A União Europeia (UE) surgiu como um projecto de integração econômica e política que prometia fortalecer o continente por meio da cooperação entre os Estados-membros. Contudo, ao longo das décadas, o que se viu foi a gradual erosão da soberania nacional em prol de um governo supranacional cada vez mais intervencionista. Esse fenômeno tem implicações profundas, e sobre isso faço minha análise, respeitando as tradições, soberania dos povos e a preservação da ordem social.

A UE fundamenta-se, basicamente, em uma demagógica ideia de suposta “unanimidade de valores e objetivos”, compartilhada entre seus membros. No entanto, essa visão faz questão de ignorar as profundas diferenças culturais, históricas e políticas que sempre caracterizaram os países europeus. Valendo-me de Edmund Burke, argumento que a verdadeira ordem política não pode ser imposta de cima para baixo, mas deve emergir organicamente das tradições e costumes dos povos. A imposição de normas uniformes pela burocracia de Bruxelas reflete claramente uma mentalidade iluminista abstrata, desconsiderando as raízes históricas das nações e oferece ampla margem para tecermos as mais variadas suspeitas sobre as verdadeiras intenções de tal instituição.

 

Globalismo e a burocracia supranacional

Qualquer pessoa de bom senso e não contaminada pelo vírus da grande mídia enxergaria os perigos de estruturas supranacionais, que diluem a identidade dos povos e reduzem a capacidade dos cidadãos de influenciarem suas próprias leis. Roger Scruton disse que a identidade nacional não é, nem jamais foi, um empecilho ao progresso, mas sim um fator essencial para o florescimento da liberdade e da ordem social. A UE, no entanto, parece governar através de uma burocracia que não responde diretamente ao eleitorado, é por ele desconhecida e quase inacessível e empenha-se no afã de seguir minando a democracia representativa.

Já a política de imigração imposta pela UE, sobretudo no que tange à massiva migração islâmica, é um dos exemplos mais claros de sua desconexão com a realidade das nações-membro e expõe nitidamente as sinistras intenções de extinguir o berço da civilização ocidental – algo como se a Europa fosse extinta pelos próprios europeus e, assim, jamais poderão reclamar.

A tentativa de impor uma tolerância forçada e a criminalização de quaisquer críticas a essa política – ou mesmo aos próprios imigrantes – representam uma ameaça direta à cultura e aos valores europeus. Nunca é demais advertir sobre o inevitável declínio das civilizações, quando estas perdem sua identidade e se tornam incapazes de defender seus próprios valores. A condescendência das autoridades europeias com comunidades que rejeitam os princípios ocidentais de liberdade e igualdade de direitos é um sinal alarmante desse declínio.

Além disso, tem-se observado um crescimento alarmante dos embates religiosos contra os cristãos – sempre os cristãos, em qualquer parte do mundo. Onde está Bergoglio? – promovidos tanto por imigrantes muçulmanos quanto pelas próprias autoridades locais, que buscam silenciar manifestações cristãs sob o pretexto de “neutralidade religiosa” ou “tolerância”. Ataques a igrejas, censura a símbolos cristãos e até restrições à liberdade de culto tornaram-se mais frequentes em diversos países europeus, evidenciando um duplo padrão que favorece minorias religiosas enquanto deslegitima a herança cristã do continente – na verdade, visa aboli-la.

 

A defesa da soberania

Qualquer mente conservadora sempre defenderá a soberania nacional como um pilar fundamental da ordem política. A prudência política exige a adaptação às circunstâncias concretas de cada sociedade, em vez da aplicação de princípios abstratos e universais, sendo que o federalismo forçado da UE ignora essa sabedoria, tratando todos os Estados-membros como peças intercambiáveis dentro de um esquema tecnocrático.

Diante dessa realidade, seria prova de juízo – quase uma “legítima defesa” – se os países europeus reconsiderassem sua relação com a UE, fortalecendo sua soberania e impondo uma total autonomia legislativa. A saída do Reino Unido (Brexit) demonstrou que é possível retomar o controle nacional sem comprometer a cooperação internacional, por mais estranhas e tortuosas que tenham sido as razões. O futuro da Europa não pode estar atrelado a uma elite burocrática comuno-globalista e ditatorial, que ignora as vozes das nações e impõe um modelo homogeneizante.

A lição que tiramos desse cenário é clara: a luta pela liberdade e pela identidade nacional é uma luta pela própria sobrevivência da cultura ocidental. A centralização supranacional da UE jamais foi um avanço, mas sim um perigoso retrocesso totalitarista, que compromete os fundamentos da ordem e da civilização europeia. Puro globalismo.

 

 

WALTER BIANCARDINE
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Walter Biancardine foi aluno de Olavo de Carvalho, é analista político, jornalista (Diário Cabofriense, Rede Lagos TV, Rádio Ondas Fm) e blogger; foi funcionário da OEA – Organização dos Estados Americanos.

As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.