Por obra e graça de algumas cunhas e uns dinheiros por fora, o Contra teve a oportunidade de endereçar por correio electrónico uma pergunta ao Pai Natal. Depois de muito pensar sobre o assunto, optámos pelo mais proverbial dos inquéritos: Na medida em que passa a vida a satisfazer os desejos alheios, que deseja o santo homem para ele, neste Natal? A resposta não se fez esperar, e não deixa de ser surpreendente:
Os meus desejos e apetites não deviam ser da vossa conta, mas já que perguntam e como estou hoje especialmente bem disposto: Para este Natal quero despedir as renas e começar a deslocar-me num belo Mercedes, modelo SLS, de preferência. Quero que os miúdos parem de me escrever cartinhas idiotas – que eu não tenho nem tempo nem paciência para ler – a pedirem paz universal, felicidade eterna, pais mais competentes, políticos menos corruptos e coisas impossíveis deste género. E já agora, realmente desejo que os putos mimados e insolentes vão para o inferno e que os adolescentes mal criados e indolentes tenham o que merecem, por uma vez (e não, não me refiro a uma PlayStation 5).
Quero comboios eléctricos e pistas de automóveis à escala 1/36, discos de vinil e velhos amplificadores analógicos. Quero subbuteos, legos, timpo toys, action men, máquinas de flippers, simuladores de corridas e mesas de matraquilhos! Quero fatos Armani e sapatos de cinco mil euros. Quero viver num país onde o Verão dure 12 meses por ano. Quero ser estupidamente, imoralmente rico. Sim, quero jactos privados, treinadores pessoais, gurus dedicados, amantes exclusivas, serviços personalizados de todos os tipos. Quero jantares no Ritz, com lagostas grelhadas, caviar, champanhe para o resto da minha vida! Quero bilhetes VIP para a final da Liga dos Campeões! Quero uma mansão como a dos Obama, com 34 quartos, oito casas de banho e sala de cinema. Quero que os padeiros voltem a salgar o pão, quero pagar menos impostos e sair disparado da órbita terrestre num foguetão da SpaceX, rumo a nenhures à velocidade da luz, rebentando com as leis da física e o tecido do cosmos.
Quero ser livre de tarefas e nunca mais embrulhar uma prenda na vida! Quero deitar-me com belas mulheres, conquistar o mundo como Alexandre, conciliar a Mecânica Quântica com as equações de campo do velho Alberto. Quero ter uma certa conversa com um senhor chamado YHWH. Quero um outro emprego, uma outra vida, e um whisky duplo, envelhecido em casca de carvalho (ou duplo malte) de hora a hora.
Estão a ver? Teria sido muito melhor se não tivessem perguntado.
E assim sendo, o Contra aproveita para advertir os seus estimados leitores: Este Natal, tenham cuidado com aquilo que desejam.
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