Vêm lá dos confins do espaço
em busca dos desertos americanos.
Enlatados em discos d’aço
vão chegando os marcianos.
Olhos espirais, antenas telepatas
e espertas orelhas pontiagudas:
são feios, porcos e maus os piratas
do Triângulo das Bermudas.
Uns vêm e deixam saudades,
outros por fome de carne humana;
contra todas as probabilidades
visitam-nos uma vez por semana.
Eles andam aí.
Alienígenas indígenas
de planetários corsários,
Eles andam aí.
Não há como negar o facto:
eles andam aí e são apanhados
a construir aeroportos no mato
e a ceifar o trigo dos prados.
Arriscam-se à bestial pestilência
dos encontros de grau terceiro.
Amiúde, deixam descendência,
são fornicadores em passeio.
Habitam há que tempos a História,
deixaram-nos príncipes e faraós,
(as pirâmides são prova e memória
de que nunca estivemos sós).
Eles andam aí.
Marcianos bacanos,
Extraterráqueos batráquios,
Eles andam aí.
Escreveram tábuas e pautas
para mitos, cultos e religiões:
são os deuses astronautas
que aterram aos trambolhões.
Provêm de distantes mundos
ou é outra a aventura:
podem até ser oriundos
de uma qualquer era futura.
Podem até ser cientistas
do século d.C. quarenta e tal.
Ou então serão turistas,
em safari temporal.
Eles andam aí.
Répteis com projecteis
Psicopatas de três patas,
Eles andam aí.
Na verdade nem me interessa
de onde vêm e para onde vão.
Gosto é de os ver assim com pressa
em imagens de baixa resolução.
Eles andam aí.
Alienígenas indígenas
de planetários corsários,
Eles andam aí.
Relacionados
7 Fev 25
As mulheres
Sobre as mulheres que carregam o sol e que da serra trazem o pão ao colo do tempo. Um poema de Alburneo.
10 Jan 25
O Homem Alpendre
A pedra misturou-se por instantes infinitesimais com as laranjas suas primas para matarem no Aleph que sobrou a saudade impossível. Um poema de Alburneo.
8 Jan 25
Nas dunas
A arte do haiku: Nas dunas estás noutro planeta; onde és ensurdecido pelo oceano, mal tratado pelo empregado de mesa, os flamingos sabem mais que tu e nem os grilos vencem o silêncio.
30 Dez 24
Oração de Ano Novo.
Senhor; que a Adão ofereceste a queda, que a Abraão exigiste o filicídio, que a Moisés impuseste a jornada, que aos faraós rogaste as pragas; salva-nos agora, do colapso desta hora.