Aproveitando o balanço da série “A teoria da conspiração como método científico”, o ContraCultura propõe uma muito sua maquinação hipotética, que não sendo totalmente original, é articulada e argumentada dentro do seu programa editorial e que se resume assim:
As oligarquias globais estão a implementar um programa de destruição económica e cultural, de forma a aniquilar a Civilização Ocidental e, das suas cinzas, criar um sistema totalitário de governação dos povos.
Entre as elites mundiais (leia-se: super-estruturas políticas, grandes grupos económicos e conglomerados mediáticos) há um acordo para destruir por completo os edifícios económicos, sociais e políticos que herdámos do século XX e que esta gente considera agora não adequados aos seus objectivos últimos. A ideia é forçar as economias à ruptura, tanto no campo monetário e financeiro como energético e industrial, de forma a criar o caos necessário para a activação de um “Great Reset” que inicie um novo processo civilizacional, com aniquilação dos fundamentos democráticos, implementação de princípios igualitários do género bolchevique e de políticas ambientais de natureza jacobina, eliminação do direito à propriedade e à livre iniciativa, institucionalização da censura e restrição de liberdades fundamentais, centralização corporativa da economia e dirigismo oligárquico.
Nem todos os intérpretes do poder estão de acordo, claro; nem todos têm a mais radical das intenções, sim; e nem todos os que subscrevem este movimento terão a mesma agenda, obviamente. Os interesses do Comité Central do Partido Comunista Chinês não são necessariamente os mesmos do Conselho de Administração da Pfeizer, mas o que está em jogo é um assalto ao poder e às riquezas do mundo a uma escala de tal forma assombrosa, que poderá unir facilmente facções divergentes. Depois da revolução, logo se verá. A História está repleta de exemplos deste género.
E quanto àqueles mais moderados nas ambições e mais tímidos nos métodos, serão rapidamente mastigados e cuspidos pelo processo, como também sempre acontece nestes momentos de convulsão civilizacional.
Os sinais estão por todo o lado, para quem os quiser ver e é claro que começaram a ser mais evidentes a propósito da pandemia e das medidas tomadas para a conter, que estabeleceram novos patamares de autoritarismo do estado, esmagaram sobretudo os pequenos negócios, numa brutal e recordista transferência de riqueza das PME’s para as grandes multinacionais, tornaram milhões de cidadãos dependentes financeiramente dos respectivos estados, calaram as vozes independentes e reforçaram as bases filosóficas, psicológicas e operacionais para o desenvolvimento de regimes totalitários.
Abundância de dinheiro e escassez de bens: uma política monetária de filosofia suicidária.
Mas à medida que a pandemia foi desaparecendo dos headlines, e que ficou mais difícil para os donos do mundo justificar a tirania e disseminar o medo, percebeu-se que já estava em marcha uma nova crise mundial, que é a monetária.
Nos últimos 30 anos, a Reserva Federal Americana, como o Banco Central Europeu mas numa escala ensandecida de triliões, tem impresso dinheiro como se não houvesse amanhã e sem qualquer preocupação com o seu valor nominal. Mas desde que Joe Biden chegou à Casa Branca, a emissão fiduciária tem atingido níveis galácticos. A administração americana imprimiu em 2021 mais moeda do que aquela que foi impressa nas últimas duas décadas. E na proporção de um quarto de todos os dólares em circulação.
Ora, inundar desta forma a economia com a moeda americana, que regula, entre outros bens, os mercados energéticos mundiais, é um jogo muitíssimo arriscado. E não é preciso um doutoramento em política monetária para perceber porquê, basta entender a velha lei da oferta e da procura. Se temos um bem a circular em abundância, esse bem vai desvalorizar. Mas se esse bem é a moeda, não é só com a sua desvalorização que nos devemos preocupar. Essa preocupação deve residir também e deveras com a inflação. E na proporção da moeda emitida, devemos recear ainda mais intensamente a hiper-inflação. Os números anunciam um disparo nos preços desde o verão de 2021 e estão hoje, no ocidente, prestes a atingir os dois dígitos. E para quem vive em Marte e não sabe bem o que é hiper-inflacção, eis uma simples explicação: é quando o dinheiro que se recebe pelo trabalho de hoje não chega para pagar o bilhete de metro necessário para ir trabalhar amanhã.
