Candace Owens e o The Daily Wire (DW) separaram-se depois de meses de tensão com o co-fundador da plataforma mediática, Ben Shapiro, por causa da guerra entre Israel e o Hamas.

O director executivo da companhia, Jeremy Boreing, escreveu no X na sexta-feira de manhã:

“O Daily Wire e Candace Owens puseram fim à sua relação”.

 

 

 

Owens, de 34 anos, reagiu à notícia dizendo:

“Os rumores são verdadeiros – estou finalmente livre”.

 

 

Candance prometeu “muitas novidades nas próximas semanas”, dizendo que vai trazer de volta o seu programa no YouTube.

O anúncio surge após semanas de escândalos em torno da personalidade conservadora. Como o Contra documentou na altura, o fundador do Daily Wire, Ben Shapiro, criticou publicamente Candace Owens pela sua recusa em apoiar o governo israelita na guerra contra o Hamas. Owens declarou que gostaria que os Estados Unidos não se envolvessem no conflito e que está preocupada com a desumanidade revelada pelos dois lados do conflito, afirmando:

“A falta de humanidade que tenho visto de ambos os lados tem sido muito preocupante”.

Esta posição, que o ContraCultura subscreve, suscitou a ira de Shapiro e vem juntar-se ao facto de Owens ter questionado universidades que tomam medidas contra estudantes palestinianos por manifestarem a sua opinião anti-sionista. Candance referiu também no seu programa do Daily Wire que as pessoas se perguntam “porque é que os judeus são tão especiais” e argumentou que os gentios brancos tiveram de “suportar muito pior” quando o movimento “BLM desenfreado, afirmou que o homem branco é apenas capaz do mal, sendo assim activamente ensinado nas salas de aula” durante anos, sem qualquer acção de rejeição comparável.

Shapiro, que é um judeu ortodoxo e impenitente sionista, revelou, numa conferência em que participou em Novembro do ano passado, que considerava a posição de Owens “absolutamente vergonhosa”, acusando-a de uma “falsa sofisticação” que é “ridícula”, e acrescentando:

“Toda a gente pode ver as acções que ela está a tomar e as coisas que está a dizer, e eu considero-as desonrosas”.

 

 

Há já alguns anos que Ben Shapiro tem tomado posições – essas sim – vergonhosas sobre as grandes questões e eventos do nosso tempo: foi um militante activista das vacinas Covid durante quase todo o processo tenebroso da pandemia, qualificando de ignorantes e idiotas todos os que tinham dúvidas sobre a eficácia e a segurança da tecnologia mRNA, e só muito tardiamente reconheceu o erro monumental, talvez pressionado pela decepção do seu público (e correspondente quebra nas audiências), e pelo cepticismo dos seus colegiais na plataforma do DW. Também sobre a guerra na Ucrânia, a sua posição tem sido basicamente a mesma que o establishment de Washington e do complexo industrial e militar americano, do qual parece ser um fã incondicional.

Depois do ataque terrorista do Hamas a Israel, a 7 de Outubro, o discurso de Ben Shapiro oscilou entre a ameaça nuclear, a propaganda grosseira e a apologia do genocídio:

 

 

A influência da posição radical do comentador sionista tem-se revelado, infelizmente, endémica, ao ponto de até Jordan Peterson, o professor de Toronto cujo prestígio e acuidade intelectual está em queda livre desde que foi contratado pelo Daily Wire, ter publicado isto no X:

 

 

Neste contexto de radicalismo sionista do DW, a dissidência de Candice Owens não podia durar muito, até porque entretanto a polemista envolveu-se em acesos debates online com vários membros da comunidade judaica que, segundo ela, estão a persegui-la por ser cristã.

Uma fonte próxima da jornalista disse a na sexta-feira:

“A Candace vai falar em breve… Qualquer pessoa que conheça Candace sabe que ela tem uma voz que não pode ser silenciada”.

Owens também reagiu na manhã de sexta-feira depois da sionista Liga Anti-Difamação ter emitido uma declaração que a considerava anti-semita.

“Estou grata por eles terem virado as suas armas de difamação para mim. O mundo já conhece o meu coração. Os seus ataques terão o efeito contrário ao desejado. Obrigada, ADL. O meu crime é que não acredito que os contribuintes americanos devam pagar as guerras de Israel ou as guerras de qualquer outro país. Não vou mudar de opinião. Portanto, a questão é: o que é que me vão fazer a seguir? O mundo está a ver”.

Candace é conhecida por não ter medo de expressar as suas opiniões publicamente, mesmo quando são explosivas ou meramente excêntricas. No início deste mês, foi criticada depois de ter apostado a sua carreira na teoria de que a primeira-dama francesa Brigitte Macron é na verdade um homem biológico, transexual. Owens sugeriu que Brigitte é a mesma pessoa que o seu irmão mais velho e afirmou:

“Qualquer jornalista ou publicação que tente rejeitar esta plausibilidade é imediatamente identificável como parte do establishment”.

A teoria da conspiração tem origem numa reportagem publicada pela revista Faits et Documents (Factos e Documentos), logo depois de Macron ter sido eleito.

A comentadora também tem estado envolvida numa guerra online com o popular rabi Shmuley Boteach, que acusou de ser “satânico”. Boteach tem-se oposto repetidamente a Owens por causa das suas afirmações alegadamente anti-semitas de que existe um lobi “sinistro” que controla Hollywood e Washington DC (se é sinistro ou não, depende da opinião de cada um, mas que existe de facto, é inegável). Owens afirmou que esses grupos podem estar por trás da morte de Michael Jackson.

O Daily Wire resistiu anteriormente aos apelos da comunidade judaica norte-americana para despedir Owens, alegando que ela estava a exercer a liberdade de expressão e que não tinha violado a lei ou os termos do seu contrato. Mas é difícil contrariar o poder de Ben Shapiro. Apesar do comentador não ter responsabilidades de direcção executiva na DW, será, informalmente, o verdadeiro patrão da empresa.

Seja como for, a conclusão a que chegou o processo de saída de Candice Owens do Daily Wire era mais que previsível já em Novembro de 2023. E reflecte bem as actuais divergência no seio da direita americana, entre populistas e neo-conservadores.

Glenn Greenwald disserta sobre o caso.