A União Europeia, ou pelo menos certos países membros, vão acabar por proibir a produção de carne, a fim de cumprirem os regulamentos sobre emissões. Para já, a possibilidade de que a Suécia, a Dinamarca ou Holanda venham a impor um imposto ou uma proibição total sobre a produção de carne é bem real.

Porquê a Suécia, a Dinamarca ou os Países Baixos? Embora isto pareça absolutamente louco, a razão deriva, pelo menos em parte, da vontade de evitar disputas legais com a UE. Um punhado de países europeus têm planos juridicamente vinculativos em relação a emissões e métricas climáticas, e os Países Baixos, a Suécia e a Dinamarca são pequenos países com grandes explorações agrícolas. As diminutas áreas terrestres, exploradas de forma intensa, constituem um alvo fácil.

Mas ninguém perguntou aos eleitores destes países sobre a pertinência destas políticas, porque são justamente implementadas não pelos estados mas pelos burocratas não eleitos da Comissão Europeia.

O ContraCultura já noticiou o encerramento compulsivo de explorações agrícolas nos Países Baixos. As elites holandesas, tal como as suecas e as dinamarquesas, levam muito a sério a redução das emissões, assim como a limitação do consumo de carne. O problema é que estes países consomem e produzem muita carne.

A cidade de Haarlem, a oeste de Amesterdão, proibiu a publicidade à carne a partir de 2024. Tratar a carne como cigarros ou álcool para impor alternativas aos consumidores e para que estes acabem por consumir produtos de carne falsificada altamente processados, ou depender de carne importada, é um importante ponto de viragem na razão e na lógica.

O estratega de mercado do Banco Saxo, Charu Chanana, afirmou, nas previsões do final do ano, que a Suécia ou a Dinamarca

“poderão decidir tributar fortemente a carne a partir de 2025 e poderão proibir inteiramente toda a carne de origem animal produzida internamente até 2030. Não me surpreenderia de ver escolas na Dinamarca e na Suécia a proibir completamente a carne. O trend está definitivamente a ir por esse caminho”.

Na Suécia, declarações afirmando que o consumo de carne sueca está em declínio e que o vegetarianismo está em ascensão contradizem as estatísticas oficiais. De acordo com recentes dados do Conselho de Agricultura Sueco,

“a procura de carne e aves de capoeira suecas aumentou significativamente”.

Carne de vaca, porco e aves de capoeira à parte, os suecos gostam dos seus mariscos. Mas a maior parte dos mariscos é importada. De acordo com um relatório da Universidade de Gotemburgo de 2019:

“72% dos frutos do mar suecos provêm de importações e 28% de produtores nacionais”.

Vale a pena notar que 90% dessas importações de marisco provêm da China.

Quanto à Dinamarca, a sua indústria de carnes é de grande dimensão. As receitas da carne dinamarquesa ascenderam a 4,40 mil milhões de dólares em 2022 e espera-se que cresçam anualmente cerca de 5%. Os dinamarqueses produzem uma enorme quantidade de carne de porco  – cerca de 32 milhões de leitões por ano – e muitos desses suínos são vendidos à União Europeia (predominantemente Alemanha e Polónia).

Além disso, enquanto o governo da Dinamarca e os seus representantes da UE têm a produção de carne na mira para regulamentação e impostos adicionais, não são certamente contra a colheita de animais para peles. Na Dinamarca, a criação de martas é muito lucrativa, e a Dinamarca é um dos maiores produtores mundiais de peles de marta; existem milhares de operações de criação de martas, e dezenas de milhões de martas. Os números mais recentes mostram que mais de 98% das peles de marta colhidas na Dinamarca são exportadas para mercados estrangeiros. É uma enorme máquina de fazer dinheiro.

De facto, a marta da Dinamarca é tão abundante, que se tornou uma espécie invasora na Dinamarca, destruindo os ecossistemas locais. Como é que isto não é um problema?

O Contra-Cultura não se opõe de todo a uma revisão da quantidade de carne que se consome no Ocidente, que é objectivamente excessiva, e muito menos a uma análise das terríveis condições a que os animais são submetidos pela indústria alimentar. Mas será sempre um adversário de processos de pensamento irracionais de tecnocratas totalitários, que se baseiam em metas de emissão de carbono irrealistas, baseadas em conclusões que são de carácter político e não científico e que visam apenas a sua vontade de poder sobre as populações.

Obliterar as explorações e proibir a produção de carne não é uma estratégia racional. E é um atentado contra a economia ocidental. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, 14,5% de todas as emissões de gases com efeito de estufa causadas pelo homem são atribuídas ao gado. No entanto, de acordo com a revista científica Nature Food, o Sul da Ásia, Sudeste Asiático e América do Sul são os maiores emissores mundiais de gases com “efeito de estufa”.

A levar a sério estes números e o seu impacto no equilíbrio natural do planeta, não seria uma melhor ideia colocar limites e regulamentos àqueles que emitem mais poluição e gases com “efeito de estufa” (neste caso, a Ásia e a América do Sul)?

Porque raio não vemos a insuportável Greta Thunberg a ser insuportável como só ela sabe na praça Tiananmen?

Os líderes do mundo ocidental conspiram para destruir as suas próprias indústrias em nome do controlo de emissões, mas deixam prosperar aqueles que mais poluem. Mais um sinal, como há tantos, de que as metas de emissão não são levadas a sério, no sentido da “salvação do planeta”. São levadas a sério, sim, no sentido da instalação de uma nova ordem tirânica sobre os cidadãos, que controla até aquilo que comem, a energia que consomem, os quilómetros que fazem, as rotinas que mantêm e, em última análise, os seus fundamentos culturais.

Porque a primeira fundação cultural dos povos é a sua dieta.