O problema é especialmente agudo se pensarmos que as economias mundiais ainda nem sequer começaram a sua recuperação da crise originada pela pandemia e não estão a produzir bens que façam face à abundância de dinheiro em circulação. Ora, desprovido de relação nominal com um outro valor (que até à primeira metade do século XX tinha sido o ouro), o dinheiro só vale alguma coisa quando ocorrem duas premissas fundamentais, a saber:
A – Um contrato social que reconhece de forma unânime o seu valor universal e
B – A capacidade que manifesta em adquirir bens de consumo.
Como a produção de bens de consumo declinou dramaticamente por causa da pandemia, a premissa B vai impactar muito negativamente a premissa A e vice-versa, num cancelamento mutuo das duas premissas.
E à inflação galopante está de facto a aliar-se uma significativa quebra na oferta de bens essenciais, como qualquer consumidor que queira adquirir um automóvel, ou uma simples consola de jogos vídeo pode constatar.
Entre o Green New Deal e o Great Reset: se não vai a bem, vai a mal.
No fundamento desta teoria da conspiração está o facto da equação enunciada ser de quarta classe para qualquer economista. Não há maneira de que os responsáveis pelas políticas monetárias americanas e europeias não saibam os riscos monumentais que estão a correr.
O mesmo se passa em relação às propostas de combate às “alterações climáticas”. Neste caso temos duas abordagens diferentes, mas com resultados muito parecidos.
Nos sectores mais extremistas das sociedades ocidentais, que pretendem aniquilar o mundo como o conhecemos já amanhã de manhã, defende-se aquilo a que estes radicais insanos decidiram chamar “The Green New Deal”. Este plano implica a cessação imediata de qualquer tecnologia que liberte dióxido de carbono para a atmosfera. Assim sendo, os transportes de pessoas e de mercadorias ficariam limitados à locomotiva eléctrica ou ao automóvel eléctrico (sendo que a produção de baterias implica actividades industriais ligadas à mineração, que libertam dióxido de carbono, a coisa complica-se ainda mais, mas adiante), a aviação comercial seria interditada, os aquecimentos das casas teriam que ser revistos e a produção de electricidade teria que ser revolucionada de um dia para o outro, a pecuária desapareceria inevitavelmente (quem não for vegetariano será aconselhado a comer insectos), os complexos económicos mundiais ligados ao carvão e ao petróleo seriam interrompidos e etc., etc. até ao apocalipse imediato de tudo.
Nos sectores menos radicais as propostas são exactamente as mesmas, mas com a diferença de serem menos ambiciosas em termos de calendário. A destruição dos vários sectores da economia ligados às energias fósseis está a ser progressivamente levado a cabo por agendas ambientalistas em todo o Ocidente, já há décadas, na verdade, mas como é espaçada no tempo, e devidamente acompanhada pela desinformação académica e pela propaganda dos media, especialistas como são em despejar o medo nas mentes humanas, o processo tem-se desenrolado de forma razoavelmente pacífica.
Um exemplo flagrante desta agenda e da sua implementação no terreno é o holandês. De forma a cumprir as draconianas quotas de redução de libertação de nitrogénio estipuladas pela União Europeia, e assim “salvar o planeta”, o governo local está a levar inúmeras quintas agrícolas à falência, principalmente as que se dedicam à pecuária, e a desempregar dezenas de milhares de agricultores.
E isto em plena crise agrícola e económica na Europa.
Não há nada que os líderes europeus comprometidos com a agenda de Davos recusem fazer em nome da nova ordem mundial. Inimigos declarados dos povos que lideram, estão disponíveis para os empobrecer, para lhes retirar a mobilidade, para lhes obliterar o livre arbítrio e para lhes forçar alterações radicais na dieta: e se hoje estão a condicionar o número de bifes que comemos, que novas restrições vão inventar amanhã?
É que ninguém escapa de uma tirania através da obediência aos seus mandatos. E o autoritarismo galopante das elites globalistas só vai encontrar freio na oposição agressiva e ameaçadora das massas.
