O Presidente Biden não ia acabar com as guerras comerciais de Donald Trump contra os aliados europeus? Aparentemente não. O seu proteccionismo climático “super agressivo” – citando o Presidente francês Emmanuel Macron – está a enfurecer os países da União Europeia e pode desencadear uma guerra comercial entre os dois blocos.
Os aliados dos EUA estão zangados com os generosos subsídios da Lei de Redução da Inflação (LRI) para as tecnologias verdes fabricadas nos EUA. Na sua viagem a Washington na semana passada, Macron disse que os subsídios dos EUA “podem talvez resolver o vosso problema, mas vão aumentar o meu”. Na verdade os subsídios governamentais americanos são um problema para todos.
A disputa envolve créditos fiscais para a produção de veículos eléctricos e baterias. O crédito fiscal ao consumidor de 7.500 dólares está restrito aos veículos eléctricos (VE) fabricados na América do Norte. A maioria dos fabricantes de automóveis americanos fazem VE no estrangeiro e exportam-nos porque os mercados global e norte-americano ainda são pequenos. Não podem utilizar o crédito fiscal ao consumidor a menos que invistam na produção interna. Mas fazer VE nos EUA – ou no Canadá ou no México – pode ser mais caro e pode tornar os seus carros menos competitivos em outros mercados de exportação.
Metade do crédito fiscal de 7.500 dólares está também dependente de uma parte crescente dos minerais das baterias dos veículos que são extraídos ou processados nos EUA ou num país com o qual tenham um acordo de comércio livre – começando por 40% em 2023 e aumentando para 80% em 2027. A outra metade estará disponível apenas para VE cujos componentes de bateria são maioritariamente fabricados na América do Norte, começando nos 50% em 2023 e atingindo os 100% em 2029.
Não se espera que nenhum fabricante de automóveis seja elegível para o crédito fiscal total de $7.500 no próximo ano, mas a Tesla e a GM podem ser elegíveis para metade desse valor. Os fabricantes estrangeiros de automóveis tornar-se-ão menos competitivos nos EUA e terão dificuldade em cumprir os rigorosos mandatos de economia de combustível. O resultado final? Eles terão de comprar créditos regulamentares à Tesla e à GM.
A lei também oferece créditos fiscais generosos para a produção doméstica de baterias EV, incluindo um crédito de 35 dólares por quilowatt-hora para células de bateria fabricadas nos EUA, mais 10 dólares por quilowatt-hora para módulos produzidos internamente. Espera-se que estes créditos reduzam o custo de produção de uma bateria VE de 30% a 40%, o que, segundo consta, levou a Tesla a reconsiderar os planos de fabrico de células de bateria na Alemanha.
O maior beneficiário do proteccionismo climático do Sr. Biden poderá ser a GM, cujo empreendimento conjunto com a LG Energy Solutions recebeu este Verão uma garantia de empréstimo federal de 2,5 mil milhões de dólares para a construção de três fábricas de baterias nos EUA. A RBC Capital Markets estimou que a GM poderia embolsar 3 mil milhões de dólares do crédito do imposto sobre baterias em 2025. A GM projectou recentemente que os créditos fiscais da LRI acrescentariam $3.500 a $5.500 em lucro a cada EV.
A lei também inclui até $40 mil milhões em empréstimos para a construção de novas fábricas de VE e de baterias e créditos fiscais para fabrico de turbinas eólicas, painéis solares e outras tecnologias de redução de CO2. Mas como o ContraCultura já sublinhou, a iniciativa tem mais a ver com a protecção de interesses comerciais e a submissão dos contribuintes do que com a “salvação do planeta”
Um porta-voz da Toyota no Canadá disse a verdade: “Enquanto a LRI está a ser apresentada em muitos quadrantes como legislação chave para combater as alterações climáticas, na realidade é um acto de proteccionismo comercial”. A Associação Canadiana de Produtores de Aço advertiu que os produtores de aço dos EUA também beneficiariam indirectamente dos subsídios climáticos sem incorrer em custos de carbono.
E a propósito dos custos de carbono: as reclamações dos líderes europeus e canadianos mereceriam mais simpatia se não tivessem prejudicado os seus próprios fabricantes com mandatos sobre emissões e apoios a energias renováveis ineficientes que aumentaram consideravelmente os preços da energia. Muitos fabricantes europeus estão a desviar investimentos do continente devido ao aumento dos preços da energia. Os sistemas de cap-and-trade (regulações governamentais concebidas para incentivar as empresas a reduzirem as suas emissões de carbono) na Europa e em algumas províncias canadianas também aumentaram o custo da energia e da produção industrial.
Quanto ao “proteccionismo climático”, os europeus também jogam este jogo. A Europa está a planear implementar uma tarifa de ajustamento aduaneiro sobre as importações produzidas em países com maiores emissões de CO2, incluindo possivelmente os EUA.
Os líderes europeus ameaçam apresentar uma queixa à Organização Mundial do Comércio se a Administração Biden não reescrever a LRI para estender os subsídios aos VE estrangeiros e às tecnologias verdes em geral. Mas esta pretensão é irrealista, já que forçaria os contribuintes americanos a subsidiarem os automóveis fabricados no estrangeiro. O que a Europa poderá fazer é subsidiar de igual forma os seus fabricantes nacionais ou tarifar os VE fabricados nos EUA. E se a primeira alternativa será onerosa para os contribuintes europeus, a segunda constituirá uma intensificação da guerra comercial entre nações que se dizem aliadas.
Seja como for, as políticas climáticas do Ocidente já estão a prejudicar os consumidores e a abrandar o crescimento económico, aumentando os preços da energia e distorcendo o investimento. E agora ameaçam uma guerra comercial que irá causar mais danos ainda. O novo proteccionismo climático não vai acabar bem.
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