Quando a única ferramenta é o martelo, tudo o resto é tratado como um prego. E quando a “ciência” é o martelo das elites, é fácil perceber que papel cabe à plebe.
A ciência já foi um campo multidisciplinar aberto à discussão, à contradição, às vicissitudes cognitivas da condição humana, à visão dialéctica que permitiu as suas glórias e conquistas. Hoje é um mero método de fascizar o discurso e o pensamento. Dizem-nos, por exemplo, que a ciência climática está fechada, quando, por definição, nenhuma ciência pode ser fechada. Dizem-nos que o apocalipse é uma previsão de acerto absoluto como se alguma projecção para o futuro alguma vez feita pelo homem fosse absolutamente assertiva. Mas tudo o que nos nossos dias é dito e escrito a propósito do clima tem a solidez ilusória do dogma.
Como vimos na pandemia, a “ciência” é a verdade mesmo que seja mentira. Distanciamentos sociais, máscaras, confinamentos e vacinas foram vendidas como medidas científicas, logo de validade indiscutível. O martelo pregou tudo à tábua do autoritarismo, sacrificando a economia do Ocidente e as suas pequenas e médias empresas, os contratos sociais e os valores constitucionais, a saúde psicológica do colectivo e a liberdade individual. Qualquer dissidência foi martelada pela censura das plataformas de comunicação social e pelo desdém das elites, e tudo em nome da ciência, essa religião esmagadora de irregularidades. Os resultados desse brutal esforço “científico” estão hoje à vista.
Neste sentido, a guerra na Ucrânia também é científica, porque decorre de certezas da ciência política e da geo-estratégia que não podem ser discutidas, como por exemplo: há que combater Vladimir Putin – e proteger Volodymyr Zelensky – para salvar a democracia. Já para não falar do dúbio conceito de democracia que vive no cerebelo deficitário de personagens como Joe Biden, Justin Trudeau, Rishi Sunak ou Emmanuel Macron, o que se passa na Ucrânia não tem nada a ver com o resgate de valores constitucionais que salvaguardam a dignidade humana, a livre expressão e o direito à representação. Tem tudo a ver com fazer dinheiro. E para fazer dinheiro nesta escala, há que usar a marreta que tão bem tem servido à prossecução de outros objectivos totalitários, claro. E essa marreta sacrifica, sem pudor nem reticências, gerações de ucranianos que se estão a perder numa frente de batalha dantesca, que só tem paralelo em baixas e horrores com a II Grande Guerra.
Mas voltando à ciência climática: a Primavera e o Verão são agora as estações de frenético esmagamento de pregos. Os mapas do boletim meteorológico, preenchidos a vermelho por toda a geografia, são máquinas de compressão que debitam quantidades compactadas de medo. A Europa arde todos os dias (faz calor nas ilhas britânicas!), a América entra em combustão (18 graus no Canadá!), os polos derretem na frigideira da imaginação, enquanto os oceanos fervem e evaporam ou, ao contrário mas sem contradição, vertem para fora dos seus limites. Recordes sobre recordes são batidos enquanto o mundo é carbonizado dia sim, dia não. E tudo isto é científico, indiscutível e alvo de repetição incessante, como a pancada certeira do martelo pneumático.
Graças ao constante e ensandecido esforço da imprensa corporativa e das academias bolcheviques, esquecemo-nos hoje dos alarmismos de ontem e cada momento mais quente, é sempre o mais quente de sempre. Não importa termos apenas registos térmicos desde o fim do século XIX. O calor que fez hoje é sempre recordista. Neil Oliver cumpre o seu papel de historiador e enumera anos longínquos em que as temperaturas batiam iguais recordes e que o medo do homem em relação às inconstâncias da natureza amplificava ameaças e inventava recordes na antiguidade clássica, na idade média e no iluminismo, com o mesmo fervor cego dos dias de hoje.
E quem é que paga o preço do medo? As massas, em impostos e escassez alimentar, em pobreza energética e desemprego, em redução do livre arbítrio e da capacidade de representação política. E quem colhe os seus frutos? Os Kerry e os Obama, os Gore e os Gates, que vão ficando mais ricos do que já são imensamente ricos, que voam de jactos privados para as cimeiras onde vão salvar o planeta e compram mansões à beira mar, aparentemente esquecidos da subida das águas oceânicas que anunciam incansavelmente há décadas.
O martelo da ciência serve para as massas, mas não para as elites. As elites não servem para pregos. As elites são proprietárias dos martelos e com certeza que não os vão usar contra as suas próprias cachimónias.
Estamos constantemente a ser agredidos com o uníssono da comunidade científica sobre o papel da actividade humana nas alterações climáticas. Mas Oliver cita um estudo que analisou os sumários de uma quantidade descomunal de papers sobre as alterações climáticas para chegar à conclusão que apenas 32,6% desses artigos responsabilizam a actividade humana pelo aquecimento global. Os autores que se abstiveram de emitir uma opinião sobre essa culpa foram rapidamente cooptados para a barricada do histerismo climático. E é assim que nasce o argumento de que noventa e tal por cento dos cientistas concordam com a narrativa dos poderes instituídos. Quando não há escrutínio, é fácil corromper os dados.
Como o Contra já documentou, um outro estudo de uma equipa chefiada por Kenneth Skrable da Universidade de Massachusetts e publicado pela Health Physics, efectuado com base em dados referentes a um espectro temporal que se estende entre 1750 e 2018, concluiu que o CO2 fóssil atmosférico de origem humana representou 23% do total das emissões libertadas, permanecendo os restantes 77% nos naturais processos de troca de CO2. A percentagem aumentou nesse iato temporal cerca de 12%, um valor demasiado baixo para ser a causa do alegado aquecimento global.
O dióxido de carbono constitui 0,04% da atmosfera terrestre. Na pior das hipóteses, os seres humanos produzem 3% desses 0,04%. Será que devemos aniquilar a civilização como a conhecemos porque liberta 3% do dióxido do carbono que em 0,04% constitui a atmosfera terrestre?
Neil Oliver contribui com uma tese interessante que tem sido discutida nos últimos anos por climatólogos dissidentes: a de que o aumento do dióxido de carbono resulta de uma subida das temperaturas na atmosfera e não o contrário. O fenómeno é semelhante a vermos uma carroça puxada por cavalos e acharmos que os cavalos estão a ser puxados pela carroça. Mais a mais, as consequências de um ligeiro aumento do CO2 na atmosfera traduzem-se não num deserto vermelho, mas numa horta verde – melhores condições de fertilidade para a actividade agrícola. Acontece que a fertilidade agrícola não é um objectivo das elites, que na verdade odeiam a espécie humana e não se importam nada de declarar publicamente a sua intenção de reduzir a população. E a fome é, obviamente, uma das mais eficientes formas de o fazer.
Dada a complexidade do estudo do clima à escala planetária, a lógica do martelo é completamente inapropriada. Precisamos de outro tipo de ferramentas. Precisamos da razão e da humildade, da vontade de saber em vez da vontade de mandar. E precisamos, nitidamente, de recusar a condição dos pregos.
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