Ao entender a história da guerra e dos homens, revela-se também a trajetória de Joseph Stalin, que inicialmente manifestava uma tendência democrática moderada, mas que, sob a influência de Vladimir Lenin, transformou-se em um dos ditadores mais temidos da história soviética. Este é o foco do estudo profundo realizado pelo historiador Oleg Khlevniuk em sua obra “Stalin: Nova biografia de um ditador” (Amarilys, 2017), que explora como as manipulações políticas de Lênin foram decisivas nessa metamorfose.
Inicialmente, Stalin era um defensor dos processos democráticos, apoiando a Revolução de Fevereiro de 1917 e participando ativamente na política moderada promovida pelo jornal bolchevique ‘Pravda’. Sua colaboração com Lev Kamenev refletia uma abordagem que propunha uma transição política menos abrupta, alinhada com as etapas históricas consideradas necessárias para o desenvolvimento social.
No entanto, a chegada de Lenin do exílio e sua insatisfação com as políticas moderadas de seus companheiros bolcheviques marcaram um ponto de inflexão. Lenin, utilizando uma estratégia que misturava conciliação com uma linha dura intransigente, começou a mudar a direção do pensamento e da ação de Stalin. Este foi recrutado ao lado mais radical de Lenin, que promovia uma revolução mais profunda para instaurar o socialismo.
Khlevniuk destaca que, embora inicialmente resistente, Stalin foi gradualmente convencido pela influência e determinação de Lenin. Em 1917, abandonando suas inclinações moderadas, engajou-se plenamente no curso radical proposto por Lenin. Este caminho não apenas culminou na Revolução de Outubro, mas continuou a ressoar nas décadas subsequentes, com Stalin adotando uma política de radicalismo desenfreado durante sua própria revolução na década de 1920.
As consequências dessa transformação foram profundas. O radicalismo implantado por Lenin não se limitou a mudanças políticas e econômicas extremas; ele introduziu uma era de repressão massiva e extrema crueldade que seria expandida ainda mais sob o regime de Stalin. Massacres, expurgos e uma política agrária desastrosa provocaram a morte de milhões, uma “herança” perversa de Lenin para Stalin, evidenciando a nocividade do comunismo quando ideias radicais se transformam em práticas autoritárias.
Este estudo histórico demonstra como o comunismo, apesar de suas promessas iniciais de reforma e justiça social, muitas vezes se desvia para o autoritarismo, reprimindo violentamente qualquer forma de dissidência e comprometendo gravemente os direitos humanos e a liberdade. A experiência soviética, especialmente através da interação de Lenin e Stalin, serve como uma advertência crucial dos riscos associados aos regimes comunistas, onde a transição de moderada para extremamente radical pode resultar em um governo implacável e destrutivo.
É essencial, portanto, que os estudos contemporâneos sobre o comunismo e seus líderes levem em conta as diversas facetas dessas figuras históricas, que se moldam e remoldam sob as pressões de ideologias intensamente polarizadoras, concluindo que a história de homens como Stalin não é apenas sobre poder ou política, mas sobre as sombras longas e às vezes sinistras, que tais ideologias podem lançar sobre o mundo.
MARCOS PAULO CANDELORO
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Marcos Paulo Candeloro é graduado em História (USP – Brasil), pós-graduado em Ciências Políticas (Columbia University – EUA) e especialista em Gestão Pública Inovativa (UFSCAR – Brasil). Aluno do professor Olavo de Carvalho desde 2011. É professor, jornalista e analista político. Escreve em português do Brasil.
As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.
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