No podcast do Juiz Napolitano publicado ontem, Scott Ritter perdeu completamente as estribeiras e vai ser complicado, a partir daqui, que a sua voz (por acaso extremamente assertiva) volte a ecoar nos corredores da Casa Branca.

Criticando a infeliz (para não dizer criminosa) decisão de Donald Trump em atacar os Houthi do Iémen, que só é justificada pela influência medonha e nefasta que os sionistas exercem sobre a actual administração, Scott chegou a chamar “idiota” e “estúpido” ao Presidente dos EUA, num momento de manifesta exaltação emocional.

Não é que ele não esteja coberto de razão, porque está, mas este tom anula-lha a influência que pode ter na tomada de decisões ao mais alto nível da administração do seu país, até porque é sabido que o podcast do Juiz Napolitano em particular, e as intervenções públicas do oficial dos Marines em geral, não passam despercebidos ao staff da Casa Branca.

 

 

Neste caso específico, aquilo que mais enervou o Scott – o tom da mensagem publicada pelo Presidente no Truth Social – não é sequer o que mais enerva em todo este triste processo e não valia a pena ter dito o que disse a esse propósito. Todos sabemos ou devemos saber que Donald Trump sofre de SIFA (Síndrome da Fanfarronice Egotista) e um dos sintomas da doença são os posts histriónicos nas redes sociais.

O que realmente enerva qualquer cristão é ficarmos a saber que ainda não vai ser desta que os Estados Unidos vão deixar de ter como passatempo nacional o rebentamento aleatório de seres humanos por esse mundo fora.

Tanto mais que para os EUA a passagem do Mar Vermelho nem é assim tão estratégica como isso, como muito bem documenta o sempre dissidente congressista Thomas Massie:

“O que os media não contam é que essa rota de transporte é usada principalmente para obter exportações da Ásia para a Europa. O seu valor económico para os Estados Unidos está principalmente na importação de petróleo do Médio Oriente, mas podemos produzir o nosso próprio petróleo. A maioria das importações dos EUA da Ásia vem pelo Pacífico.”

 

 

Se o regime Nethanyhau e o aparelho militar e industrial americano continuarem a dominar as decisões de política externa que se tomam na Sala Oval, o ataque do fim de semana passado a um dos países mais pobres do mundo servirá sem dúvida como pretexto para a abertura de uma frente de guerra com o Irão, porque é certo e sabido que os Houthi vão reagir contra forças militares ou civis americanas, sendo que a tribo islamita é financiada pelos aiatolás.

Mais a mais, e enquanto Israel já aproveitou o ruído para terminar o cessar-fogo e voltar a atacar a Faixa de Gaza, a conversa de bastidores em Washington neste momento parece ser a de um ataque às bases da indústria nuclear iraniana. Tucker Carlson comentou já essa eventualidade nestes termos:

“Vale a pena destacar que um ataque às instalações nucleares iranianas quase certamente resultará em milhares de mortes de americanos em bases por todo o Médio Oriente e custará aos Estados Unidos dezenas de biliões de dólares. O custo em futuros actos de terrorismo em solo americano pode ser ainda maior. Estas não são suposições. Estas são as próprias estimativas do Pentágono. Uma campanha de bombardeamentos contra o Irão desencadeará uma guerra, e será a guerra dos Estados Unidos. Não deixes que os propagandistas te mintam.”

 

 

E Massie já está a alertar a Casa Branca de que qualquer ataque ao Irão depende constitucionalmente da aprovação do Congresso.

 

 

Mas há que manter a máquina a funcionar, não é? E Massie também tem uma ideia muito concreta de como funcionam os seus rolamentos:

“Sobre a actividade dos EUA no Iémen: Eu disse recentemente para ficarmos atentos a um novo envolvimento militar para compensar a retirada na Ucrânia. O Complexo Industrial Militar exige cerca de 50 biliões de dólares por ano do nosso governo, acima e além do que é necessário para defender nosso próprio país.”

 

 

Deve ser assim difícil a Scott Ritter reconhecer que mesmo com um mandato eleitoral claramente pacifista, o seu país voltará inevitavelmente a mergulhar o mundo em guerra. E nesse contexto, percebemos a sua revolta.

Mas devia sofrê-la mais baixinho, para que a sua voz fale mais alto.

Até porque neste momento não há assim tanta a gente a dizer as verdades que ele diz.