Onde é que acaba a lagoa
E começa o oceano?
O Flamingo sabe

 

Nas dunas
Estás noutro planeta –
Passa um turista

 

O Atlântico bate na praia
Como um pai violento
E embriagado

 

O Sol dista 150 milhões de quilómetros da Terra
Mas consegue fazer amor
Com a minha pele

 

Ruge e roga pragas
O oceano zangado –
Para quando a paz?

 

 

 

 

Até os meus cães sabem
Que esta terra
Não é deles

 

A paisagem pede versos
Mas eu estou a ficar
Sem tinta

 

No coração do Atlântico Norte
Nasceu a onda que agora rebenta
Nos meus tímpanos

 

Outubro e
Os flamingos rumam a sul –
Não são parvos nenhuns

 

Podes ser amado pelos deuses
Mas no café és maltratado
Como toda a gente

 

O haiku já está escrito –
Eu só procuro por ele
Entre as dunas

 

 

 

 

Durante a madrugada
Rolam tractores na praia –
O Atlântico faz mais barulho

 

Às vezes sinto a presença de Deus –
Mas é
Raro.

 

50 quilómetros de praia virgem
Sem 50 horas
De aviação

 

As ondas são simpáticas –
Para quem não vai
Ao banho

 

Há pessoas que gostam
De levar porrada –
Das ondas

 

 

 

 

A sós com a natureza
Borro-me
De medo

 

Insectos –
O mau feitio
Da Mãe Natureza

 

A rã coaxa, o grilo canta, o mar protesta –
O silêncio
Vence

 

O mundo podia cair em apocalipse
Que eu aqui
Nem dava por ela

 

Esqueci-me do casaco
Em Lisboa –
Nortada

 

 

 

 

Tremo e vibro e vou com a maré
Na Praia da Costa
De Santo André

 

 

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A Arte do Haiku: Introdução.
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