A Europa é superada pelos drones e mísseis dos houthis, segundo mensagens que cairam no domínio público, trocadas entre funcionários do gabinete de Donald Trump. Os altos quadros da Casa Branca insistiram que os EUA eram a única nação capaz de derrotar o grupo rebelde iemenita apoiado pelo Irão.

Durante a troca de mensagens no Signal, JD Vance, o vice-presidente, Pete Hegseth, o secretário de Defesa, Mike Waltz, consultor de segurança nacional, e Stephen Miller, vice-chefe de gabinete da Casa Branca, debateram o bombardeamento de alvos no Iémen como parte da Operação Prosperity Guardian, alegando que apenas a América poderia reabrir as principais faixas de transporte marítimo no Mar Vermelho.

Os membros do gabinete também disseram que o presidente pediu que o Pentágono “determine os custos” associados aos ataques para que pudessem “cobrar” remunerações aos seus aliados europeus.

Waltz disse:

“As marinhas europeias não têm a capacidade de se defender contra os mísseis sofisticados, anti-navio, de cruzeiro e drones que os houthis estão a usar agora. Portanto, seja agora ou daqui a várias semanas, terão que ser os Estados Unidos a abrir essas rotas mercantis. De acordo com o pedido do presidente, estamos a trabalhar com o Departamento de Defesa e o Departamento de Estado para determinar como compilar os custos associados e cobrá-los aos europeus”.

Na quarta-feira, John Healey, secretário de defesa do Reino Unido, abordou as mensagens trocadas no Signal pela primeira vez, declarando que a Europa não pagaria aos EUA pelo acesso às rotas do Mar Vermelho, mas reconhecendo que os houthis têm armas sofisticadas que os transformaram numa ameaça significativa.

No início do dia, Rachel Reeves, a chanceler do tesouro britânico, prometeu 2,2 bilhões de libras em financiamento das forças militares britânicas, mas recusou também pagar aos EUA fosse o que fosse pelo ataque ao Iémen.

“Não, isto é dinheiro para os militares do Reino Unido. Isto é para fortalecer a nossa defesa, a nossa dissuasão, as nossas forças armadas e, nessa medida, permite-nos ser um aliado ainda melhor e mais próximo de segurança e defesa dos EUA.”

Reeves acrescentou ainda que os houthis

“continuam a ser uma ameaça persistente à liberdade de navegação. Os EUA e o Reino Unido têm um compromisso total com essa liberdade internacional. É algo que estamos preparados para desafiar e defender, assim como os EUA.”

Os arsenais do grupo rebelde da península arábica consistem predominantemente em armas sofisticadas, como o veículo aéreo de ataque unidirecional Sammad e o míssil balístico ASIF anti-navio. No entanto, alguns especialistas em defesa contrariaram as afirmações dos altos quadros da administração Trump. Matthew Savill, director de ciências militares do Royal United Services Institute (RUSI), disse que referências comparativas entre os Houthis e a capacidade militar europeia eram um “ligeiro exagero”, já que, embora os houthis tenham uma variedade de drones, mísseis de cruzeiro anti-navio e mísseis balísticos fornecidos pelo Irão, ainda não superaram as capacidades de defesa da Europa, embora essas capacidades também não permitam um ataque definitivo às milícias houthis.

“Há uma distinção entre os militares europeus poderem lidar com as armas houthis e poderem derrotar os houthis, uma milícia que possui mísseis balísticos anti-navio e que já os usou com sucesso”.

Em Abril de 2024, a tripulação do contratorpedeiro HMS Diamond usou o sistema de mísseis Sea Viper para abater um míssil disparado por houthis no Golfo de Aden. Antes disso, a fragata HMS Richmond repeliu com sucesso um ataque de drones houthi no Mar Vermelho e abateu dois drones usando mísseis Sea Ceptor.

Quanto à factura que a administração Trump quer passar à Europa pelos ataques militares que fez e fará no Iémen, se calhar seria mais apropriado que esses custos fossem cobrados a quem de facto encomendou os bombardeamentos: o governo de Benjamin Netanyahu.