A nova aplicação da Meta recolhe informações relacionadas com o ranking de crédito do utilizador, o seu histórico de compras, estado de saúde, filiação religiosa e orientação sexual, numa política que deixa os utilizadores com um índice de privacidade igual ou inferior a zero.

A aplicação que Mark Zuckerber criou para “assassinar” o Twitter já enfureceu muito boa gente depois que foi descoberto que a nova plataforma de “partilha de texto” pede aos utilizadores que entreguem ainda mais dados do que seu concorrente directo, incluindo informações financeiras e de saúde.

O repórter Michael Shellenberger alertou que a nova criação de Mark Zuckerberg tem “privacidade quase zero” e apelou para que o Congresso “feche” a Meta ou exija transparência como condição das protecções da Seção 230 de que a empresa beneficia, acrescentando:

“Mark Zuckerberg diz que não está a pensar monetizar a informação pessoal dos utilizadores do seu clone do Twitter, Threads, mas isso é mentira. O seu modelo de negócio é vender os nossos dados a anunciantes”.

Reflectindo sobre a controvérsia, Stephen Miller, consultor sénior do ex-presidente Donald Trump, publicou no twitter:

“Se deseja que o seu discurso seja censurado e que os seus dados sejam roubados, Mark Zuckerberg tem um aplicativo para si”.

O editor-chefe do Babylon Bee, Joel Berry, contribuiu para a controvérsia com ironia:

“A aplicação Threads de Zuckerberg parece interessante. Eles exploram o utilizador em busca de dados e provavelmente irão censurá-lo, mas a vantagem é que podemos ler as opiniões políticas dos influenciadores do Instagram”.

Greg Price, director de comunicações da State Freedom Caucus Network, expressou preocupação com o fato de Zuckerberg ter lançado o Threads usando dados do Instagram para competir com o Twitter, depois que se descobriu que a plataforma de partilha de fotos ajudou a facilitar a disseminação e a venda de conteúdos que consubstanciam o abuso sexual de infantes.

“Considere seriamente, por um segundo, como Elon Musk, ao reactivar contas banidas do antigo Twitter, criou controvérsia maior e muito mais discutida nos media do que o Instagram servindo realmente como uma rede para pedófilos encontrarem pornografia infantil”.

 

 

De acordo com a página “Dados vinculados” encontrada nos dispositivos Apple, as seguintes informações podem ser colectadas pelo Threads e vinculadas à dentidade do utilizador:

Localização: localização aproximada e localização precisa;

Informações pessoais: nome, e-mail, IDs de usuário, endereço, número de telefone, crenças políticas ou religiosas, orientação sexual e outras informações;

Finanças: informações de pagamento do utilizador, histórico de compras, pontuação de crédito e outras informações financeiras;

Informações sobre saúde e condicionamento físico;

Mensagens: e-mails, SMS ou MMS, outras mensagens da aplicação;

Fotos e Vídeos;

Áudio: gravações de voz ou som, arquivos de música e outros arquivos de áudio;

Arquivos e documentos, eventos de calendário, contactos, histórico de navegação na web e dispositivos utilizados;

Actividade da aplicação: interacções, histórico de pesquisa, aplicações instaladas, outras acções e conteúdos gerados pelo utilizador;

Informações e desempenho da aplicação: logs de falhas, diagnósticos e outros dados de desempenho técnico.

 

 

O Twitter, em comparação, não pede aos utilizadores que forneçam dados de saúde e condicionamento físico, informações financeiras, informações confidenciais, crenças políticas ou religiosas e orientação sexual, entre outros dados pessoais.

O Threads foi lançado na noite de quarta-feira na Apple IOS App Store. Sete horas depois, Zuckerberg anunciou que o aplicativo já havia ultrapassado 10 milhões de subscrições.

A aplicação, descrita por alguns como um “assassino do Twitter”, funciona em sincronia com as credenciais de login dos utilizadores do Instagram. Uma vez ligado, o utilizador pode seguir aqueles com interesses em comum e contas que já acompanha no Instagram. Os utilizadores podem partilhar posts com um limite de 500 caracteres, links, fotos e vídeos.

Por enquanto, a Meta não pretende lançar a aplicação na Europa, onde as leis de privacidade e dados são muito mais rigorosas do que nos EUA. É improvável, mesmo que a Meta ambicione um lançamento mais amplo, que a aplicação, neste estágio de desenvolvimento e com esta arquitectura, passe pelos requisitos legais do velho continente.

De acordo com a legislação da UE, os dados de saúde exigem um padrão extremamente alto de consentimento explícito, o Regulamento Geral de Proteção de Dados, para serem processados. Além disso, a capacidade da aplicação de importar dados pessoais do Instagram cria uma dor de cabeça legal adicional, descrita por alguns jornalistas como um “pesadelo de privacidade”.

No início deste ano, a Meta foi multada em quase 377 milhões de euros por não fornecer um motivo legal válido para exibir anúncios comportamentais nas várias plataformas da empresa.

Mas, bem entendidos, os 377 milhões de euros vão corresponder àquilo que Zuckerberg gasta por ano em cosméticos que hidratem a sua pele de réptil.