“Acredito que as instituições bancárias são mais perigosas para as nossas liberdades do que os exércitos regulares. Se o povo americano alguma vez permitir que os bancos privados controlem a emissão da sua moeda, os bancos e as empresas que crescerão à sua volta privarão o povo de toda a propriedade até que os seus filhos acordem sem abrigo no continente conquistado pelos seus pais… O poder de emissão deve ser retirado dos bancos e restituído ao povo, a quem pertence”.
Thomas Jefferson
Há, na história dos homens, apenas um elo sagrado que os une a todos: o dinheiro. O dinheiro é a única igreja universal, o singular valor absoluto que transcende todas as discórdias e que reúne no mesmo altar crentes e ateus, muçulmanos e cristãos, revolucionários e conservadores, castelhanos e catalães, argentinos e brasileiros, indianos e paquistaneses, russos e polacos, alemães e franceses, islandeses e suecos, gregos e turcos, coreanos do norte e do sul, profissionais de golfe e amadores de futebol salão, polícias e ladrões, juízes e criminosos, patrões e operários, sindicatos e empresas, ambientalistas e industriais: enfim, não há conflito sem resolução, não há inimizade sem cura, não há guerra que não seja aplacada nem ódio que não se dilua pela paz dos milhões.
Mas o dinheiro é hoje criado do nada e sem referência fiduciária a coisa alguma, para além das lógicas de poder, por burocratas e banqueiros e senhores do universo que não são escrutinados por ninguém, que não respondem pelos seus tresloucados actos perante nenhum tribunal ou eleitorado e muito menos perante o inquérito da imprensa, não mais que um instrumento de condicionamento da opinião pública, financiado por esses manipuladores holísticos das altas esferas.
Quando o leitor pede dinheiro emprestado ao seu banco, o que acontece não é uma transferência material de valor da entidade financeira para a sua conta particular. São apenas zeros e uns encriptados num algoritmo fraudulento. O dinheiro é nesse momento criado do nada, sem qualquer indexação para além daquela que é determinada pela cotação do Euro nos mercados financeiros e pela taxa de juro que vai pagar pelo empréstimo. Ou seja, o leitor vai pagar juros sobre coisa nenhuma. O dinheiro contemporâneo é imaterial.
Nesse sentido, qualquer um de nós podia fazer o mesmo (e daí a bitcoin). Mas uma pessoa que decida iniciar um negócio prestamista semelhante, indexando zeros e uns à Euribor a 3 meses, vai por certo acabar com os costados numa instituição prisional. Como em todos os processos totalitários, há sempre uns porcos que são mais iguais que outros porcos e o processo do dinheiro não difere dessa regra: só os eleitos podem emiti-lo e emprestá-lo e utilizá-lo como forma de controlo das massas.
Como já foi escrito no ContraCultura, a Reserva Federal Americana, como o Banco Central Europeu mas numa escala ensandecida de triliões, tem impresso dinheiro nos últimos 30 anos como se não houvesse amanhã e sem qualquer preocupação com seu valor nominal. Mas desde que Biden chegou à Casa Branca, a emissão fiduciária tem atingido níveis galácticos. A administração americana vai imprimir este ano mais moeda do que aquela que foi impressa nas últimas duas décadas. E na proporção de um quarto de todos os dólares em circulação. As consequências estão à vista de toda a gente que vais às compras, com a inflacção a disparar para números de terceiro mundo.
A verdade é que os bancos centrais não têm qualquer controlo democrático. São entidades pardas, que vivem no estrato para-legal e insondável das elites corporativas. A única instituição que detém algum poder regulatório sobre estes monstros sagrados do elitismo globalista é o convenientemente incógnito e discreto Bank for International Settlements (BIS), sediado na cidade de Basileia, Suíça. A maior parte das pessoas nunca ouviu falar em semelhante organização, mas é o BIS que controla 97% do fornecimento de dinheiro no mundo, supervisionando as acções emissoras da Reserva Federal Americana, do Banco Central Europeu, do Banco de Inglaterra, do Banco Popular da China e do Banco Central da Federação Russa, para além de dezenas de outros bancos centrais a nível global. Quem são e quem representam os administradores e os directores executivos desta secretiva e translúcida organização? A que propósito detêm o poder que detêm e que impacta directamente a vida de biliões de pessoas? Qual é a sua agenda? Que valores consagra a sua actividade? A que se deve o seu perfil discreto, considerando a sua pontifica importância?
