Pouco importa o país ou continente o qual pertençamos, pois somos iguais em desgraça: fomos tangidos, adestrados, manipulados e enganados toda nossa vida, e tal processo se desenrola há algumas gerações, principalmente após a década de sessenta.
Um dos protagonistas de tal ação é Yuri Bezmenov (1939 – 1993), que se apresentou como um dissidente do serviço de inteligência da antiga União Soviética abandonando suas operações para buscar uma outra vida no ocidente, na década de 1970. Segundo ele, após fugir de seu posto na embaixada da Índia, conseguiu se mudar para o Canadá e adotou, por anos, o pseudônimo de Thomas Schuman para evitar retaliações. Posteriormente foi morar nos EUA, onde ensinou sobre as táticas de manipulação social que empregava a serviço da URSS, e resultando na base desta análise que entrego ao leitor.
Diferentemente do que se espera do trabalho de um espião, a função de Bezmenov não seria roubar informação, mas trabalhar para abalar estruturas sociais por meio da subversão e ataques às bases culturais dos países ocidentais, Europa inclusive.
O processo de subversão da sociedade do país alvo é necessário para manipular cultural e psicologicamente as massas, de forma a facilitar a implantação de regimes revolucionários. Este processo, descrito por ele, é dividido em quatro fases que são: “desmoralização”, “desestabilização”, “crise”, e “normalização”. Vamos à elas:
1. Desmoralização:
A primeira fase do plano de destruição da sociedade é chamada por Bezmenov de desmoralização.
O processo dura em torno de 15 a 20 anos aproximadamente, o suficiente para educar ao menos uma geração de crianças. O objetivo é influenciar as várias áreas nas quais a opinião pública e o imaginário coletivo são formados, para mudar o entendimento que o povo tem da própria realidade. Bezmenov destaca que a desmoralização é uma via de mão dupla, uma vez que só é possível subverter países abertos à entrada e propagação de discursos e ideologias contrários aos seus valores fundamentais. Isso significa que a maior parte desses processos precisa ser feito por movimentos de cidadãos do próprio país, que tenham crenças e práticas opostas à sociedade vigente.
Agentes estrangeiros, porém, teriam o papel de alimentar esses movimentos internos com propagandas, capacitação e outras formas.
* Ideias
No quesito “ideias” a religião é politizada, comercializada e descaracterizada, resultando no desapego a valores e princípios. Todos conhecemos o advento da “Teologia da Libertação”, a apresentação de Jesus Cristo como militante por uma causa e a tentativa de criar um sincretismo entre a vida do Filho de Deus e os ideais marxistas.
A comercialização da religião se dá, principalmente no Brasil, através das igrejas evangélicas, que implantaram uma espécie de “teologia da prosperidade”, transformando seus pastores em verdadeiros “coachs” e os cultos em mera palestra motivacional e de auto-ajuda – escrevi diversos artigos sobre este último aspecto.
Já a descaracterização se dá, principalmente, pela nociva tendência de implantar um “ecumenismo”, alegando que “todos os caminhos (religiões) levam a Deus” e pela exaltação velada de outras crenças. Desnecessário lembrar que um dos maiores promotores de tal apostasia é o agonizante Bergoglio, que ocupa-se momentaneamente com a função de Papa e é incansável na sua “tolerância” para com o islamismo avassalador, que toma conta da Europa.
Por outro lado a educação dos jovens, nas escolas e faculdades, se torna permissiva e inevitavelmente gramscista, provocando a atrofia da lógica, capacidade crítica e, consequentemente, uma retumbante ignorância.
Como parte do projeto a grande mídia é quase monopolizada – uma oligarquia – completamente manipulada, doutrinária e, por consequência, torna-se desacreditada. Nos tempos de Bezmenov ainda não existiam as redes sociais e a internet, portanto a desinformação almejada pelos socialistas daqueles tempos foi obtida.
Por último, na cultura, surgirão os “falsos heróis” e os novos – e decadentes – modelos morais (artistas do cinema, TV, cantores/as, ídolos dos esportes, etc.), desembocando na massificação dos mesmos e também, é claro, dos vícios – a esquerda sempre foi sócia do crime organizado, principalmente do tráfico de drogas.
* Estrutura
A Lei e a Ordem se mesclam com a Segurança Pública, como alvos do ataque socialista às estruturas. A imoralidade do Poder Legislativo, amplamente exibida – e sem maiores comentários – pela grande mídia o descredibiliza, enquanto a apologia ao crime e a difusão do relativismo moral (novamente propagados pela grande mídia, a eterna cúmplice) resultam na violência urbana, barbarização dos costumes e niilismo psicológico do povo.
A sociedade vê-se completamente confusa, espremida entre tantos e tão inúteis “direitos” – normalmente reservados, de maneira identitária, às minorias – e uma verdadeira cordilheira de deveres, tornando praticamente impossível a existência de uma pessoa ou de um empreendimento sem que os mesmos burlem – ao menos – um ou outro destes deveres gerando, assim, a irresponsabilidade.
