Neil Oliver está convencido que os elitistas globalistas que dirigem os destinos do Ocidente não têm grande consideração pelas pessoas que governam, nem pelas comunidades que lideram. Pois pudera: o prototipo do político contemporâneo não se cala nunca com o pregão de que há gente a a mais no planeta. Gente que consome mais recursos do que aqueles que são extraídos. Gente que destrói tudo aquilo em que toca. Uma praga que tem que ser erradicada. O melhor para a existência da humanidade é não existir humanidade.
Os burocratas totalitários formados em Davos gostam de qualificar as massas como comilões inúteis enquanto amaldiçoam qualquer individuo que valorize fronteiras e identidades nacionais e nações independentes com visões singulares e modos de vida específicos e constituições que declaram direitos inalienáveis. Todos os direitos são alienáveis de forma a salvarmos o planeta. E a melhor forma de salvar o planeta é acabar com as pessoas.
Pudemos dar a volta ao texto que quisermos, mas a lógica é sempre a mesma: os seres humanos são dispensáveis e prejudiciais e devem apresentar-se no número mais reduzido possível. Aliás, o paraíso não tem Adão nem tem Eva. É só o jardim, a serpente e a maçã.
Até porque a utopia fantasista das elites tem que funcionar exactamente como as elites desejam, sem escolhos de livre arbítrio nem problemas de dissidência. E onde há pessoas, haverá dissidência. Haverá autonomia. Porém, a independência do estado é um obstáculo que tem que ser suprimido. E a carne de vaca também. A carne de vaca é outro obstáculo à utopia. O homem inútil e destruidor de mundos deve comer insectos. A liberdade de movimentos prejudica outrossim e imenso os amanhãs que cantam. O homem-praga deve permanecer circunscrito à cidade de 15 minutos, de onde sairá apenas com autorização dos poderes instituídos. E deve considerar-se um felizardo por ter carta verde para respirar. Por enquanto, porque cada vez que respira o símio Sapiens está a poluir a atmosfera e a danificar o planeta. O melhor seria racionar a respiração. Ou sufocar rapidamente. O estado pode ajudar nisso.
A verdade porém é que não podemos matar as pessoas todas como seria desejável porque as elites não sabem reparar canalizações e precisam de assistência técnica para tudo o que está fora do âmbito do Great Reset. São necessários carpinteiros, mineiros, trabalhadores da construção civil, electricistas, seguranças de discoteca, torneiros mecânicos, cozinheiros, motoristas e demais plebeus que fazem coisas que os bill gates e os elon musk deste mundo não sabem fazer. Isto embora os haja cada vez em menor número porque as sociedades ocidentais são constituídas por advogados aos balcões da Zara e engenheiros que viram frangos e arquitectos que distribuem pizzas e matemáticos que vendem produtos da Herbalife. Algures no tempo deixámos de ensinar as pessoas a construir coisas, a reparar coisas, a minerar coisas, a cultivar coisas, a contribuir materialmente para a sociedade. E deixámos de fazer isso porque os nossos líderes assim o desejam. Em nome da salvação do planeta fomos reduzidos ao sector terciário e já não exploramos os recursos, já não fabricamos produtos, já não levantamos obra, já não lavramos a terra e já não criamos gado. O gado somos nós e é para abater.
Mas mesmo a sociedade de serviços a que nos condicionaram não funciona lá muito bem. Por exemplo, quanto mais ouvimos falar em serviços de saúde e na necessidade dos os proteger e de os financiar, pior é a sua qualidade. Acontece, como muito bem afirma o nosso amigo escocês, que a saúde pública não existe. Só existe saúde individual. Como a senhora Tatcher também estava carregada de razão quando dizia que a sociedade não existe. Existem indivíduos, famílias, empresas. O resto é construção académica e delírio marxista.
E a propósito da nacionalidade irredutível de Neil Oliver, uma boa notícia: Nicola Sturgeon, a sofrível e insuportável e autoritária primeira ministra que pode até amar a Escócia mas que por certo detesta os escoceses, está de saída, para luto dos servos da imprensa que durante anos tentaram convencer toda a gente que esta deprimente e banal e vulgar personagem seria afinal e contra todas as evidências uma grande estadista. Nicola não fez mais que afundar a Escócia, à velocidade de um desastre de cada vez. Destruindo os aparelhos educativos, os sistemas de saúde, as infra-estruturas e tudo à volta enquanto assistia triunfante à explosão das mortes por overdose e ao disparo dos índices de criminalidade, edificou um legado feito de obras ao negro como as mudanças de sexo a partir dos 4 anos de idade. Quanto pior, melhor.
Uma variável crucial na luta que devemos oferecer aos autocratas, aos tecnocratas e aos ideólogos radicais do género de Sturgeon é a da celebração incondicional do valor único do individuo. E se o que nos prometem para o futuro é a supressão das diferenças entre as pessoas e a sua inutilidade ontológica, esse futuro não pode ser bom para o género humano, ponto final, parágrafo.
Em vez de políticos que detestam a humanidade, é capaz de ser boa ideia elegermos representantes que acreditem nas virtudes e no potencial da espécie Sapiens. E que a considerem não como um conjunto homogéneo de cabeças de gado, mas como um eleitorado exigente e informado e idiossincrático, que deve ser respeitado na sua diversidade, na sua especificidade e na glória do que é capaz de fazer. O ser humano é capaz de fazer coisas incríveis. É capaz de odisseias e de foguetões, é capaz de óperas e de enciclopédias. É capaz do motor de combustão interna e da direcção assistida. E, pelo que conseguimos saber, não há mais ninguém assim dotado na vastidão do cosmos.
Mas hoje em dia, até os avanços técnicos, como os relativos à inteligência artificial, estão focados nas tecnologias e não nas pessoas. Essas tecnologias parecem até ter como objectivo primeiro e último tornar as pessoas redundantes. Afinal, a inutilidade do homem não lhe é inerente. Afinal, é preciso o artefacto tecnológico para encontrar no homem essa desejada inutilidade. Isto é batota. Não podemos permitir que o futuro da humanidade seja determinado por batoteiros. E, ainda por cima, por batoteiros que nos odeiam de morte.
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