Os ataques contra os agricultores sul-africanos, predominantemente brancos, aumentaram 21% no terceiro trimestre de 2023, com 88 ocorrências registadas, numa média de quase um por dia.

Os números foram recolhidos pela Divisão de Segurança Comunitária do AfriForum, uma organização de direitos civis centrada na minoria branca de língua africâner, frequentemente designada por Boer. Abrangendo o período de Julho a Setembro, estes números contrastam com os 73 ataques a quintas entre Abril e Junho, embora os assassinatos durante os ataques a quintas tenham diminuído de 23 para 13.

Os agressores visam geralmente os idosos, sendo a idade média das vítimas superior a 60 anos.

Como o Contra já noticiou, a retórica contra os afrikaners e a minoria branca em geral na África do Sul intensificou-se nos últimos meses, com Julius Malema, do partido dos Combatentes da Liberdade Económica (EFF), a liderar cânticos de “disparar para matar… matar o bôer, o agricultor” em estádios lotados.

 

 

O governo sul-africano, liderado pelo Congresso Nacional Africano (ANC), também tem como alvo os agricultores brancos, pressionando-os a expropriar e redistribuir as suas terras sem compensação e obrigando-os a submeterem-se a regulamentos onerosos de “capacitação económica dos negros” ou a enfrentarem restrições à sua capacidade de exportar para o Reino Unido e a União Europeia.

 

Um estado falhado.

A imprensa corporativa recusa-se a reportar os factos, mas a utopia da nação arco-íris que se seguiria aos horrores do apartheid transformou-se rapidamente numa distopia subsariana e a África do Sul sonhada por Mandela e prometida pelo New York Times nunca chegou a ser.

O país está muito perto de o deixar de ser: corrupção generalizada, explosão e normalização da actividade criminosa, falência técnica das infraestruturas, instituições inoperantes, moeda desvalorizada até à irrelevância, regresso à lógica tribal. Uma definição de estado falhado.

No último ano, os sul africanos têm convivido todos os dias com cortes de electricidade que duram 4 a 6 horas.

Quando não se dedicam ao linchamento, por processos bárbaros como o “necklace”, de quem tiver a infelicidade de cair em desgraça pública, turbas populares incendeiam fábricas, perseguem e expropriam agricultores, destroem colheitas, entram por centros comerciais a dentro e roubam tudo o que lá existe, num exercício de banditismo que pode durar horas, mas que é realizado impunemente e sem aparente presença policial. Certas ondas de violência e vandalismo deste género varrem pequenas cidades, pilhando todos os bens e alimentos, sem que seja impedidas por qualquer iniciativa das autoridades. E isto numa fase já degradada do que consideramos civilização, na medida em que até os alimentos escasseiam, mesmo os essenciais, como leite e ovos.

A reacção à selvajaria das multidões também não indicia nada de bom: as milícias armadas estão em crescimento exponencial. A polícia não protege, o governo não governa, a justiça não procura, a lei é a da selva. Cada um defende-se como pode.

As grandes metrópoles, como Joanesburgo ou a Cidade do Cabo, são hoje cenários dantescos, que estão na lista das urbes mais perigosas do mundo.