Na política interna, a promoção deliberada de falsos ou irracionais antagonismos provoca a desunião de toda uma população, sempre desorientada sobre qual lado escolher – “dividir para reinar” – e o mesmo é facilmente observável na ascensão mundial da direita (que todos conhecem) conservadora (que quase ninguém sabe, realmente, o que é), e que hoje está dividida entre acusações mútuas de traição, denúncias de cripto-globalistas infiltrados e outras mixórdias de igual jaez.
*Vida
Na fase do ataque à vida, os socialistas – hoje vitoriosamente representados em sua nova roupagem de “comuno-globalistas” – visam especificamente a corrosão da família, da população e do trabalho.
Ao combaterem a família, a fragmentação do núcleo doméstico e a destruição do respeito inerentes à paternidade, maternidade e pelos irmãos, tais ataques resultarão na completa ausência de lealdade ao grupo, por parte dos jovens, bem como o incentivo à agressividade contestadora dos filhos contra os pais; afinal a psicologia bem explica (e se não esclarece, deveria fazê-lo) que os pais sempre serão os alvos prediletos dos filhos, já que os pequenos sabem que os mesmos são os únicos que sempre os amarão, protegerão e acolherão, sejam quais forem as circunstâncias, xingamentos ou insubordinações feitas ou proferidas.
Um outro aspecto visado no processo de desmoralização é o ataque via urbanização desenfreada, priorizando a demolição de prédios, construções e monumentos antigos, evocativos da história daquela coletividade, do país e até mesmo das diversas lembranças pessoais. A mecânica é simples, resumindo-se ao ato de arrancar as raízes e referências emocionais, sentimentais e psicológicas do povo, sempre justificando a destruição como “abertura de espaço para o que é moderno, prático e funcional” – pois tais adjetivos jamais se encaixarão em tal arquitetura brutalista, que impõe caixotes de concreto sem arte, sem vida e sem alma, a exibir a enorme força do Estado perante o pobre cidadão. E um povo alheio ao seu passado é incapaz de julgar o presente, ou os franceses jamais teriam aceitado a abortiva pirâmide defronte ao Museu do Louvre, símbolo inequívoco de morte no Antigo Egito. É uma megalomania tresloucada (na melhor das hipóteses) de François Mitterrand, amparado no projeto de um arquiteto – adivinhem – sino-americano, mas que foi plena e totalmente digerida pela desfibrada França atual.
Um outro ponto que, hoje em dia principalmente, merece especial atenção do projeto de subversão comuno-globalista de Bezmenov é o deslocamento – verdadeira invasão – migratório sobre terras alheias e, na maioria das vezes, sem relações significativas com os países originários das hordas peregrinas. O dissidente russo revelou a totalidade deste projeto de subversão ideológica socialista, cujos dolorosos efeitos hoje são sentidos por toda a Europa, em várias entrevistas e palestras a partir do final dos anos 1970 e início dos anos 1980 mas, ao que parece, ninguém o levou à sério. Não será, pois, agora que me demorarei sobre este tópico migratório, por demais comentado e, inclusive, alvo de tantos artigos meus, em passado recente.
2. Desestabilização:
Essa etapa objetiva criar tensões em todas as relações humanas, de modo que mesmo discussões banais levem a debates extremamente polarizados e radicais. Nessa fase, a vida em sociedade é levada a um alto nível de agressividade, em que as pessoas acabam por se tornarem incapazes de chegar a consensos e, mesmo, da simples convivência. A mídia (sempre ela) exerce o papel de retratar essas relações conflituosas dentro da narrativa de embate entre opressores e oprimidos, legitimando e normalizando (justificando) até mesmo atos de violência. É durante esta fase que os infiltrados passam a radicalizar os movimentos em que estão inseridos, aumentando os choques sociais em intensidade e volume. Ao fim do processo de desestabilização, espera-se uma sociedade a tal ponto dividida que o ódio, somente ele, seja a regra entre grupos antagônicos (dividir para reinar).
“Com a radicalização das relações humanas, não há mais compromisso, apenas luta, luta, e luta. As relações tradicionalmente aceitas são desestabilizadas; as relações entre professores e alunos, nas escolas e faculdades, se tornam conflituosas e no âmbito econômico, as relações entre trabalhadores e empregadores são ainda mais radicalizadas. Não há mais aceitação da legitimidade das demandas dos trabalhadores.”
Yuri Bezmenov
Bezmenov enfatizou que, a cada fase concluída, torna-se mais difícil reverter o processo de subversão e este é, talvez, o dado mais preocupante de todo este quadro.
A desestabilização tem como alvo os seguintes pontos: a mídia, a economia e a própria estrutura de poder. Senão vejamos:
* Mídia
A mesma é sempre cuidadosamente calibrada para enaltecer posições opostas às da sociedade. Para citar um caso ocorrido no Brasil, em meados da década de 70, bastou uma série de sucesso – Malu Mulher, protagonizada pela atriz Regina Duarte e que girava em torno de sua separação do marido – para que a Lei do Divórcio fosse aprovada no Congresso Nacional, atendendo às “exigências de uma nova sociedade, mais moderna e que valoriza o papel da mulher”. Para situar melhor o leitor, a mulher separada era vista, naqueles tempos, sob um pesado preconceito de “desquitada”, a ameaçar os maridos alheios e tida como “destruidora de lares”. Mas bastou uma simpática atriz protagonizar a série – contrária aos pontos de vista dominantes – para que tudo mudasse e o pensamento brasileiro se tornasse “mais moderno”.
