A propósito da forma, respeitosa e reverente, como os ingleses reagiram à morte da Rainha Isabel II, e à massiva participação dos súbditos de Sua Majestade nas cerimónias fúnebres, Neil Oliver levanta a eterna questão das maiorias silenciosas. Sendo silenciosas, são irrelevantes? Analisando os conteúdos das redes sociais e da imprensa, concluímos que sim. Mas se esgravatarmos para além da superfície e formos à procura do trânsito histórico, percebemos que não. Percebemos que as maiorias silenciosas, quando levadas ao limite da sua tolerância e bonomia, quando ameaçadas na sua estabilidade e subsistência, quando espoliadas das suas referências morais e ontológicas, quando empobrecidas por razões enigmáticas e humilhadas sem justificação plausível, quando já não têm mais que perder, transformam-se rapidamente em motores das grandes movimentações políticas, sociais e económicas do percurso civilizacional.
No caso britânico, é evidente para Neil Oliver e para quem não está completamente hipnotizado pelos media, que os ingleses estimam mais o seu passado do que o futuro que os elitistas alienados de Westminster e os falsos profetas de Davos teimam em impor-lhes. Há no Reino Unido, e um pouco por todo o Ocidente, uma maioria silenciosa que deseja mais um regresso aos valores em que foi educada do que um avanço para o globalismo totalitário em que está a ser doutrinada.
Isabel era o símbolo dessa monarquia constitucional que, mesmo na decadência da sua grandiosidade imperial, garantia o delicado equilíbrio entre as liberdades individuais e o bem comum, assegurava a igualdade perante a lei e a promessa de prosperidade, alimentada factualmente pelos ascendentes trajectos geracionais. Os ingleses podiam contar com uma civilização que assentava no progresso tecnológico, mas que respeitava o costume, a tradição e a sua inalienável identidade, que cimentava a união nacional.
Os britânicos amavam esse país, de que a rainha era o logótipo vivo. Mas se esse reino vai a enterrar com ela ou permanecerá por mais algumas gerações, só deles depende. O Reino Unido de hoje é uma nação à deriva, que está a ser arrastada por forças poderosas, com o resto do Ocidente, para um destino de irrelevância, miséria e tirania. Como tantas outras vezes na história da Europa, e principalmente desde que o Rei João Sem-Terra foi obrigado a assinar a Magna Carta, em 1215, a Inglaterra pode ser protagonista de um movimento que proteja os povos – e as nações – do despotismo dos seus líderes. O poder pode voltar a pertencer a quem legitimamente o detém, em democracia: os cidadãos. Mas para isso, as maiorias silenciosas vão ter que fazer ruído, vão ter que acordar e lutar. Veremos se são os ingleses capazes de oferecer à Europa, mais uma vez, esse exemplo de coragem e dignidade.
Relacionados
1 Abr 25
O império contra-ataca.
A grande purga totalitária em curso na Europa não é, ao contrário do que possa parecer, uma demonstração de força pela elite liberal-globalista: é antes prova da sua fraqueza. A primeira e muito aguardada crónica de Rafael Pinto Borges no ContraCultura.
1 Abr 25
A sociedade do alívio imediato.
O homem contemporâneo não quer pensar demais, ou sofrer incómodos, e a cultura dominante impele-o a "virar a página", antes mesmo de compreender o que estava escrito. Mas a verdadeira grandeza de espírito nasce do inconformismo e do desconforto. Uma crónica de Walter Biancardine.
31 Mar 25
São do aparelho. Defendem o aparelho. Até às últimas consequências.
Da mesma forma que não foi por autismo ou desvio subjectivo, mas por fanatismo militante, que trabalharam arduamente os propagandistas das tiranias do século XX, também os propagandistas de agora não laboram inconscientes do seu pecado.
25 Mar 25
Os tiranos da Covid não são vítimas. São criminosos.
Os “peritos” da Covid não foram vítimas do vírus. Escolheram a tirania não científica dos confinamentos, dos mandatos de vacinação e das regras mesquinhas e ineficazes, mas não tinham que o fazer. São criminosos e é assim que devem ser tratados. Uma crónica de Afonso Belisário.
20 Mar 25
Trump libera documentos secretos do caso JFK.
Não sejamos ingénuos ao ponto de esperarmos tirar revelações contundentes dos arquivos confidenciais, divulgados por ordem de Donald Trump, já que estiveram nas mãos do “deep state” norte-americano por mais de 60 anos. Uma crónica de Walter Biancardine.
19 Mar 25
Never Trump: uma bolha de nariz empinado.
Depois de ter lido "Tha Case for Trump", do professor Victor Davis Hanson, Lourenço Ribeiro escreve sobre essa tribo elitista de ditos conservadores norte-americanos que conseguem odiar mais Donald Trump do que os próprios democratas, se possível.