Os bancos e as empresas que fazem promessas de emissões “net-zero” estão a enganar o público, de acordo com um novo relatório das Nações Unidas divulgado na conferência sobre alterações climáticas COP27 da semana passada. “Devemos ter tolerância zero para a lavagem verde net-zero”, disse o Secretário-Geral das Nações Unidas António Guterres, em referência ao conceito de sinalizar uma agenda verde para fins de marketing sem apoiar na prática políticas ambientais efectivas.

Mas então as companhias aéreas que perguntam aos clientes se querem doar dinheiro extra quando compram um bilhete de avião para compensar a pegada de carbono do seu voo não estão tecnicamente a conseguir muito mais do que fazer os insuportavelmente hipócritas sentirem-se bem consigo próprios? E as grandes corporações que utilizam as energias renováveis como fachada cosmética continuam, no entanto, a investir em combustíveis fósseis? A sério? Caso os idealistas não tenham reparado, existe actualmente uma crise de energia no Ocidente devido às sanções sobre os combustíveis provenientes da Rússia – e as energias renováveis não estão nem de perto prontas para colmatar a escassez.

Os alemães estão a virar-se para o carvão e para a lenha, enquanto a França está a tentar aumentar a produção de energia nuclear. A UE até recuou no início do ano ao rotular o gás e a electricidade produzida em centrais nucleares como “verdes” – conveniência que agora  permite aos seus líderes correr para os países pária que produzem combustíveis fósseis para obterem a energia de que desesperadamente necessitam. Pudera.

A ONU diz que mais financiamento em renováveis e “fundos climáticos”, no valor de até 340 mil milhões de dólares por ano até 2030, é a chave. Tudo o que seja menos que esse valor astronómico é aparentemente inútil. A noção de que um financiamento maciço é necessário para evitar que a temperatura da Terra aumente 1,5C é uma venda difícil, particularmente na ausência de qualquer explicação lógica de como o dinheiro será utilizado de forma credível para ajustar realisticamente o termóstato, pelo que os funcionários parecem agora estar a tentar um novo argumento comercial, já que segundo o insuportável e irrelevante Guterres,

“Temos que proteger as pessoas e as comunidades dos riscos imediatos e sempre crescentes da emergência climática. Não temos tempo a perder.”

De forma a fundamentar o alarmismo e justificar o financiamento, a ONU cita eventos como inundações e secas, como se secas e inundações fossem um problema novo na Terra.

A lavagem verde é apenas mais uma forma de enganar os ingénuos. E ninguém o faz melhor do que os próprios governos, que têm conseguido roubar aos contribuintes inúmeros milhares de milhões sob o pretexto de “salvar o planeta”.

Um recente exemplo de “lavagem verde” é-nos oferecido pela Casa Branca, que está a proteger os interesses económicos dos EUA, em detrimento dos aliados europeus, em nome das alterações climáticas, enquanto aumentam as exportações de combustíveis fósseis para a UE. A Lei de Redução da Inflação de Biden é convenientemente enquadrada como uma iniciativa de energia verde, oferecendo aos consumidores americanos incentivos fiscais para comprar automóveis eléctricos americanos com baterias que tenham pelo menos 40% de componentes dos EUA ou de um país com o qual a federação tenha comércio livre. A Alemanha e a França encaram as medidas como proteccionismo flagrante. A este propósito o Ministro da Economia francês Bruno Le Maire declarou que:

“Temos de reagir rapidamente. Apelo a uma resposta unida, forte e coordenada da UE junto dos nossos aliados americanos. Existe o risco de um grande choque para a indústria francesa e europeia. Ou estes assuntos são resolvidos, e esperamos que o sejam, ou teremos que considerar medidas de retaliação.”

O seu congénere alemão, Christian Lindner, acrescentou:

“Não me foi assegurado que o lado americano tenha compreendido completamente quão grandes são as nossas preocupações acerca das consequências destas políticas.”

O Japão e a Coreia do Sul estão também a protestar contra a nova medida, exigindo igualdade de tratamento para os seus produtos. Era apenas uma questão de tempo até que um governo ocidental usasse um pretexto ambiental para servir os seus próprios interesses.

Sugerindo que o esquema proteccionista de “lavagem verde” é algo que a UE deveria também adoptar, Macron disse o mês passado à Les Echos que

“Os americanos estão a comprar americano e a seguir uma estratégia muito agressiva de ajuda estatal. Os chineses estão a fechar o seu mercado. Não podemos ser a única área, a mais virtuosa em termos de protecção climática, que não salvaguarda os seus interesses.”

Macron chegou mesmo a lavar a sua raiva com o detergente verde, na conferência Cop27, clamando que os EUA e a China devem pagar pela sua quota-parte de responsabilidade nas alterações climáticas.

Haverá algum limite para a “lavagem verde”? Aparentemente não. O Presidente ucraniano Vladimir Zelensky declarou aos conferencistas, numa mensagem gravada, que “não pode haver uma política climática eficaz sem paz”. Portanto, a guerra na Ucrânia impede a “salvação do planeta”. E uma vez que Zelensky considera que a paz só pode ser conquistada através infindáveis quantidades de dinheiro e de armas, eis a lavagem verde no seu expoente máximo de hipocrisia, cinismo, desvergonha e volição oportunista.