O Contracultura segue o percurso de Jordan Peterson com admiração e respeito por um intelectual brilhante, que tem aberto novos paradigmas conceptuais, religiosos e ideológicos a milhões de jovens em todo o mundo. Mas desde que se aliou ao Daily Wire, Jordan B. Peterson parece ter encontrado os seus limites como comunicador, filósofo e líder de opinião. O seu “Conservative Manifesto” não foi de todo um momento inspirado, e o professor parece a cada momento mais um zangão do que um pacificador.
A recente guerra que inventou no Twitter contra o anonimato na web não se entende de todo e nem sequer parece ser bem formulada, o que é deveras surpreendente. Alguns podcasts que tem publicado com personagens que são ou sinistros ou oportunistas também não têm contribuído para a sua fiabilidade política, ética e académica.
Acresce que os formatos dos conteúdos Daily Wire, em que Jordan aparece a ler o teleponto, também não contribuem nada para a reputação de intelectual brilhante, espontâneo e sincero, que apesar de ser inteiramente merecida tem sido recentemente posta em causa.
Neste contexto, a rapaziada do The Lotus Eaters faz a crítica. De forma respeitosa, claro, porque o professor é quem é. Mas também pertinente, porque o polemista canadiano não parece estar a exibir neste momento a sua melhor forma e talvez devesse parar um pouco e repensar algumas das suas decisões.
A verdade é que Jordan Peterson estava errado sobre as vacinas.
It’s worse than I thought. I trusted the vaccine process more than I should have. I thought the lockdowns and masks were a terrible idea but I still thought we could rely on public health and science. https://t.co/FV0fGsTbpX
— Dr Jordan B Peterson (@jordanbpeterson) December 19, 2022
E estava errado sobre a integridade das eleições presidenciais americanas de 2020.
Just prior to an election…
— Dr Jordan B Peterson (@jordanbpeterson) December 20, 2022
E apesar de ser bom que tenha corrigido algumas das suas análises, muitos de nós “teóricos da conspiração” nunca esqueceremos esses lapsos da razão.
This Tweet is four days old.
You may remember several thousand saying exactly the same thing from almost three years ago. You know, back when it still wasn’t too late. https://t.co/AiZ6vGuxOV— Bob Moran (@bobscartoons) January 3, 2023
O Contra concede que vivemos num mundo de tal forma abstruso que é de facto muito difícil a alguém com formação científica, mentalidade académica e uma plataforma mainstream que integra milhões de almas, acertar de imediato no alvo da verdade factual ou ter a coragem para assumir certo tipo de rupturas que são quase de carácer epistemológico, principalmente em questões que implicam sérias consequências na vida das pessoas (caso da gripe chinesa e das vacinas) e na vida das democracias (caso das eleições).
Na circunstância particular do professor de Toronto, há que ponderar também factores clínicos que entretanto o iam matando.
Mas mesmo quando é perseguido ao estilo estalinista, o senhor não consegue disfarçar as suas diopetrias mentais e alguma compreensão lenta. Reparem bem no comentário que faz ao meme em baixo.
“Not true, yet?” Really? Even after what is happening to you right now? With all due respect, Professor, you should wake up for reality. You live in tyranny, period.
— Paulo Hasse Paixao (@PaixaoHasse) January 9, 2023
“Ainda não é verdade”? Peterson pode muito bem acabar por ver a sua licença de psicólogo interdita por causa das opiniões políticas que tem sobre isto ou aquilo. E responde a este meme que “Ainda não é verdade”? Ainda não é verdade o quê, senhor professor? O que é que ainda está à espera que aconteça para poder confirmar totalmente o conteúdo da sátira? Ser enfiado num campo de concentração por crimes do pensamento?
Há coisas que não se percebem e uma delas é esta: como é que um homem tão inteligente tem as vistas tão curtas.
O último dislate de Jordan Peterson é a gota de água que provoca a inundação. Depois de ter interpretado mal todo o processo da pandemia e das vacinas, como ele agora reconhece; depois de ter interpretado mal as eleições presidenciais americanas de 2020 e os acontecimentos de 6 de janeiro de 2021; depois de se ter armado em vítima por causa de comentários menos simpáticos que lhe deixavam nas redes sociais, tirando conclusões profundamente erradas sobre o anonimato na web e o que é a liberdade discursiva, vem agora com esta conversa absolutamente parva sobre o Irão.
All yall’s great hero Jordan Peterson says call your Congressman, demand the United States overthrow the government of Iran now.
(He’s Canadian.)
Follow his map of meaning right to Benjamin Netanyahu. pic.twitter.com/iGicNF4JOl
— Scott Horton (@scotthortonshow) March 2, 2023
Deseja realmente Jordan Peterson que os Estados Unidos entrem num conflito, mais um, para mudar o regime iraniano? Mas está maluco? Os Estados Unidos actuais não têm qualquer legitimidade para mudanças de regime seja onde for, até mesmo que quisessem destronar o diabo do inferno.
Por amor de Deus. Se os iranianos estão fartos da feroz e medieva teocracia em que vivem, que resolvam o assunto. O ContraCultura deseja todas as felicidades que pode sinceramente desejar ao povo persa nesse esforço de libertação. Mas ninguém mais está em posição moral, política, militar ou económica de meter o bedelho nesse assunto.
É que nem nos faltava mais nada.
Das duas, três: ou o professor está a perder qualidades a um ritmo alucinante por disfunção de carácter psiquiátrico ou fisiológico, ou o dinheiro e a fama estão, como sempre acontece, na verdade, a corroer-lhe o cerebelo (e a alma). Ou ainda (hipótese difícil): nunca foi tão virtuoso e genial como parecia.
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