De certa forma, Volodymyr Zelensky merece algum crédito. Ao contrário da maioria dos líderes ocidentais, ele sabe como defender os seus próprios interesses e os interesses da sua causa.

Não há melhor exemplo do que as suas declarações da semana passada, proferidas numa entrevista grotesca que concedeu a Piers Morgan, que é um declarado fã do seu regime e abdicou da profissão de jornalista para fazer parte da claque. Nesse simulacro de entrevista, Zelensky afirmou que se os Estados Unidos não puderem garantir ao seu país um caminho rápido para a adesão à NATO, então aceitará armamento nuclear como prémio de consolação.

Vale a pena parar para reflectir bem nestas palavras. Ambas as possibilidades são essencialmente equivalentes. Se a primeira acontecer, a Ucrânia junta-se oficialmente à anacrónica e falhada aliança anti-Rússia do Ocidente, circunstância que dá direito à instalação de armas nucleares na Ucrânia. Isso significa que a Rússia partilharia uma fronteira com um adversário apoiado pelos EUA e armado com mísseis nucleares, o que, compreensivelmente, o Kremlin considera inaceitável. O segundo cenário teria exactamente o mesmo resultado. A Ucrânia recebe armas nucleares e, na melhor das hipóteses, a sua guerra com a Rússia arrasta-se como tem acontecido há três anos. Na pior das hipóteses, sucede o armagedão.

Tudo isto é evitável. Zelensky pode fazer as exigências que quiser, mas o seu destino, em última análise, está nas mãos de Donald Trump. Tal como Israel, a Ucrânia está extremamente dependente do financiamento dos contribuintes americanos para continuar a guerra. A ameaça do presidente dos EUA de retirar o apoio financeiro e militar pode ser a única forma de conseguir uma mudança significativa que conduza à paz.

Mais: se Donald Trump quer fazer parte do processo de cessação das hostilidades, a sua única saída será mesmo essa – a de retirar todo o suporte a Kiev. Caso contrário, a guerra vai acabar apenas quando Vladimir Putin achar que os seus objectivos estão cumpridos. E sendo que dificilmente não o serão, a missão pode durar ainda mais um ou dois anos a cumprir e custará mais centenas de milhar de mortos, pelo menos, a russos e ucranianos, e a destruição total da Ucrânia.

Chegou a altura de dar ao líder ucraniano uma notícia definitiva: o jogo acabou. A nova prioridade dos Estados Unidos deve ser acabar com o derramamento de sangue na Europa de Leste, e não continuar a doutrina Biden de prolongar ao máximo a chacina, sabe-se lá em nome de que objectivos. Se para isso for necessário que Zelensky faça concessões, como permitir as eleições a que, mesmo em tempo de guerra, a sua constituição o obriga, ceder os territórios do Dombass e desistir de aderir à NATO ou de adquirir subitamente um arsenal nuclear, então que assim seja.

Até porque o Kremlin não aceitará qualquer compromisso de paz que não passe por estas premissas básicas.

É muito simples, na verdade. Está na altura de acabar com a violência, a morte e a destruição por uma causa perdida. E capitular.

 

Paulo Hasse Paixão
Publisher . ContraCultura