* Economia
A radicalização dos processos de negociação entre patrões e empregados, intermediado por sindicatos plenamente infiltrados ideologicamente, resultou no claro e indissolúvel antagonismo entre ambos e nos constantes confrontos. Do mesmo modo, toda uma espiral inflacionária deliberada, seguida de uma sucessão de planos estabilizadores frustrados, perda do poder de compra e índices de desemprego estratosféricos destruíram a noção de rotina, de previsão orçamentária doméstica e o improviso – próprio dos guetos – passou a ser rotina, nos países mais atingidos.
* Estrutura do poder
O combate comuno-globalista à estrutura de poder está às nossas vistas, hoje em dia. Ele se manifesta através da criação (imposição demagógica) de órgãos artificiais à sociedade, tais como as famigeradas ONG’s, algumas fundações e institutos também, cujo único propósito é a erosão do poder estatal.
3. Fase decisiva: a crise
O processo de crise ocorre quando os órgãos de poder legítimos não conseguem mais comportar as tensões, o que leva a sociedade a recorrer às instituições paralelas (ONG’s, fundações e institutos), dominadas pelos infiltrados. Tais grupos, cada vez mais fortalecidos, começam a lutar para conseguir cada vez mais poder, contando com o respaldo dos desastres acumulativos anteriores, ao longo do tempo. Esta dinâmica acaba por criar verdadeiros Estados paralelos – a sociedade não funciona mais, produtivamente, o governo entra em colapso (ainda que não declarado), a população exige providências e, ainda que por caminhos não tão óbvios, uma estranha correlação se dá com o crime organizado nas favelas brasileiras, com a sociedade em estado caótico, buscando soluções capazes de trazer estabilidade e melhores condições, ainda que recorrendo a criminosos.
* Soluções
Sempre serão duas, e ambas inconvenientes: a primeira é a intervenção estrangeira, feita por potências ideologicamente gêmeas, efetuada de maneira formal e discreta – investimentos, geração de empregos e mesmo o velho “pão e circo” – ou de maneira mais drástica, via militar e justificada pelo caos precedente, acabando por elevar tais invasores – aos olhos do povo – ao status de “heróis libertadores”. Já a segunda será a solução doméstica, traduzida por uma guerra civil, movimentos separatistas e atos de terrorismo, cujos vencedores sempre – e ironicamente – serão os causadores de tais desastres.
4. Última fase: normalização
Talvez seja essa a mais sinistra e dolorosa de todas. O termo “normalização” foi criado pela propaganda soviética após o fim dos levantes populares na Tchecoslováquia, que ficaram conhecidos como Primavera de Praga, em 1968. Na ocasião, o Kremlin enviou batalhões de blindados para esmagar os revoltosos e por fim aos protestos, “normalizando” a situação.
Bezmenov explica que a ideia dessa etapa seria estabilizar o país por meio da força, uma vez que os líderes revolucionários já teriam alcançado o poder e agora precisam acabar com a revolução. Nessa fase, os artistas, militantes e outros que haviam sido úteis no decorrer do processo são mortos ou mandados para o ostracismo, para não causarem problemas para a nova classe dominante – e fica o aviso a muitos protagonistas do atual cenário mundial.
A ditadura socialista seria imposta ao fim desse processo, de modo que dificilmente o país conseguiria voltar a ser uma sociedade livre, sem uma intervenção estrangeira.
Como último e previdente aviso, Bezmenov conclui mencionando que, a cada etapa, o processo de restauração da sociedade torna-se mais difícil, reafirmando a necessidade de interromper a ação ainda no período de desmoralização.
Termino este artigo da mesma maneira que comecei, para que a chama da indignação se mantenha acesa em todos nós, e nos empurre a fazer algo mais além de permanecermos estáticos, sentados no sofá: pouco importa o país ou continente o qual pertençamos, pois somos iguais em desgraça. Todos nós fomos tangidos, adestrados, manipulados e enganados ao longo da vida, e tal processo se desenrola há algumas gerações, principalmente após a década de sessenta.
Pense sobre a União Europeia, as ditaduras da América do Sul, o escândalo da USAID, os papéis geopolíticos da Rússia e China, imigrantes muçulmanos, a igreja “ecumênica” e tantas coisas mais.
A consciência, ainda que tardia, sempre será bem vinda.
WALTER BIANCARDINE
___________
Walter Biancardine foi aluno de Olavo de Carvalho, é analista político, jornalista (Diário Cabofriense, Rede Lagos TV, Rádio Ondas Fm) e blogger; foi funcionário da OEA – Organização dos Estados Americanos.
As opiniões do autor não reflectem necessariamente a posição do ContraCultura.
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