Zelensky e o Pentágono reconhecem que a contraofensiva teve de ser “interrompida” devido às perdas em equipamento e baixas humanas no teatro de operações.

Até o New York Times teve que admitir que as perspectivas sobre a contraofensiva ucraniana são sombrias, reconhecendo que o Presidente Zelensky foi forçado a colocá-la em “pausa”.

O artigo, intitulado “After Suffering Heavy Losses, Ukrainians Paused To Rethink Strategy” (Depois de sofrer pesadas baixas, os ucranianos fizeram uma pausa para repensar a estratégia), procurava ainda assim dar uma imagem positiva da terrível situação de Kiev, porque há menos ucranianos a morrer agora do que há duas ou três semanas atrás:

“Parte dos melhoramentos deveram-se ao facto da Ucrânia ter mudado de táctica, concentrando-se mais em desgastar as forças russas com artilharia e mísseis de longo alcance do que em atacar os campos minados e o fogo inimigo.
Mas essas boas notícias ocultam algumas realidades sombrias. As perdas também abrandaram porque a própria contraofensiva abrandou – e até parou em alguns sítios – à medida que os soldados ucranianos lutam contra as formidáveis defesas russas. E, apesar das baixas, os ucranianos só tomaram até agora cinco das 60 milhas que esperam percorrer para chegar ao mar e dividir as forças russas.”

Isto depois de reconhecerem que só nas duas primeiras semanas da contraofensiva as forças ucranianas perderam cerca de 20% do armamento recentemente fornecido pelo Ocidente, incluindo tanques e veículos blindados. A muito apregoada ofensiva teve início em Maio, mas não se traduziu em ganhos significativos. O NYT claudicava de todo com a admissão do líder ucraniano:

“Esta semana, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, reconheceu que tinha havido uma breve pausa nas operações há algumas semanas, mas responsabilizou a falta de equipamento e munições e apelou aos aliados ocidentais para acelerarem o ritmo das entregas”.

O artigo sublinhava que o Pentágono reconheceu publicamente a “pausa”, enquanto aproveitava para reiterar a sua recentemente criada variação à narrativa oficial: a de que as coisas vão correr a partir de agora muito melhor, porque sim.

“Os funcionários americanos reconheceram a pausa e disseram que os ucranianos tinham recomeçado a movimentar-se, mas de forma mais deliberada, mais hábeis a navegar em campos minados e conscientes dos riscos de baixas”.

A confissão de que os “riscos de baixas” não teriam sido devidamente conscializados pelas lideranças políticas e militares ucranianas é por si só eloquente.

Deve ter sido por esse súbito elevar de consciência que Zelensky disse na sexta-feira à nação:

“Todos temos de compreender muito claramente, tão claramente quanto possível, que as forças russas nas nossas terras do sul e do leste estão a fazer tudo o que podem para deter os nossos soldados. E cada mil metros que avançamos, cada sucesso de cada brigada de combate merece a nossa gratidão”.

Mas já antes, o Presidente ucraniano tinha assumido que o ritmo do avanço era “mais lento do que o esperado”, queixando-se também de que não tinha armas ocidentais em escala adequada aos desafios que enfrentava. As queixas são aliás uma constante: na Cimeira da Nato da semana passada acusou a Aliança de assumir uma posição “fraca” e “absurda” em relação à adesão da Ucrânia. E está, desde o ínicio do conflito, a exigir constantemente do Ocidente todo o tipo de contribuições em dinheiro e bens.

O início da contraofensiva, há cerca de dois meses, foi acompanhado em júbilo triunfal pela claque fanática dos principais meios de comunicação social ocidentais, que garantiam céleres e homéricas conquistas. E mesmo antes disso, a maior parte dos relatos sobre a situação no campo de batalha foram fortemente distorcidos para se adequarem à narrativa pró-Kiev dos poderes instituídos no Ocidente – mas a realidade revelou-se muito mais complicada e, sobretudo, dolorosa para o povo ucraniano, que está a entregar a uma morte destituída de sentido duas gerações de homens.