Nada disto, porém, tem um carácter democrático. As decisões são tomadas por oligarquias, sejam elas a de Davos, a do G7, ou a do Partido Democrático Americano (a palavra democracia na nomenclatura deste partido tem progressivamente vindo a ganhar a mesma ressonância que tinha na nomenclatura da extinta República Democrática Alemã).
E o processo será implementado a bem ou a mal.
O caos é bem-vindo.
Neste sentido niilista de quanto pior melhor, o “Great Reset” acolhe favoravelmente a desordem, a amoralidade, o crime urbano, a instabilidade económica e a agitação social.
É por isso que assistimos à tolerância perante movimentos de carácter destrutivo, como os interpretados pelo Black Lives Matter ou pela Antifa, enquanto as manifestações de cidadãos que protestam contra os confinamentos, a vacinação coagida, a imigração desregrada ou as insanas limitações impostas pela União Europeia à libertação de emissões, interessados em manter vivos os valores morais e operacionais da Civilização Ocidental, são brutalmente reprimidos. É por isso que a administração Biden quer retirar as armas aos cidadãos cumpridores da lei, mas não fala em desarmar os gangues criminosos que ceifam cada vez mais vidas nos núcleos urbanos da América.
É por isso que a administração pública inglesa criminaliza a opinião nas redes sociais, enquanto fecha os olhos à violação sistemática de menores por parte de grupos islâmicos. É por isso que as grandes multinacionais optaram, em uníssono e pela primeira vez na história do capitalismo, por assumirem posições políticas, geralmente relacionadas com questões fracturantes, deixando o consumidor confuso e sem alternativas que não a aquisição de produtos e serviços cujo imaginário é carregado de valores contraditórios e disruptivos e de ideologias radicais que vão contra o seu instinto liberal.
É por isso que a propósito do Covid-19 se fecharam igrejas ao mesmo tempo que multidões turbulentas se compactavam nas ruas para protestar contra um racismo alegadamente sistémico. É por isso que os governos têm progressivamente financiado as instituições que promovem o aborto e desinvestido naquelas que promovem a fertilidade.
É por isso que os “cientistas”, ignorantes de mais de 90% da matéria cósmica, informam os públicos leigos e crentes que o universo é um banal produto do acaso e que Deus não existe. É por isso que a arte contemporânea é uma fraudulenta e horripilante colecção de urinóis, espécie de manifesto contra o Belo e a Consolação. O caos é bem vindo porque distrai e destrói, porque desorienta e cria a oportunidade niilista para a acção revolucionária.
A guerra na Ucrânia e a crise energética como instrumento da revolução oligárquica.
A Rússia não é uma democracia; Putin é, para todos os efeitos, um ditador e, como qualquer outro Czar – Ruríquidio, Romanov ou Soviético – um ditador imperialista. O passado deste homem fala por si. Operacional da KGB, perito em métodos draconianos de fazer política, especialista em operações de manipulação da consciência colectiva e alegre assassino de quem atrapalha os seus desígnios e os desígnios do seu regime, Vladimir Putin é uma raposa velha, enrijecida por uma vida de brutalidades, que lidera um povo de carácter forte, tendencialmente nacionalista, consciente da sua história e da sua posição no mundo, e um exército muito bem equipado.
Os líderes ocidentais não têm, porém e neste momento da história, qualquer legitimidade moral para acusar Putin de expansionismo ou de despotismo. Cometendo sucessivos actos fascistas sobre as suas populações e trazendo consigo o cadastro de sucessivas guerras que espoletaram desastradamente em variadíssimas localidades da geografia planetária, por razões falsas ou difusas ou apenasmente derivadas de um economicismo globalista cujos resultados catastróficos estão agora à vista de toda a gente, são, eles sim, os verdadeiros intérpretes do mais pernicioso imperialismo: aquele que projecta toda a dissensão, interna ou externa, como um imperdoável acto de terrorismo.
