro.
Mais um artigo da Quanta Magazine que é esclarecedor sobre o descalabro das cosmologia no Século XXI.
Epílogo: Deus está fora da equação.
“Chimpanzees and humans are closer cousins of each other than chimpanzees are to gorillas.”
Richard Dawkins . Something from Nothing
Os cosmólogos de hoje em dia, com raras excepções, até dão pena: o universo é para eles um verdadeiro mistério. Não percebem nada do assunto e estão sempre a ficar chocados com as evidências e como as evidências não encaixam nos seus cálculos dogmáticos, de aprendizes de feiticeiro. Apesar de não conseguirem fazer uma pequena ideia do que é a realidade, insistem na velha e singular certeza de sempre: Deus não existe. Deus não existe, ouviram bem? Deus não existe de certeza absoluta.
A ironia imanente neste breve e sucinto ensaio é precisamente essa. Perguntados pela composição material de 96% do universo, estes ilustres académicos não vão oferecer mais que hipóteses vagas e, muito provavelmente, míopes. Inquiridos sobre a hipótese do universo ter um fim (já que parece ter tido um princípio), não serão capazes de uma resposta definitiva. Caso o leigo se mostre confuso com as implicações filosóficas da Teoria das Cordas, eles não vão ajudá-lo com claridades. Se lhes falarmos dos paradoxos inerentes à concepção do espaço-tempo einsteiniano, vão calar o incómodo. Se os confrontarmos com o comportamento “poltergeist” dos bosões no Condensado de Bose-Einstein, eles vão ensinar apenas a resignação ao mistério. Enfim, se esperarmos que nos iluminem sobre a razão de estarmos vivos, sobre a razão do cosmos ser como é, de existir algo em vez de nada ou da partícula ser uma partícula e uma onda ao mesmo tempo, caro leitor, podemos esperar sentados, munidos da sábia e infinda paciência de Jorge Luis Borges. Mas se, num momento irreflectido, cometermos o erro trágico de os inquirir sobre a natureza da fé, bom Jesus: terão verdades absolutas e certezas irredutíveis para dar, emprestar e vender.
Ora, quanto mais penetramos nos interstícios das falências técnicas da física teórica, mais válida parece a hipótese de um Deus Criador. E mais evidente se torna a convicção socrática de que há verdades que não nos são dadas, precisamente aquelas que a ciência procura, e verdades que nos são bem servidas, como aquelas inscritas numa obra de arte, expressas num aparelho moral ou consagradas numa confissão religiosa.
A este propósito, é possível arriscar até a hipótese de que a ciência, no seu frenesim, faz perguntas para as quais já existem ancestrais respostas. Gerald Schroeder físico, autor e professor israelita, demonstrou, nos anos noventa, com recurso às equações de campo de Einstein e por incrível que possa parecer, que o Universo tem de facto 6 dias de existência, como está determinado no Antigo Testamento. Porque o fluxo temporal de expansão do universo é observado de formas diferentes em função da perspectiva e localização do observador, e porque, continuando na senda da Teoria da Relatividade Geral, um dia passado no local exacto onde o BigBang teve a sua ignição equivale a 1 trilião de dias decorridos na Terra, as contas da bíblia batem certo com os cálculos da física contemporânea sobre a idade do universo, expressos nos primeiros parágrafos deste texto. 6 dias para Deus, 14 biliões de anos para nós.
Como o espectacular Professor James Tour faz notar com rara eloquência e entusiasmo abundante no clip em baixo, a ciência não serve para aniquilar a fé. Muito pelo contrário. Nos seus melhores momentos, reforça-a.
A comunidade científica não deve porém ser alvo da nossa comiseração, porque caiu numa armadilha dogmática que é da sua inteira responsabilidade. Estes senhores deviam saber que não cabe ao cientista a morte de Deus. Esse assassinato só é permitido a três tipos de infelizes: aos artistas, aos filósofos e, idealmente, aos teólogos (embora dentro deste grupo só possamos contar com a facção suicidária).
Aos cientistas não compete explicar os fenómenos cósmicos. Compete descrevê-los. E alertar os pobres de espírito que o cosmos é extremamente avaro de verdades absolutas. Que devemos moderar as nossas convicções sobre isto ou aquilo e que, na maior parte dos casos, é aconselhável guardar para nós os nossos preconceitos. Até porque, se todos os universos são afinal possíveis, como gostam de especular os adeptos da Teoria das Cordas e os defensores da hipótese do Multiverso, que acreditam que os universos são gerados a partir de coisa nenhuma e que não precisam de energia para nascer e que por isso existirão incontáveis como este, haverá pelo menos um com Deus lá dentro, certo? Quando o pensamento lógico é pobre, podemos sempre utilizá-lo em seu detrimento.
A citação com que se inicia este último segmento é de um biólogo proeminente que também faz parte desta ilustre congregação de ateus, embora, ironicamente, sirva perfeitamente o argumento definitivo deste ensaio: a biologia do chimpanzé é mais parecida com a nossa do que com a de um gorila. O Homo Sapiens tem 860.000 anos. É um primata recente e, considerando a escala do cosmos onde foi inserido, completamente insignificante. Pensar que este bicho rudimentar que aqui está há tão pouco tempo pode entender um universo com dezenas de biliões de anos e 170 biliões de galáxias é de uma pretensão assustadora. E é esse susto que deve educar sempre a opinião de um cientista.
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