Graças à tecnologia de vanguarda do James Webb Space Telescope e ao seu impecável registo performativo, novas e belas e enigmáticas imagens estão a ser produzidas todos os dias, a um ritmo impressionante. Muitas delas são recriadas, a partir dos dados em bruto que a NASA e a ESA têm a gentileza de passar para o domínio público, por astrónomos amadores. É que o James Webb não envia para a Terra as imagens finalizadas, mas sim uma espécie de ficheiros RAW (em extensão FITS) a preto e branco, com as frequências cromáticas codificadas. Os astrónomos têm depois que atribuir a cada pixel as cores indexadas, o que implica muitas horas de trabalho, algum entendimento técnico da tecnologia FITS e bastante práctica na geração das imagens, mas cuja método é, de qualquer forma, acessível a amadores.

Judy Schmidt, uma adolescente prodígio que se dedica a essa produção de imagens literalmente astronómicas, conseguiu gerar, a partir dos dados do James Webb, aquela que é, até ver, a mais exuberante e detalhada representação fotográfica que temos de Júpiter:

 

 

Na belíssima imagem conseguimos discernir os anéis (sim o monstro gasoso, tem anéis também) e as auroras polares. O detalhe das massas gasosas em circulação na atmosfera e das tempestades brutais que se desencadeiam perpetuamente no maior planeta do sistema solar é incrível. O olho vermelho característico de Júpiter, surge a branco, muito provavelmente por efeito da reflexão da luz solar.

Outra imagem super intrigante que Judy conseguiu reproduzir a partir dos dados do James Webb é esta, referente à galáxia NGC 1365, que dista 56 milhões de anos-luz da Terra.

 

 

A galáxia tem uma morfologia inédita, com dois eixos na espiral, que constituem uma nunca vista e estranha dialéctica. Esta dinâmica dual atrai gigantescas quantidades de matéria gasosa que é geradora de novas estrelas e que alimenta um alegado buraco negro no seu centro.

O super telescópio conseguiu também detectar, a apenas 2.000 anos luz do nosso sistema solar, uma anã castanha Tipo T, Estas anãs são objectos siderais raros e difíceis de observar porque emitem muito pouca luz (neste caos específico a estrela apresenta temperaturas perto daquelas que se registam em Vénus) e são apenas visíveis num muito limitado espectro de infravermelhos.

 

 

Entretanto, retiradas de imagens enormes de campo profundo, descobrem-se novas e iniciáticas galáxias. Esta, com um redshift (desvio para o vermelho) de 14 (que na verdade rebenta com a escala) terá mais de 15 biliões de anos e a sua origem estará a para lá dos 28 biliões de anos-luz da Terra. O que estamos aqui a ver é, para respeitar os cânones da astrofísica estabelecida (que em certo sentido as obervações do Webb estão a pôr em causa), uma das primeiras galáxias da história do universo.

 

 

As imagens resultantes dos dados do Webb estão também a fornecer aos cientistas matéria preciosa para aprofundar conhecimentos sobre os clusters. Os que surgem nestas imagens são também produto da primeira idade do cosmos, datando apenas cerca de 500 milhões de anos depois do Big Bang.

 

 

Os clusters, aglomerados de alta densidade estelar são importantes para muitas áreas da astronomia, e quanto mais antigos mais importantes, na medida em que quase todas as estrelas desses primeiros aglomerados nasceram mais ou menos ao mesmo tempo, pelo que as suas propriedades são relativamente homogéneas, divergindo apenas na massa e facilitando assim o estudo da evolução estelar. Nesta imagem de campo profundo, estão assinalados vários protoclusters que aparentemente irão convergir para criarem novos aglomerados.

 

 

Entretanto, a ESA também está a improvisar, no bom sentido do termo, ao justapor imagens do Hubble com imagens do Webb, obtendo assim, através da convergência dos vários espectros da luz que são captados pelos dois telescópios, uma imagem mais próxima da realidade holística e monumentalmente bela dos corpos celestes.

 

 

O Anton Petrov também tem tido algumas dificuldades em acompanhar o ritmo vertiginoso das descobertas do incrível instrumento oftalmológico que as agências espaciais americana e europeia colocaram em órbita. Mas ainda assim, ajuda bastante a audiência global – e a do ContraCultura – nos detalhes técnicos.

 

 

O James Webb é de facto uma máquina espantosa, que transcende as fronteiras espaciais e temporais para nos oferecer uma nova visão do cosmos. Se bem que, para desgraça da comunidade científica, possa vir a curto prazo a desmantelar completamente a antiga.