Não há qualquer razão de ordem racional ou material para provocar uma guerra global a partir de uma disputa de carácter específico, tanto em termos históricos como geográficos, que pode escalar rapidamente para um cataclismo civilizacional ou mesmo para um evento de extinção termonuclear. A invasão da Ucrânia pela Rússia não representa ameaça nenhuma para os interesses estratégicos, económicos ou energéticos do Ocidente. Ao contrário, uma guerra, mesmo que fria, com a Rússia terá implicações incalculáveis.
Esta guerra, como tantas outras na virulenta história do Velho Continente, era perfeitamente evitável. Bastava que se garantisse à raposa Vladimir que a Ucrânia nunca vai fazer parte da NATO. Era só isso e qual era o problema disso? Os americanos também não queriam o Pacto de Varsóvia nas Caraíbas. Até estivemos à beira do extermínio termonuclear por causa da eventual instalação de uns certos mísseis em Cuba; já para não falar do triste episódio passado numa célebre baía de mau nome.
A questão é que a guerra é desejada, pelo que a verdade histórica e o senso comum não são para aqui chamados. Se a agenda, como todas as evidências indicam, é a da destruição da Civilização Ocidental, o evento de sonho é a catástrofe de um conflito militar na Europa.
Os embargos às energias russas rapidamente implementados pelo Ocidente só agravaram a inflacção e a crise energética. As sanções destinadas a castigar os oligarcas russos só castigaram os cidadãos ocidentais. Mas, em nome do combate à imaginária ameaça que Putin constitui, estão a forçar também a reconversão energética, a qualquer preço.
Num momento em que o crude está a ser vendido a 120 dólares por barril e a inflação está nos dois dígitos em todo o lado, forçar um embargo massivo das importações de petróleo russo é um suicídio. Mas é um suicídio calculado. A draconiana agenda ambiental, o espúrio ódio a Putin, o elitismo globalista treinado e motorizado em Davos e o mais descarado desprezo pelas massas, plasmam-se num comportamento que pode parecer esquizofrénico mas é completamente racional: a nova ordem mundial tem que partir do zero. Custe o que custar. A fome, a miséria, o caos, a ruína das pequenas e médias empresas ou até uma guerra termonuclear (se for preciso) são pequenos preços a pagar no grande esquema dos senhores do universo. Até porque, claro, não são eles que o pagam.
Epílogo: um novo paradigma de governação dos povos.
Fazendo recurso à ciência, à tecnologia e à propaganda, numa espécie de síntese satânica que deixaria Goebbels envergonhado; promovendo o ódio racial, o sectarismo sexual e o conflito identitário; utilizando a imprensa e as redes sociais, os mercados financeiros e a pandemia, os mitos climáticos e o medo, a guerra e os conflitos étnicos internacionais, num exercício holístico de ambição inédita e alcance desmedido, as oligarquias combinadas neste movimento de assalto ao poder global não estão dispostas a concessões e escondem o seu carácter draconiano através de uma complexa operação de cosmética, consubstanciada na assumpção de falsas virtudes, na alteração da verdade histórica, na manipulação da opinião pública e na radicalização ideológica dos sistemas de ensino.
O Great Reset é o objectivo último deste processo dantesco. Há que aniquilar o modelo económico, político e social, para fundar um novo paradigma de governação dos povos. E esse paradigma de base totalitária integra a extinção do direito à propriedade (e daí o obsceno slogan do WEF “não serás dono de nada, mas serás feliz”), a equalização social e a tomada de poder absoluto por uma elite muitíssimo reduzida, precisamente aqueles que são hoje de tal forma privilegiados que podem sobreviver serenamente ao processo de implosão em curso.
Mais uma vez na sequência de horrores a que chamamos História, a distopia, mascarada de utopia, está em marcha. E será difícil travá-la porque não é um movimento que dependa de eleições, protocolos constitucionais, mecanismos do estado de direito ou dinâmicas de base sociológica. Para bloquear os sacrifícios implícitos à nova ordem mundial, outros sacrifícios equivalentes na verdade terão que ser cumpridos. A questão aqui, fundamental, é se esses desperdícios materiais e imateriais, em riquezas e em sangue, serão despendidos em nome da liberdade ou em função da tirania.
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