“É bom que as pessoas não compreendam o sistema bancário e monetário, pois se o compreendessem, creio que haveria uma revolução antes que o amanhã amanhecesse”.
Henry Ford
Para os bancos centrais, o secretismo é a alma do negócio. A Reserva Federal Americana foi constituída à revelia do escrutínio público, no Natal de 1913 (quando as pessoas estavam de férias e, focadas na família, distraídas da vida política), e ignorando até o mandato da Constituição Americana (que definia que seria o Congresso a emitir a moeda). A palavra “federal” foi incluída na nomenclatura para dar a ideia de que os cidadãos tinham algum poder sobre a instituição, mas a verdade é que nunca tiveram nenhum, até porque, e por estranho que pareça a um europeu, a Reserva Federal Americana é uma entidade privada, propriedade de um colégio de bancos. Sendo o administrador nomeado pelo presidente eleito da federação, a verdade é que a sua actividade depende directamente dos interesses da alta finança e não dos cidadãos americanos.
No monólogo do passado fim de semana, Neil Oliver articula uma breve história contemporânea do dinheiro e uma crítica do actual sistema monetário de que este texto é, em parte, reflexo. A certa altura, conta um vergonhoso episódio que ilustra o perfil moral da banca: logo no princípio de 1914 os ingleses, que previam a guerra que se iniciaria nesse verão e que desconfiavam – bem – que o Bank of England já estava a emitir dinheiro sem referência ao seu valor nominal (o chamado “Gold Standard”), começaram a trocar o dinheiro por ouro. Como já não existia nos cofres do sistema ouro suficiente para responder às solicitações do público, os bancos entraram em pânico e, como sempre fazem, recorreram ao estado para que tomasse medidas que impedissem a banca rota do sector, chantageando o governo com a ameaça de que se as coisas assim continuassem não existiria capacidade financeira para suportar os custos da guerra. O governo liderado à altura pelo liberal H. H. Asquith tomou uma decisão acertada, que resolvia os dois problemas, emitindo certificados do tesouro público. As pessoas aderiram a estes títulos porque tinham um valor intrínseco: o da riqueza e do potencial e da criatividade do seu país. Não eram emitidos sobre nada. Eram emitidos sobre o valor da nação e do império. E assim seria possível travar a conversão do dinheiro em ouro e financiar os custos da guerra que se avizinhava. Mas logo que a crise da conversão de moeda em substância aurífera foi resolvida, os bancos exigiram que o governo terminasse a emissão desses títulos e que o esforço de guerra fosse financiado a partir de empréstimos do sector financeiro privado, sobre os quais incidiriam juros de 3,5%. Resultado: o endividamento do país evoluiu de 600 milhões de libras em 1914 para 7 biliões de libras em 1919. À chacina nas trincheiras, acresceu assim a catástrofe da dívida pública.
“Quem controla o abastecimento alimentar controla as pessoas; quem controla a energia pode controlar continentes inteiros; quem controla o dinheiro pode controlar o mundo”.
Henry Kissinger
Confirmando estas palavras do célebre diplomata, a guerra na Ucrânia e os problemas de distribuição a nível global estão a pressionar os mercados alimentares e o histerismo ambientalista está a penalizar significativamente a actividade agrícola. A auto-gerada crise energética vai conduzir-nos ao mais frio inverno de que há memória nos últimos 50 ou 100 anos. A injecção de quantidades astronómicas de moeda imaterial e destituída de qualquer valor tangível está a empobrecer enormes fatias da população mundial.
Depois da cessação do valor nominal da moeda, assistimos agora à clara intenção de acabar com o dinheiro em espécie. As massas estão a ser conduzidas inexoravelmente à escravidão digital por clubes corporativos ilegítimos e não escrutinados. Está na altura de resgatar o controlo do dinheiro, da sua criação, do seu valor e da sua circulação. Ao fazê-lo, iniciaremos a terefa, árdua mas urgente, de reconquistar o controlo do nosso mundo.
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